Qual é o ponto mais ao sul da África? (Não, não é o Cabo da Boa Esperança)

E aquela professora da escola parecia tão confiável...

Os moradores da Cidade do Cabo passam, basicamente, o dia inteiro explicando isso pra turistada.

Pois é, o ponto mais ao sul do continente africano é o bem menos famoso “Cabo das Agulhas”.

Você passa o Cabo da Boa Esperança, segue em frente mais uns 150 quilômetros, dá uma viradinha pra esquerda e aí sim vai chegar no extremo sul do continente. Quem diria hein? E aquela professora lá na minha escola parecia tão segura. É que o Cabo da Boa Esperança foi descoberto antes e todo mundo achou que alí era a pontinha. Quase, mas não era. Erraram por 150 quilômetros.

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Extremo sul? Desce mais 150 quilômetros

O Cabo famoso: o da Esperança.

A fama do Cabo da Boa Esperança vai além da questão geográfica (errada). Era alí que, apesar do mar revoltadíssimo, o ânimo dos navegadores aumentava porque finalmente mudavam para a direção leste (que era o objetivo inicial) e não mais ao interminável sul. Era tipo passar de fase no game, e daquelas bem difíceis mesmo.

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Se o Bartolomeu Dias tivesse um Google Earth veria que estava quase lá.

Outra peculiaridade do Cabo da Boa Esperança tem mais a ver com propaganda. O valente Bartolomeu Dias (1451-1500), navegador português, foi o primeiro a dar a volta por baixo da África. Foi o cara que “descobriu” o Cabo.

Depois de quase naufragar por alí, batizou o lugar como “Cabo das Tormentas”. Mas o seu cliente e patrão, o dono da grana, D. João II de Portugal, queria encorajar outros navegadores a adotar a nova rota comercial e achou melhor mudar o nome para algo mais “user friendly”:

“Tásch maluco ô pá? Bartô, vamosh a chamairê de cab d’Boa Ecshperança… olha qlindo!”

Não chega a ser uma propaganda enganosa, afinal “esperança” tem uma certa flexibilidade de interpretação, dependendo da situação.

Cinco anos depois, Bartolomeu Dias morreu. E adivinha onnnnde? Ele – e todos os tripulantes dos quatro navios que o acompanhavam – no Cabo da Boa Esperança, aquela que é “a última que morre”, mas um dia morre mesmo, levando a esquadra inteira.

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Bartolomeu, o primeiro

O Cabo das Agulhas

O tal Cabo das Agulhas, alí pertinho, é igualmente traiçoeiro. O nome é um pouco mais claro. As agulhas são uma alusão às rochas afiadas dos recifes. Existe até um museu por alí, cheio de restos de naufrágios e se refere ao local como “o cemitério dos navios”.

O Agito não é só das águas. A Vida Selvagem é Intensa

Por conta do acesso difícil e da praia rochosa, a região é rica em vida selvagem. Entre maio e agosto, o mar ferve com bilhões e bilhões de sardinhas em migração (Sardinops sagax).

Esses cardumes formam um dos maiores aglomerados de vida selvagem do planeta e chegam a ter uma incrível área de 6 quilômetros de comprimento por 2 quilômetros de largura. Centenas de milhares de tubarões, golfinhos, focas e aves marinhas viajam longos caminhos atrás desses peixes, comendo-os aos milhares mas causando pouco impacto no número total.

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O Cabo divide oficialmente o Atlântico e o Índico

O Cabo das Agulhas está a 34 ° 49 ’58 “sul e 20 ° 00′ 12” leste e é o ponto de divisão oficial entre os oceanos Atlântico e Índico. E é, literalmente, um dos lugares mais agitados do planeta. Para homens, sardinhas e tubarões. E macaquinhos que adoram roubar comida dos turistas. E claro, para o Bartô, que está por lá em algum lugar até hoje.

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