O potencial do Blockchain aliado à UX

Ao planejar soluções digitais com essa tecnologia, as empresas devem pensar, primeiro, na experiência do consumidor.

O blockchain já é uma certeza. Além de ser a base das criptomoedas com uso já consolidado como o Bitcoin e o Ethereum, e estar em testes como solução para acelerar transferências entre instituições bancárias, essa tecnologia se firma como uma importante ferramenta capaz de diminuir custo operacional, trazer mais velocidade, transparência, segurança e maior eficiência para uma série de processos relacionados às transações financeiras e controle interno/externo às companhias e consumidores. E, ademais, ainda oferece bases para abrir novas oportunidades de negócios, como produtos e serviços digitais inovadores.

Por estas características, figura entre as megatendências para 2017 no The Gartner Hype Cycle for Emerging Technologies, que fornece uma apresentação gráfica e conceitual da maturidade, adoção e aplicação social das tecnologias emergentes anualmente. Segundo o instituto de pesquisa, o blockchain está entre as ferramentas que têm forte potencial de impactar o dia a dia das pessoas e empresas, e deve estar em pleno desenvolvimento em um prazo de 5 a 10 anos.

Como incorporar o blockchain ao negócio?

Esta visão do Gartner que respalda o blockchain como uma tecnologia na qual as empresas devem investir, também apresenta o outro lado da moeda: diante de tantas novas tecnologias e tanto por fazer para embarcar no novo ambiente de velocidade e agilidade do mercado digital, como saber se o blockchain deve ser uma prioridade para o negócio? Como avaliar se ele faz sentido em alguma solução digital que se precise implementar?

De fato, apesar das características que o fazem tão promissor, ele não se encaixa em todo e qualquer contexto de negócios. Então, para resolver esta questão é necessário olhar para um princípio básico do Design Thinking que rege o novo mercado digital: mapear o problema de negócio a ser resolvido. Para isso é fundamental saber quem é o consumidor e quais necessidades dele precisam ser atendidas. Com essa clareza, é hora de analisar se o blockchain faz sentido na implementação da solução digital.

Se a tecnologia resolve o problema e realmente faz sentido na estratégia de negócios da empresa, é hora de começar a realizar experiências e provas de conceito. Porém, a decisão relativa à tecnologia que deve ser utilizada é apenas um dos braços da solução. O outro, tão importante quanto o anterior, é o que refere-se à experiência do usuário (UX). E este é o grande salto que precisa ser dado para alcançar o pleno potencial do produto digital.

Com foco no problema, o processo de desenvolvimento do produto digital com blockchain deve considerar o valor e a experiência que se deseja entregar ao consumidor final. Depois, realizar testes e validar com usuários antes de partir para produção em escala. E, porque as necessidades dos consumidores mudam com muita velocidade, medir continuamente os resultados do produto no mercado para evoluir constantemente.

O diferencial competitivo está no UX

Quando coloca-se a experiência do usuário e a tecnologia no mesmo patamar de relevância no desenvolvimento de um produto digital, não há exagero. De nada adianta ter um produto eficiente do ponto de vista tecnológico, confiável, estável, transparente se o usuário não consegue utilizá-lo ou se, simplesmente, não atende às suas necessidades. Um bom exemplo está na forma como estão sendo criadas soluções para o consumidor final com outra tecnologia – a IoT (Internet das Coisas). Um report publicado pela Argus Insights sobre dispositivos xsmart homes aponta para uma grande frustração dos consumidores desse tipo de solução. A insatisfação, porém, não é com o funcionamento dos dispositivos instalados, e sim com as apps que os controlam, ou seja, com a experiência que é apresentada. Os clientes relataram dificuldades para utilizar o produto com interfaces complicadas, lentidão no streaming de vídeo e no carregamento de telas, além da morosidade das empresas em solucionar os problemas e lançar atualizações.

