“Não é toda criança que tem a sorte de saber o que quer ser quando crescer, mas eu já sabia aos nove anos que seria escritor, quando escrevi o me primeiro livro de ficção. Mesmo que meu pai tenha jogado ele fora em uma de nossas mudanças”.
Com palavras ternas e a serenidade de quem acredita ser muito desgastante nascer para fazer uma coisa e não fazer, que o escritor italiano e velejador, Simone Perotti, iniciou sua fala no Seminário Internacional de Redes e Tecnologias para a Sustentabilidade, em Roma neste mês de novembro.
Ele é autor de diversos livros de sucesso na Itália, entre eles, “Adesso Basta”, em que relata como trocou em 2008 uma carreira promissora em Roma como consultor de comunicação e marketing, pela vida simples próximo ao mar na companhia do barco à vela e das palavras.
Após romper com o ambiente corporativo, Perotti passou cerca de sete anos produzindo obras literárias, participando de palestras, fabricando móveis, consertando as goteiras de sua e de outras casas e chegou a conduzir um programa na televisão italiana.
Entretanto, em 2014 iniciou uma de suas ações mais ambiciosas, envolvendo àquele que ele diz ter sido a primeira rede tecnológica do mundo, o Mar Mediterrâneo. “No mar que banha diversos países, antigamente todos sabiam sobre tudo, em uma interconexão entre línguas que se tornavam uma única linguagem da vida”, destaca.
Assim nascia o Progetto Mediterranea, com o objetivo de navegar uma rota (mais abaixo) durante cinco anos, de 2014 até 2019, para responder à perguntas quase que existenciais sobre o sentido do estágio atual da civilização.
Um mundo em que, segundo Perotti, o tempo corre e sempre esperamos ter algo para fazer apenas hoje. A paz interior que deveríamos sentir em cada momento nossas vidas, torna-se uma hora de yoga três vezes por semana ou trinta e cinco minutos de corrida. Os relacionamentos devastados no trabalho ou nas oportunidades sociais, que tornam-se apenas remotas, virtuais e distantes. Crises econômicas, valores, sustentabilidade e perspectivas. Que imagem emergiu dessa era? Ainda há espaço para sonhos, projetos, esperança, política, amor? São algumas das questões que o projeto quer esclarecer.
Perotti explica que o método de pesquisa é o mais mediterrâneo entre os inventados pelo homem: o diálogo socrático, o encontro. A ideia é visitar as costas de 29 países levando uma mensagem de paz, abrindo o barco para intelectuais, escritores, artistas, jornalistas, homens de cultura, para conhecer pessoas genéricas ou os mediterrânicas. “Questionar o que eles sabem, o que eles vêm de seus pontos de observação, discutir com eles, ouvi-los e entender. Vamos encontrar seus pensamentos, e através deles, conheceremos seus países, seus potenciais. Temos que ir ao Mediterrâneo para perguntar”, explica.
O projeto possui apoio de empresas públicas e privadas para se manter, além de universidades. No momento a embarcação Mediterranea está localizada em Trapani, na Sicília. Trata-se de um veleiro de 60 pés (20 metros) que acomoda confortavelmente 14 pessoas. A equipe formada por 49 pessoas se alterna de semana em a semana, com o mesmo objetivo de trocar experiências e adicionar conhecimento em suas bagagens para compartilhar ou para si, afinal, “Cada homem que está mudando a sua própria vida, está mudando o mundo”, nas palavras de Perotti.
É possível se juntar ao projeto
É possível se juntar ao Mediterranea participando durante alguns dias das atividades na embarcação ou como Amigo do Mediterrâneo, dependendo da disponibilidade de lugares e horários. Para embarcar, é preciso fazer um contato de pelo menos duas semanas antes para conhecer a tripulação.
Não há requisitos específicos para chegar a bordo, mas é preciso ter habilidades de adaptação (para convivência com pelo menos outras 12 pessoas), boa disponibilidade e um lindo sorriso interno.
A rota estimada do Mediterranea
Grécia, Turquia, Geórgia, Rússia, Ucrânia, Romênia, Grécia, Albânia, Montenegro, Bósnia e Herzegovina, Croácia, Eslovênia, Ístria, Bulgária, Turquia, Dodecaneso (Ilhas Gregas, Sudoeste e Sul da Turquia), Síria, Líbano, Israel, Palestina, Egito (Mar Vermelho), Jordânia (Aqaba), Chipre, Creta, Egito, Malta, Itália e Pelagie), Líbia, Tunísia, Argélia, Marrocos, Gibraltar, Portugal, Espanha, França, Mônaco, Córsega, Sardenha, Sicília, costa de Tirreno da Itália, do sul ao norte, Gênova (final da viagem, aproximadamente, 2019).
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“Cada homem que está mudando a sua própria vida, está mudando o mundo”
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