A maldição dos… 17!

A famosa “maldição dos 27” também está se atualizando. E só nos resta crer que a da próxima geração será a dos 17.

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Rimbaud foi um poeta, ou um fenômeno da natureza, desses que lutamos para assistir, registrar, mas dos quais ficamos apenas com imagens embaçadas. Aos vinte e cinco anos parou de escrever e morreu para a Europa, dando início a outra vida inteiramente diversa no leste da África. Je est um autre – dizia ele desafiando a gramática francesa. Costumava extenuar o corpo ao caminhar junto a caravanas que alimentavam o comércio local.

Não tão distante assim no domínio espaço-tempo, Van Gogh lutava contra si mesmo e sua louca obsessão pela arte. A impressão que se tem é a de que ele ansiava tanto viver, que isso acabou por sufoca-lo. Também caminhava sem limites, como uma forma de fazer fluir as ideias que mais tarde virariam quadros, ou cartas ao seu irmão Theo.

No caso de Rimbaud, um ferimento e o excesso de esforço terminaram lhe rendendo uma perna amputada e uma morte dolorosa após uma volta nada triunfal à França. Van Gogh meteu uma bala no próprio abdômen, em meio aos trigais que lhe serviam de inspiração, e foi enterrado com girassóis sobre seu caixão, anônimo. Ambos eram gênios perturbados, estrelas cadentes que se arrebentaram na queda aqui na Terra. Ambos morreram com 37 anos de idade.

27

Hoje muito se fala da maldição dos 27 anos, que acomete roqueiros mortos pela pior de todas as drogas – a fama. Kurt Cobain, Jim Morrison, Janis Joplin e Jimi Hendrix são os novos Rimbaud e Van Gogh (les anciens maudits). Jack Kerouac, cuja guitarra era a máquina de escrever, driblou a maldição por duas décadas e morreu aos 47 anos. Ou seja, mudaram o veículo de expressão, a intensidade de exposição e a velocidade com que influenciaram o mundo, mas permaneceu o espírito rebelde.

O poeta e o pintor se foram no final do século XIX, época em que se dava o grande salto na expectativa de vida da humanidade. Enquanto na Roma Antiga chegava-se ao leito de morte aos trinta anos, Louis Pasteur e a grande vedete higiene fizeram o homem ultrapassar os quarenta anos em 1890. Nos anos 1960, vivia-se quase setenta anos nos países desenvolvidos. Hoje tem-se um abismo: enquanto em Andorra alcança-se 83 anos de idade com certa facilidade, em Botsuana nada mudou em relação à Roma Antiga (30 anos de idade).

17?

Moral da história: apesar da expectativa de vida praticamente dobrar entre Rimbaud e sua versão cabeluda dos anos 90 – Cobain –, por exemplo, a maldição tirou dez anos de vida desses inconformados. Ela segue o caminho contrário, de tão maldita que é. Tanto se fala na atual velocidade das mudanças (não há mais nem letras no alfabeto para denominar tantas gerações), que só nos resta crer que a próxima maldição será a dos dezessete anos. Depois de uma pré-adolescência conturbada, duas semanas de meteórica ascensão nas mídias sociais, e uns três ou quatro dias de estrelato, nossos desbravadores do espírito rebelde morrerão como moscas, dando lugar à próxima desova.

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