Off with her head: o que o assassinato de uma personagem do Snoopy nos ensina sobre liderança

Charlotte Braun teve poucos meses de vida, mas seu legado, de certa forma, vive até hoje.

Terça-feira, 30 de novembro de 1954, nascia uma menina cheia de falhas: obnóxia, mandona e sem muito bom senso (e bom uso) do volume de sua “voz”. Era, em sua essência, uma personagem cômica, que faria um contraponto importante ao já famoso Minduim, o Charlie Brown, protagonista das histórias ao lado de seu melhor amigo, o cãozinho Snoopy.

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Charlotte Braun, a primeira companheira do “Chuck”, já trazia em seu nome o avesso do parceiro de cena, mas não conquistou a mesma empatia do público – seus traços de personalidade soavam mais como afronta do que como alívio cômico.

A partir dali, Charles M. Schulz, criador das tirinhas e seus personagens, passou a lidar com o descontentamento generalizado dos fãs de Peanuts, recebendo várias cartas de repudio por dia – uma das quais fez questão de responder:

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“Cara Srta. Swaim,

Eu vou aceitar sua sugestão a respeito de Charlotte Braun e vou, eventualmente, descartá-la. Se ela voltar a aparecer, será em tiras que já haviam sido terminadas antes que eu recebesse sua carta ou porque alguém me escreveu dizendo que gosta dela.

Lembre-se, no entanto, que você e seus amigos terão a morte de uma criança inocente em sua consciência. A senhorita está preparada para aceitar tamanha responsabilidade?

Obrigada por escrever e espero que os próximos lançamentos sejam de seu agrado.

Sinceramente,

Charles M. Schulz”

Parte do acervo da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos, a carta escrita a próprio punho revela, apesar do “exagero” no que diz respeito à culpabilização, duas qualidades de liderança extremamente valorizadas no mundo dos negócios hoje: a capacidade de escutar o outro e adaptabilidade.

Já consagrado com seus demais personagens e enredo, Schulz poderia manter a personagem propositalmente “defeituosa” que criara, mas não se fez rogado na hora de ouvir e aceitar a opinião de seus leitores, admitindo a impossibilidade de fazê-los gostar do que julgava bom ou cômico.

Uma vez diante das críticas, foi rápido em acertar os ponteiros e “matou” Charlotte Braun no primeiro dia de fevereiro de 1955, poucos meses após dar-lhe a vida.

Eventualmente, esse fracasso levou à criação de Lucy, uma versão 2.0 de Charlotte, e que caiu nas graças do público – tanto que qualquer leitor de Snoopy reconhece facilmente este nome, diferente do que acontece com sua antecessora.

Em tempos de superexposição e absolutismo, é difícil reconhecer líderes que estejam dispostos a ouvir seus pares, que dirá dar ouvidos ao seu público.

De qualquer maneira, é importante salientar aqui que não defendo a morte dos personagens ou das empresas que estão na mira da oposição, até porque entendo que é intangível contar com o apoio incondicional de toda uma audiência. Simplesmente ressalto o diferencial de um líder que está disposto a escutar o mercado e tomar uma atitude frente a isso, independentemente de seu gosto pessoal: Schulz tirou de cena uma personagem que lhe agradava e fez de sua história um lugar melhor, abrindo caminho para outras tramas mais bem sucedidas.

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No final das contas, vale lembrar que o sucesso é invariavelmente uma arte coletiva, assim como manter-se no topo.

Foi um post da Fefa Romano, sobre o Facebook, na revista Época que me inspirou a recontar a história de Charlotte Braun.

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