O ingrediente secreto

A icônica cena inicial do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço revela, pelo menos para mim, um jeito simples, mas definitivo, de explicar a teoria geral da criatividade

apeest“O passado é história; o futuro é mistério; mas o presente é uma dádiva.”
Mestre Oogway

 

Sonhar é o prazer mais barato do universo.

E também o mais perigoso. Quanto mais adulto, maior o risco…

Claro que isso vai depender do relacionamento íntimo que temos com a nossa imaginação.

A icônica cena inicial do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço revela, pelo menos para mim, um jeito simples, mas definitivo, de explicar a teoria geral da criatividade (Obrigado, Kubrick!).

Um humanoide, que poderíamos chamar carinhosamente de um distante avô, encara uma ossada no chão bem diante dele. De repente, a cena o incomoda. De repente não são mais ossos. De repente há uma explosão em seus olhos, em seus neurônios. Sua carne treme. Ele descobre uma extensão de seu próprio corpo. Um osso seco agora é uma arma. Um jeito de defender a  escassa água, o raro alimento e a sua família de outros adversários famintos. Ele agora não está mais de mãos vazias. O mundo nunca mais será o mesmo. No final da sequência, quando ele joga sua “arma” para o alto, criando o maior corte temporal da história do cinema, a gente percebe que aquele osso seco abriu caminho para o destino da humanidade, que nunca esteve sossegada diante de seus desafios. A evolução nunca foi uma opção para nós, mas uma sentença.

Po é gordo, desajeitado e de raciocínio lento. Ele vive em um mundo ao qual parece não pertencer. Os móveis são pequenos demais. As pareces baixas demais. Ele, definitivamente, não se encaixa naquele universo. Mas, ele tem uma imaginação sem igual. Fora do comum. Legendária. Seu pai sonha em lhe entregar o bastão dos negócios: um tradicional restaurante. Só que ele ama Kung Fu. Com todas as suas forças. Mas, parece que está tudo conspirando contra os seus sonhos. Inclusive seus maiores heróis.

O que conecta personagens como Michael Jackson, Steve Jobs, Martin Luther King, Da Vinci, George Lucas, Mikhail Baryshnikov, Anitta e Setphen Hawking?

Não sabe?

Para mim são pessoas únicas. Mas, também, pessoas comuns, como todos nós. A única diferença é que não tiveram medo de mostrar a sua arte ao mundo. E mesmo quando receberam críticas, e elas sempre vem, não retrocederam. Não preciso contar a história deles, pois já é público e notório o alcance de suas obras. Mas, se a gente olhar bem de perto o que eles trouxeram ao mundo, vamos perceber que foram coisas simples, mas potencialmente inéditas. Por que potencialmente? Porque não existe nada completamente novo, tudo é uma combinação de elementos que já existem. Mas, a forma como escolheram conectar as coisas fez deles gênios. Não gosto da palavra “gênio”, mas vou usar aqui para destacar pessoas que não tiveram medo e nem vergonha de experimentar.

Por acidente, Po chega ao Palácio de Jade. A casa do Kung Fu. Ele está próximo de realizar seus sonhos. Mas não vai ser tão fácil assim. Lembra que ele não se encaixa em seu mundo? Po está em um lugar estranho, seus novos amigos não o querem por perto, pois para eles a sua aparência e atitude desrespeitam a arte do Kung Fu. Mas, Oogway não acredita nisso. Para o velho mestre, o estranho Panda tem algo muito importante a oferecer a todos naquele lugar.

O que seria do mundo sem o discurso “Eu tenho um sonho”? E o Moonwalk… E o Macintosh… E as novas teorias sobre buracos negros… E as experimentações musicais que mesclam bossa nova, funk e estratégias de marketing… E a saga Star Wars, que tanto amamos… E o que dizer da Mona Lisa? Esses são exemplos de tentativas que pareciam estranhas num primeiro momento, mas que com o tempo ganharam o coração das pessoas. Mudaram a história de alguma forma. Marcaram o seu tempo e ainda oferecem um peso criativo muito forte, pois inspiram novas gerações a beber de suas fontes. Isso é criar um clássico. Isso é ser realmente criativo, tornando real algo que estava apenas na imaginação de gente que parecia louca no início.

