Um por todos e todos por um: nosso universo não é exclusivo

“Onde tudo pode acontecer…” – para quem acha que o bordão é uma volta ao passado, fique sabendo que ele está mais para uma previsão; e nunca foi tão atual: dez dias antes de virar poeira cósmica, o gênio Stephen Hawkings enviou à publicação Journal of High-Energy Physics um estudo sobre a existência de vários universos paralelos.

A teoria submetida à divulgação é, na verdade, uma continuação das análises feitas pelo cientista ao longo de sua carreira. Nos anos 80, por exemplo, Hawkings trabalhou ao lado do físico americano James Hartle e elaborou uma proposta que confrontava uma limitação encontrada na teoria de Albert Einstein, que indicava que o universo surgiu há 14 bilhões de anos, mas não apontava como se deu seu começo. Hartle e Hawking se apoiaram na mecânica quântica para explicar o “surgimento” espontâneo do universo.

A resposta para uma pergunta teve um efeito rebote, e gerou inúmeras outras dúvidas e a comunidade científica chegou à hipótese de que o Big Bang poderia ter criado não apenas um universo, mas vários. E alguns seriam extremamente parecidos com o nosso, com uma fauna e uma flora parecida.

Semelhanças biológicas à parte, esses planetas “siameses” ao nosso teriam, obviamente, histórias distintas, o que pode indicar que em algum deles os dinossauros ainda estejam vivos.

Outro “buraco negro” que surgiu a partir do entendimento da proposta dos anos 80 é que outros planetas seriam regidos por leis da física diferentes e essa ideia era particularmente desconfortável para a comunidade científica, porque não seríamos capazes de classificar nosso próprio universo, uma vez que não há nenhuma referência.

Mas, felizmente, o avançar e a maturidade da pesquisa que culminou neste última publicação de Hawking pode ter colocado um fim nesse desassossego: o gênio lançou mão de polêmica e atual “teoria das cordas”, que permite a pesquisadores avaliarem as teorias da física de uma forma diferente.

A partir deste entendimento, chega-se a conclusão de que só podem haver universos com as mesmas leis da física que as nossas – o que significa que vivemos num universo típico; ou “padrão”. Agora, temos todos o mesmo ponto de partida, o que torna mais fácil o desenvolvimento de conceitos sobre como outros universos surgiram.

“As leis da física que testamos em nossos laboratórios não existiram desde sempre. Elas se formaram depois do Big Bang, quando o Universo se expandiu e resfriou. Os tipos de leis que emergem dependem bastante das condições físicas no Big Bang. Ao estudá-las, buscamos entender melhor de onde vêm nossas teorias físicas, como surgem e se elas são únicas”, disse Thomas Hertog em entrevista à BBC.

Uma hipótese fascinante, segundo Hertog, é que a teoria pode auxiliar estudiosos a a detectar a presença de outros universos ao estudar microondas de radiação deixadas para trás pelo Big Bang. Isso não significa, porém, que seja possível viajar de um universo para outro – uma pena para quem, como eu, não entende muito de física quântica e cosmologia (mesmo querendo e estudando bastante), mas sei bem (ainda bem) sobre a arte de gastar o passaporte.

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