Qual e como seria a história do mundo contada por mulheres? Embora não saibamos (ainda) do passado distante revistos pelos olhares delas, temos a honra de descobrir novas nuances da nossa trajetória mais recente em documentários, peças, filmes e artigos protagonizados, roteirizados e dirigidos por mulheres – um verdadeiro turning point social, resultado de anos de luta por igualdade de gênero.
Embora algumas das nossas principais referências nessa seara venha do exterior, temos muita coisa de qualidade made in Brasil, sendo uma delas o documentário “O Pessoal É Político”, desenvolvido pela Lascene Produções e licenciado pelo GNT, canal que tem assumido o protagonismo em questões “polêmicas”, que moldam nossa sociedade.
Com cerca de 50 minutos de duração, o documentário aborda a Segunda Onda Feminista no Brasil, num recorte que vai de 1975 a 1985, período instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a Década Internacional da Mulher.
Trazendo depoimentos em primeira pessoa de mulheres que viveram na pele essa história, a peça tem uma narrativa clara e direta — arriscaria, inclusive, a dizer educativa.
Participaram do projeto a filósofa nipo-brasileira Helena Hirata, especialista em sociologia do trabalho e do gênero; a escritora Schuma Schumaher, autora do icônico “Mulheres no Poder: trajetórias na política a partir da luta das sufragistas do Brasil”; a sempre brilhante Hildete Pereira de Melo, professora e doutora em Economia da Indústria e da Tecnologia; Carla Rodrigues, Heloísa Buarque de Holanda — que dispensa apresentações –, Fátima Setubal, Adélia Borges e outras mulheres igualmente valentes, inspiradoras e admiráveis.
Com as câmeras focadas em si e em nossas questões, as profissionais de alto calibre trazem à tona elementos fundamentais para a compreensão da obra, colocando tudo sob a perspectiva da época, pontuando questões culturais, tendências ideológicas predominantes e o momento da luta feminista da época.
Também estão presentes elementos relativos à participação das mulheres na política e em grandes organizações, o approach midiático aos esforços femininos por igualdade, as posições de instituições religiosas e tudo mais que se possa imaginar indispensável para entender essa fase tão marcante do feminismo brasileiro.
Sem efeitos especiais e licenças poéticas, o documentário de cortes secos e precisos mostra, com uma precisão cirúrgica, que heróis de verdade são aqueles que sangram (inclusive por entre as pernas), que pulsam, que questionam e que sentem medo, mas nem por isso se deixam paralisar. Ah, e às vezes esses heróis usam saia e batom. Se assim quiserem.
GNT.DOC //ESPECIAL MÊS DAS MULHERES – Vai ao ar todo domingo às 23h59//00h.
Este conteúdo é produzido a partir de uma curadoria feita pelo Update or Die na grade de programação do canal GNT. Compartilhamos nossas impressões e desdobramentos sobre diversos temas, usando os programas que mais nos chamam a atenção como ponto de partida.