Ou seja, um produto que tem toda a base tecnológica bem desenvolvida, pode fracassar se não atender na performance e na usabilidade. Um claro exemplo da – incrivelmente comum –  subutilização das capacidades de uma boa solução pela falta de um trabalho de UX. Um grande desperdício de dinheiro e de potencial de mercado.

Soluções digitais com o blockchain podem correr o mesmo risco. Observa-se muitas empresas desenvolvendo soluções com o uso da tecnologia sem pensar na experiência que entregam na ponta, perdendo oportunidades de alcançar bons resultados de negócio. Trata-se de uma sistema complexo, com hashes criptográficas, terminologias inacessíveis ao usuário final e registro definitivo de informações, que impossibilita rollbacks. Logo, para desenvolver um produto que traga boa usabilidade, o UX design deve considerar essas complexidades para torná-las “legíveis” na interface, com consistência visual e linguagem simples e concisa.

Além disso, o blockchain oferece informações muito completas e detalhadas de uma mesma transação como data, hora e valores de todos os registros que são feitos. Interfaces complexas de sistemas bancários, por exemplo, precisam ser definitivamente repensadas caso blockchain seja aplicado nestes contextos. O usuário final não tem interesse em ver todos esses dados e códigos ou saber qual a tecnologia está por trás disso, ele quer apenas que funcione e atenda suas necessidades, ou seja, quer uma experiência sem “atrito”. Esse mar de dados, portanto, tem diferentes níveis de importância e de restrição de acesso para cada um dos participantes da transação. Novamente, cabe ao UX design encontrar a medida certa de informações para cada participante e, também, deixar claro que existem essas limitações.

“Eles [os usuários] realmente não entendem o que o blockchain faz em profundidade. Mas o que importa é a capacidade de chegarem à informação em que possam confiar” – Noi Sukaviriya, UX Lead for IBM Blockchain Solutions.

Blockchain abrindo novas oportunidades de negócio

Quando executada, considerando a experiência do usuário, uma solução com blockchain torna-se de fato um grande diferencial competitivo frente aos concorrentes e pode levar ao desenvolvimento de novos produtos e serviços com grandes resultados.

Um bom exemplo é o que já ocorre na Holanda. No país, devido à grande quantidade de ciclistas e do elevado percentual de furtos e roubos de bicicletas, existe a necessidade de fazer o registro delas para assegurar a propriedade. Atentas às necessidades desses consumidores, as seguradoras lançaram cadeados ligados ao blockchain que, por meio de dispositivos de IoT, enviam hora e local em que foram trancados e abertos. Assim, em caso de furto, a seguradora tem as informações de que os procedimentos de segurança definidos por contrato foram tomados. Além de agilizar o processo de liberação do valor ao segurado, esse dispositivo possibilita a redução do custo de operação e – consequentemente – das apólices, já que com os cadeados ocorrem menos sinistros. As seguradoras criaram uma nova oferta que entrega uma ótima experiência ao seu cliente com velocidade, qualidade e menor preço.

E, em tempos em que as empresas e os produtos sustentáveis ganham força por crescerem na preferência dos consumidores, outro excelente uso que se pode fazer do blockchain é de reforço na garantia de procedência em cadeias de produção que possam ter impacto ambiental. Na fabricação de móveis de madeira, por exemplo, o registro de informações relevantes sobre plantio das árvores em área de reflorestamento, corte, transporte, armazenamento e produção que já agilizam a operação, podem ser disponibilizados ao usuário final por um QR Code, endossando a transparência e idoneidade da fábrica.

A hora, então, é a de testar a tecnologia em suas múltiplas possibilidades e planejar os novos produtos digitais de acordo com os objetivos de negócio e o valor que se precisa entregar ao consumidor final. E não cometa o erro de criar a solução sem UX. Mas, como já dito anteriormente, o blockchain pode não ser a solução para todo tipo de problema, não é a bala de prata que atinge qualquer alvo. Ele é capaz de trazer valor competitivo? Então siga em frente e inove no seu mercado.

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