Falcon Heavy, um sucesso de engenharia (e de pop culture)

Nos últimos dias, o mundo internético foi inundado por notícias sobre o lançamento da Falcon Heavy, da Space X, o foguete mais potente do mundo até o momento, com mais de 2,5 toneladas de empuxo e capacidade de 64 toneladas de carga.

Vale observar, entretanto, que, além das conquistas tecnológicas e financeiras, o evento foi midiaticamente planejado para carregar consigo uma série de simbolismos e apropriações meméticas, mostrando que as equipes de branding das empresas de Tony Stark Elon Musk entendem como construir referências orbitais ao fato em si e, com isso, permitir com que a comunidade online foque na abordagem que melhor lhe convir e valor tiver.

O lançamento tem como objetivo testar os procedimentos e tecnologia para transporte de carga à Marte precedendo uma missão tripulada. Antes, porém, de se colocar equipamentos e dispositivos, os testes são realizados com lastro (por exemplo, containers com água, como no projeto Saturno).

Para aqueles inspirados pela história da tecnologia espacial, vale contar que o lançamento do Falcon Heavy foi feito da histórica plataforma 39A, mesmo ponto de partida dos foguetes Saturn, abrindo caminho para as missões Apollo, que tiveram como resultado a chegada do homem na Lua, além das missões dos ônibus espaciais – o primeiro veículo espacial tripulado reutilizável. Agora busca-se levar o primeiro ser humano à Marte usando dispositivos de lançamento reutilizáveis.

Os Easter-eggs da Falcon Heavy

Pop culture é uma consciência coletiva a respeito de um significado; é a piada interna, aquele conteúdo que faz alguém sentir-se parte de uma comunidade, é a sensação de segurança psicológica ao encontrar um elemento cuja existência já lhe é familiar.

Pop culture na comunicação é como uma piada: se você explicar, perde o sentido. Não se deve utilizar de elementos da pop culture na comunicação publicitária dizendo “Oi pessoal, estão vendo que incluímos esse meme?”. Por isto, o uso da pop culture se assemelha aos easter-eggs (tomando a explicação simples e direta da Wiki: “um segredo de caráter humorístico escondido em qualquer tipo de sistema virtual, incluindo músicas, filmes, websites, jogos eletrônicos, etc.“).

Para empresas, não está apenas em criar algo inusitado, mas agregar um forte componente viral e prover combustível para que a comunidade online faça o que faz de melhor: desconstruir, resignificar e, assim, transformar um fato em pop culture. Sim, mandar um boneco com traje espacial dentro de um carro “pendurado” em um foguete não é só ‘zueira hue’.

tesla2

E o pessoal de Comunicação do Musk fez algumas coisas bem interessantes. A começar pelo nome do foguete – Falcon Heavy – em referência à icônica Millenium Falcon (fato confirmado pelo fundador da empresa).

Além da inusitada carga – o novo modelo Tesla X 2018, que leva em seu painel uma miniatura HotWheels do próprio veículo e seu ocupante -, câmeras estrategicamente posicionadas permitem com que as imagens sejam propositadamente desconstruídas e transformadas pelos remixers da internet:

Acrescente a isso chamar o piloto de Starman, apropriando-se da famosa musica de David Bowie (There’s a Starman waiting in the sky. He’d like to come and meet us) e a declaração de que o rádio do carro estaria tocando “Space Oddity” (também de Bowie), caso o som se propagasse no vácuo do espaço.

Aqui o momento em que Starman é lançado ao espaço:

Para tranquilizar Starman, nada melhor que inserir no painel do veículo a motivacional mensagem do Mochileiro das Galáxias:

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Não assistimos “apenas” ao lançamento de um foguete tecnologicamente inovador, vimos um conteúdo midiático sendo concebido por seus criadores e tomando forma em múltiplas derivações no ambiente online, vimos um roteiro não linear de conteúdos com alto potencial viral para múltiplos grupos culturais transcender o meio original, indo além do fato e, mais do que isso, se transformando, por si, no conteúdo a ser conversado nas redes digitais. A construção da “sala dos fundos” de um acontecimento, alimentando a ávida audiência digital de mais coisas sobre o que falar.

É o código A113 e o caminhão da Pizza Planet nos filmes da Pixar, o R2D2 escondido em uma cena de Indiana Jones, o Twin Lone Palm Mall em De Volta para o Futuro. Com o perdão do trocadilho, é o conteúdo que orbita o fato principal e que permite as derivações no meio digital, ou, a comunicação nos tempos dos hyperlinks.

Enquanto isso, segue a nave, e segue Starman em seu caminho…

https://www.youtube.com/watch?v=y3niFzo5VLI

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