As mulheres mais destemidas do mundo

Afeganistão, Iraque e Síria são três dos piores lugares do mundo para uma mulher viver hoje. Foi nesses países que a jornalista e diretora Benedetta Argentieri rodou o documentário I AM THE REVOLUTION, lançado no DOC NYC. Desde 2014, ela cobre zonas de guerra, o que lhe deu grande autoridade para escolher suas personagens. Num mundo onde existem muitos vilões e nem sempre super heróis, as três mulheres de carne osso retratadas no filme são uma fonte de orgulho e inspiração para todos os gêneros e para o mundo inteiro. A camera de atravessa o cliché ocidental das silenciosas e tímidas mulheres de véu do Oriente Médio para mostrar a força, a coragem, as unhas e os dentes de Rojda Felat, Selay Ghaffar e Yanar Mohammed.

Rojda é curda síria e não sabe se nasceu em 1977 ou 1980. Mas o Estado Islâmico sabe quem ela é: Comandante das Unidades de Proteção da Mulher e das Forças Democráticas da Síria, carrega fuzil desde 2011e comanda 60.000 soldados, homens e mulheres, na luta contra o ISIS de quem ela libertou sua cidade natal, Qamishli e Raqqa.

Selay, é afegã e a mulher mais procurada pelo Taliban. Porta-voz do Partido Solidariedade, vive em local ignorado, se desloca em segredo, usa disfarces quando necessário. Tudo para continuar viajando para regiões remotas do Afeganistão para levar alfabetização, cursos profissionalizantes e apoio para que as aldeãs se organizem.

 Yanar, iraquiana de Bagdad é fundadora da Organização pela Liberdade das Mulheres no Iraque. Largou seu mestrado em Arquitetura e voltou do Canadá para se dedicar à reconstrução do Iraque com base na democracia secular.  “’Eu vejo o Iraque voltando aos tempos da minha avó. Eu vejo todas as mulheres nas ruas embrulhadas em véus e vestidos feios, longos e disformes”. A frase parece até um eufemismo para os apedrejamentos, chibatadas, amputações, estupros e outras barbaridades que as burcas escondem. Mas esqueça as denúncias. “I AM THE REVOLUTION” é para se inspirar com o heroísmo dessas mulheres, apoiar as nossas e valorizar os avanços sociais que já conseguimos.

Conversei com Benedetta Argentieri sobre seu documentário

Como você encontrou suas três protagonistas?                                           Conheci Yanar em 2015 em NY. Ela estava aqui para falar no Conselho de Segurança da ONU e explicar as condições das mulheres no Iraque. Enquanto viajava pela Síria, me contavam sobre Rojda Felat e como ela eraincrível e eficaz em combate. Então, depois de uma extensa pesquisa, pensamos que ela era a melhor pessoa para representar a luta das mulheres em Rojava (área controlada pelos curdos no nordeste da Síria). Por último, Selay foi uma verdadeira surpresa. Entrevistei várias mulheres no Afeganistão, mas nunca me convenci até conhecer Ghaffar. Nós nos entendíamos muito bem e ela nos permitiuir encontrá-la. Somos a primeira equipe de filmagem a segui-la. A maioria das pessoas tem medo de ficar com ela por muito tempo por causa das ameaças à segurança.

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Rojda Felat, na frente de combate na Síria

Evidentemente o filme não é sobre isso, mas não consegui deixar de notar os homens ao fundo. Os que acompanham as mulheres em manifestações políticas, os guarda-costas de Ghaffar, os soldados comandados por Rojda e outros homens que cercam essas bravas mulheres.Como esses homens são vistos pelas sociedades em que estão e qual seu papel?
Os homens são uma parte muito importante no movimento. Na verdade, as três protagonistas são muito inflexíveis em compartilhar um caminho com o gênero oposto. Os homens arriscam suas vidas quando saem em protestos com essas mulheres. Eles entendem que precisam desempenhar um papel menor, mas acreditam que, se as mulheres melhorarem suas condições, também se beneficiarão disso. Acho que os homens ocidentais podem aprender com essa abordagem.

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Yannar Mohammed em manifestação em Bagdá, Iraque


Em sua opinião, existe algum perigo de regressão nos avanços que as sociedades ocidentais já alcançaram em relação aos direitos das mulheres?
Acredito que sim. Temos visto muitos países diferentes tentarem restringir as leis (ou proibir) o aborto. Acho que os políticos de extrema direita, que estão aumentando seu poder em todo o mundo, querem controlar os corpos das mulheres.
Quando poderemos assistir ao documentário?
O filme acaba de estrear, estamos fechando a distribuição internacional e nos inscrevemos em vários festivais. Queremos que o filme viaje pelo mundo e alcance todas as comunidades que lutam por seus direitos. Rojda, Yanar e Selay são uma ótima fonte de inspiração.



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