Depois que o Fórum Econômico Mundial apresentou as 10 habilidades mais importantes para o mercado, em que a criatividade saltou do último lugar em 2015 para o terceiro, na expectativa de 2020, ficou clara a importância da imaginação, da curiosidade e da experimentação. Isso também me fez pensar nos números do ENEM. Em 2017, por exemplo, foram mais de 300 mil participantes com nota zero na redação, e outros 53 com nota mil, em um universo de 4,7 milhões de inscritos. Isso é terrivelmente trágico. Isso também mostra a decadência do processo criativo em nosso país. Um dos principais motivos das notas ruins é a “fuga ao tema”, ou seja, a turma não consegue entender o que é pedido na redação e, muito mais que isso, não é capaz de criar um texto simples, oferecendo a sua opinião como um olhar da realidade.

Qual é o problema?

Um relatório da NASA provou que o potencial criativo de crianças próximo aos 5 anos, beira os 98%. Leia-se potencial criativo como a capacidade inventiva e imaginativa. A mesma pesquisa acompanhou os pequenos até os 15 anos e, para espanto geral, foi percebido que o incrível potencial diminuía com o passar do tempo: 30% aos 10 anos e, aos 15, apenas 12%. Estarrecedor. Se o mundo está implorando por pessoas criativas, e as escolas estão embaçando o potencial das crianças, como poderemos reverter esse quadro? Dá para imaginar?

Ah, sim, e nos adultos, o potencial cai ainda mais, chegando aos 2%.

https://www.youtube.com/watch?v=72UdFbt9x5U

Po achava que seria divertido aprender Kung Fu. E, de certa forma, era. Mas, o que não estava claro é que havia um alto preço a ser pago para ser um grande guerreiro. Para ser único. Havia muito medo dentro dele. Um medo que foi crescendo com os anos, pois ele sempre se sentiu diferente e rejeitado naquele mundo. E esse mesmo lugar ia precisar de seu maior talento. E nem ele poderia imaginar o que era. Tai Lung estava livre da prisão, vindo para o Palácio de Jade. A notícia estarreceu a todos, principalmente Po que, desesperado tenta abandonar seu sonho e fugir. Mas, essa luta era dele, e não havia como escapar.

https://www.youtube.com/watch?v=7_ZUKUDCe4w&t=2s

A lição que ficou para mim é que não há como fugir de nossos sonhos. Mas, quanto mais tentamos, mais triste e sem graça fica a nossa vida. Enfrentar o desafio de encontrar a nossa arte e mostrá-la ao mundo é a guerra mais poderosa da existência humana. Há barreiras, limites, regras e uma infinidade de desafios para quem deseja ter uma voz, seguir seus propósitos e trilhar o seu caminho. A história de todo empreendedor de sucesso é recheada desses fatos. Quando Po usa a sua imaginação, ele consegue ver possibilidades que aparentemente não faziam sentido. Mas, esse seu talento mudou tanto a vida dele como a de todos ao seu redor. Imaginar possibilidades nos permitiu fazer de ossos secos um atalho para a genialidade.

https://www.youtube.com/watch?v=8qfEe6vwem8

Quando Po percebe que o poder não estava no Pergaminho mas em si mesmo, ele consegue encontrar as respostas certas para as situações que o afligiam. Aceita suas “imperfeições” como talentos especiais e, por isso, a sua arte começa a trabalhar por ele. O Pergaminho era apenas um reflexo dele mesmo. Como um diploma ou um certificado que tem o nosso nome escrito. Eles apenas refletem uma história, mas não são a nossa história. Precisamos usar nossas experiências do passado para mudar o presente, confiando no poder de nossa imaginação. Afinal, o futuro é um mistério, e isso nos dá uma oportunidade única para fazer dele o que quisermos. Basta imaginar, sem medo!

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