O medo onírico de “Here they lie”

Here they lie da Publisher Tangentlemen (2016) é um título que estava na fila já faz mais de um ano, me pegou pela mão e me conduziu para uma boa experiência de terror imersivo.

Sou um fã de jogos abstratos; tanto analógicos quanto digitais. Me agrada muito mover fichas no grid hexagonal do board game YINSH ou comandar a “personagem” multiforme do jogo 140. Me apaixono facilmente por uma boa mecânica com camada narrativa superficial.

Por outro lado, me encantam as boas narrativas de games. Quando pego um jogo que a história me prende é ponto certo para noite em claro explorando plots, twists e mistérios. Here they lie da Publisher Tangentlemen (2016) é um título que estava na fila já faz mais de um ano, me pegou pela mão e me conduziu para uma boa experiência de terror imersivo.

Tudo começa com você acordando em uma estação de trem antiga em uma cidade sem nome. Uma mulher com uma aura radiante e um vestido dourado faz o papel de Ariadne nesse cenário te guiando pelos promontórios labirínticos que você terá de percorrer. Você é um homem de meia idade de aparência decadente. Quase um detetive falido de filme noir (e a ambientação é bastante obscura).

Em um rápido lampejo você já está em uma cidade decadente na qual algumas criaturas antropozoomórficas circulam vasculhando o lixo e te perseguindo. Estes inimigos são bastante perturbadores: são corpos humanos com cabeças de cervos, porcos, coelhos, cachorros. Eles grunhem, rastejam e correm atrás de você. Não há muito o que fazer. É preciso se esconder e correr.

O trailer a seguir resume um pouco da experiência do game.

A narrativa opta por deixar algumas pontas soltas para que os jogadores e jogadoras completem determinados raciocínios, tornando-se coautores e coautoras da história. Here they lie segue um estilo narrativo similar ao do microconto Sozinha com sua alma, de Thomas Bailey Aldrich , que reproduzo a seguir.

“Uma mulher está sentada sozinha em sua casa. Sabe que não há mais ninguém no mundo: todos os outros seres estão mortos. Batem à porta.”

Quem ou que bateu à porta? Se todos os seres estão mortos, como isso é possível? Se não há mais ninguém no mundo o que será que aconteceu? São zumbis? Fantasmas? Robôs exterminadores? Aliens? Aqui temos um típico exemplo de como a narrativa aberta fomenta que o leitor/jogador ou leitora/jogadora sejam coautores da história e pensem no final proposto. Há um contrato de leitura nesse caso: quem lê é convidado a usar sua imaginação para tentar dar um rumo diferente à situação proposta.

Apesar de não ter jogado com VR li excelentes reviews sobre o uso do aparelho para uma experiência mais profunda no game. Here they lie é daqueles jogos para ficar flanando e imergindo no cenário. É para curtir como uma boa leitura de terror. Teve avaliações ruins na IGN e Metacritic, mas, para mim, foi como experienciar um conto de H.P. Lovecraft no PS4.

Gostei e me assustei.

#GoGamers

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