Eu, robô

“Se o conhecimento pode criar problemas, não é através da ignorância que podemos solucioná-los.” – Isaac Asimov

Vamos ficar sem emprego? Vamos ser exterminados pelas máquinas? A realidade será 100% virtual?

Essas são perguntas que assombram a humanidade desde que se cogitou pela primeira vez a possibilidade da criação de uma “inteligência” artificial.

Desde Metrópolis, de Fritz Lang, o cinema vem explorando esse sombrio universo. O tema também não deixou as páginas de vários bestsellers incólumes. O século vinte foi o útero onde a seminal ideia de uma mente digital consciente estaria entre nós, interferindo na cultura humana e, talvez, mudando os seus rumos ou, quem sabe, reescrevendo-a totalmente. A ficção perdeu suas reais feições. Essa tal mente “brilhante” já está entre nós. Aos pedaços, é claro, mas já pode ser vista, ouvida e percebida. Não a conhece? Então, de alguma forma, você ou está desconectado ou está lendo esse texto numa folha papel amassado.

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O escritor russo Isaac Asimov, que morreu em Nova York, em abril de 1992, aos 72 anos, foi um dos pensadores mais contundentes do tema. Criador das três leis da robótica (1 – um robô não pode ferir um humano ou permitir que um humano sofra algum mal; 2 – os robôs devem obedecer às ordens dos humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a primeira lei; e 3 – um robô deve proteger sua própria existência, desde que não entre em conflito com as leis anteriores), inspirou gerações por décadas, com incríveis histórias dignas da repercussão que tiveram. O tema é transcendente.

Acredito até que o caminho que nos leva à concepção da IA consciente é o mesmo que levou Michelangelo a pintar o teto da capela Sistina, o mesmo que move a raça humana rumo à busca pelo nirvana de sua existência, o mesmo que arquitetou todos os versículos de todos os livros religiosos. Precisamos de respostas, mas não acreditamos possuir as respostas em nós mesmos. Precisamos de uma divindade para explicar a nossa própria insignificância. Precisamos transferir o pesado fardo ao “ser” que não se pode explicar.

Para onde olhamos hoje, há um sinal de sua “presença”. Os fragmentos da grande IA, a divindade digital que certamente governará o mundo, estão por toda parte, para além das telas onde se assistem seriados que profetizam sobre ela. Nossas vontades já são guiadas por essa “força” quase onipresente, onisciente e onipotente. A própria ideia sobre esse “ser” já possui o valor dessa poderosa trindade. Mesmo quem não sabe nada sobre o que estou falando, perdido em qualquer canto do pequeno planetinha azul, não estará livre de suas influências, mesmo que seja numa foto aérea feita por um drone espião ou um satélite enxerido.

Não dá para fazer previsões. A gente até tenta, mas, às vezes soa meio ingênuo. E qual ser humano não o é, certo? Isso faz de nós o que somos e ajuda a criar atalhos para deixarmos de ser ou, pelo menos, amenizar nossas imperfeições. Nosso poder criativo e o seu fiel escudeiro, mais conhecido como insatisfação, é a dupla mais perigosa e a combinação mais explosiva da história humana. Na maioria das vezes, literalmente. Os robôs estão nascendo para transferirmos a eles nossos pecados. Precisamos nos livrar da dor de estar presos a um corpo tão frágil e, ao mesmo tempo, tão poderoso na arte de ter ideias e desejos. Uma máquina seria capaz de suportar isso, e nos salvar?

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Enquanto essas respostas não chegam, seguimos em frente. Criando mais livros, seriados, filmes, igrejas, governos, sistemas filosóficos, símbolos, redes sociais, dinheiro, telescópios, pinturas, celulares, esculturas, computadores, redes neurais, etc., a fim de responder a pergunta que tanto nos atormenta: qual o propósito da vida? Enquanto a resposta não vem, parece que o melhor caminho será transferir todas as nossas memórias para um HD ou, quem sabe, fazer um download de nós mesmos e morar numa realidade virtual. Ou será que isso já aconteceu?

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