A escala da criatividade: “Little-c creativity to Big-C creativity”

Roger Beaty, pós-doutor em Neurociência Cognitiva pela Harvard University, mostra como o cérebro das pessoas criativas funciona

Não! Definitivamente, não é uma pegadinha.

A ciência já nos provou, várias vezes e de muitas formas, que somos todos criativos. Mas, afinal, qual é o “cê” que nos pertence? Todos somos criativos, mas nem todos fomos chamados para pintar a capela Sistina, construir a torre Eiffel ou projetar a Golden Gate. Então, vamos contar com a ajudinha de Roger Beaty, pós-doutor em Neurociência Cognitiva pela Harvard University. O cara mostra em seu estudo, publicado agora, em 2018, como o cérebro de pessoas muito criativas funciona.

Não é apenas sua capacidade de desenhar uma imagem ou criar um produto. “Todos nós precisamos pensar criativamente em nossas vidas diárias, seja descobrir como fazer o jantar usando sobras ou criando uma fantasia de Halloween com roupas do seu armário”, diz Beaty. Ele diz que as tarefas criativas variam do que os pesquisadores chamam de criatividade “c-zinho” – criando um site, um presente de aniversário ou inventando uma piada engraçada, etc. – para criatividade “C-Zão”: por exemplo, escrevendo um discurso, compondo um poema ou projetando um experimento científico, etc.

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O experimento de Roger Beaty, e sua equipe, meio que mostra uma certa loteria no processo. Ainda não há nada definido, mas são as combinações conectivas em nossos cérebros que nos permitem ter mais ou menos insights e ações criativas. A forma como nossos cérebros “foram” construídos na origem (outro problema a ser explicado) determina a nossa pré-disposição para ver o mundo de forma diferente ou não. Mas, a história não para aí.

“Descobrimos que as regiões do cérebro dentro da rede Altamente Criativa pertencem a três sistemas cerebrais específicos: as redes default, salience e executive control”, afirma Beaty. A rede default, por exemplo, é um conjunto de regiões do cérebro que são ativadas quando as pessoas estão envolvidas em pensamentos espontâneos, como divagar, sonhar acordado e processos de imaginação; desempenhando um papel fundamental na geração de ideias e em brainstormings. A rede executive control age quando precisamos de concentração. Ela desempenha um papel crítico na avaliação de ideias. Já a salience funciona como um mecanismo de alternância entre as redes default e executive control. “Essa rede pode desempenhar um papel fundamental na alternância entre a geração de uma ideia e a avaliação de seu potencial”, destaca.

Uma característica interessante desse conjunto é que as redes, normalmente, não são ativadas ao mesmo tempo. Beaty diz que quando a rede executive control é ativada, a rede default geralmente é desativada. “Nossos resultados sugerem que pessoas criativas são mais capazes de co-ativar redes cerebrais que normalmente trabalham separadamente”, destaca. Os criativos que nascem com C-Zão são aqueles que conseguem dançar dois estilos musicais, simultaneamente, sem pagar mico, quase que literalmente. Basta olhar a obra de tanta gente boa nesse mundão aí, e ver pessoas conectando ideias incríveis e nos surpreendendo de muitas formas. Mas, alto lá c-zinhos, não desanimem.

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Para Beaty, pesquisas futuras ainda serão necessárias para determinar se essas redes são maleáveis ou relativamente fixas. Seria possível aumentar a capacidade geral de pensamento criativo modificando as conexões de rede? Eles ainda não sabem. Esperamos que sim! Seria muito bom deixar em nossas mãos a decisão de assinar apenas mais um memorando, talvez outra pichação na parede do jornal ou, quem sabe, a próxima Monalisa. Roger Beaty diz que, por enquanto, essas questões permanecem sem resposta, e que será preciso “um esforço engajado de nossas próprias redes criativas para descobrir como respondê-las”.

Bom, acredito ser importante não nos esquecer de que, independente da capacidade de gerar ideias incríveis, sempre será preciso um esforço extra. E, esse esforço faz toda a diferença na prática. A vida já nos brindou com infinitos diplomados medíocres, e um grande punhado de “gênios”, diplomados ou não, mas que estavam cheios de boas intenções e um inquebrável espírito. O que muita gente costuma chamar de Garra. Com “G” maiúsculo.

Artigo original (em inglês) aqui!

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