Como o clipe de Instant Crush (2013), do Daft Punk, narra uma história de amor sem fazer nada.

A letra, apesar de bem elaborada, não tem uma temática nada diferente: um rapaz se apaixona por uma garota, dor de cotovelo, etc etc. Contudo, o que chama a atenção aqui é a história contada no clipe da música: o “romance” entre dois bonecos de cera.

A dupla francesa de música eletrônica Daft Punk vai muito além de vestir capacetes estilo Power Rangers e criar hits musicais em parceria com Pharrell Williams e Nile Rodgers (leia-se Get Lucky). A banda é conhecida, também, por fazer parcerias aos montes e criar músicas com um estilo próprio e autêntico. Giorgio By Moroder, música criada junto com Giorgio Moroder (músico italiano que revolucionou o gênero disco music) é um exemplo da buscar por atribuir um significado maior a uma música eletrônica.

Em 2013, a banda lançou o clipe da música Instant Crush, criada em parceria com Julian Casablancas, vocalista da banda de indie rock The Strokes. O que impressiona não é a qualidade da música, mas, sim, a pseudo história contada no clipe.

Daft Punk Instant Crush

A letra, apesar de bem elaborada, não tem uma temática nada diferente: um rapaz se apaixona por uma garota, dor de cotovelo, etc etc. Contudo, o que chama a atenção aqui é a história contada no clipe da música: o “romance” entre dois bonecos de cera.

O amor entre objetos inanimados

O clipe começa com a chegada de um novo boneco de cera de um soldado a um museu. O soldado é colocado em frente a uma boneca de cera de uma camponesa, de forma que, convenientemente, um fique olhando para o outro. E é isso.

Em momento algum eles interagem ou se movem. Eles não falam um com outro, não trocam carícias. Eles não vivem uma história de amor em um barco. Eles não passam por qualquer clichê de um livro do Nicholas Sparks.

O que acontece é que a direção do clipe e os cortes de câmera fazem parecer que uma narrativa está se desenrolando: o close nos olhos como se ambos estivessem se entreolhando; planos fechados como se o soldado reagisse aos zeladores olhando por debaixo da saia da camponesa; as imagens do soldado no depósito, seguido de imagens da camponesa, como se fossem memórias dele.

Cena: boneco de cera sendo carregado por dois zeladores.
O soldado parece estar sendo carregado à força para longe da sua “amada”. Quem carregaria um boneco assim, como se o estivesse expulsando de uma festa?

As cenas são criadas de forma que simples truques de direção, aliados a uma boa escolha de imagem e à letra da música com temática romântica. O contexto é elaborado para que gere um ar mais romântico e, o uso de clichês que já vimos em vários filmes ajudam a história mais escrachada para o espectador.

Cena: pintura de um casal se beijando.
Um quadro romântico, só para nos lembrar de que se trata de uma “história de amor”.
Cena: Boneco cai sobre a cabeça de outro, virando-a de lado.
Para dar um efeito mais dramático, um boneco cai sobre a cabeça do soldado, de forma que ele fique “encarando sua amada”.
Cena: mãos derretidas dos bonecos de cera encostando uma na outra.
E pra fechar, o crème de la crème: as mãos do casal se tocando.

Vale reforçar que em momento algum os bonecos mostram ter algum tipo de consciência, nem mesmo se mexem por vontade própria. Os acontecimentos são simples obras do acaso mas que, quando colocadas em um contexto e exibidas da forma certa, adquirem um significado muito maior, como uma história de amor entre dois bonecos de cera inanimados.

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