Em 2017, mais de 500 mil hectares de floresta queimaram em Portugal – foi o maior incêndio da história do país.
O Rock in Rio Lisboa usou toda a quantidade gigante de madeira queimada para fazer algo a respeito e dar uma nova utilidade ao material.
Esse é o mote da campanha integrada desenvolvida pela Artplan para o festival e que está inscrita em Cannes:
A ação, batizada de “Rock’n Hope”, convidou António Pinto Carvalho, luthier da APC Instrumentos Musicais e um dos principais nomes do ramo da Europa, para ajudar na produção de três guitarras especiais que seriam feitas justamente a partir da madeira das árvores das florestas que queimaram no incêndio. Os instrumentos viraram o símbolo do “It’s All Connected”, movimento que reuniu artistas, escritores, músicos e demais celebridades.
Nomes como o ator Ricardo Carriço, o fashion designer Nuno Gama, o escritor José Luiz Peixoto, a locutora Filipa Galrão e os músicos Agir, Carolina Deslandes e Diogo Piçarra fizeram ativações online para arrecar valores em dinheiro para a campanha.
Os resultados, claro, foram positivos. O foco era obviamente na questão ambiental, mas já que estamos falando de uma campanha publicitária, vale citar os números do tal “social media impact” – a página do Rock’n Hope somou mais de 860 mil visitantes únicos, sendo apenas 14,5% deles de Portugal, o que denota o alcance global do projeto. Já em relação ao valor arrecadado, o número também é bacana: foram 30 mil euros levantados. O dinheiro foi revertido para campanhas de preservação ambiental por todo país e ainda para o reflorestamento da região impactada pelo fogo. Com a madeira queimada, foram produzidas três guitarras, que no final reverteram em um valor capaz de reflorestar 300 mil metros quadrados da área.
“Music Transforms Everything” é – e não à toa – o slogan do movimento.
O incêndio
O Incêndio Florestal de Pedrógão Grande aconteceu em junho de 2017, no distrito de Leiria, em Portugal, tendo alastrado pela região vizinha. O desastre é o maior incêndio florestal da história do país até então, sendo ainda o que registrou o maior número de vítimas fatais em Portugal e o 11º mais mortífero a nível mundial desde o ano de 1900.
O balanço oficial na época contabilizou 66 mortos e 254 feridos. Entre as vítimas, 47 foram encontradas nas estradas do concelho de Pedrógão Grande, tendo 30 delas morrido nos automóveis e 17 nas suas imediações, provavelmente durante a fuga do incêndio. Isso sem falar no prejuízo material: foram mais de 500 casas parcial ou totalmente destruídas pelo fogo, além de 48 empresas. A estimativa provisória do montante total de prejuízo para o país gira em torno dos 500 milhões de euros.
A causa apontada pelas autoridades foi a trovoada seca que, conjugada com temperaturas muito elevadas – superiores aos 40 graus – e vento muito intenso e variável, fez com que o fogo deflagrasse e se propagasse rapidamente. Mas o veredito não é final – um relatório técnico independente publicado três meses depois apontou como causa o contato entre a vegetação e uma linha elétrica de média tensão da empresa Energias de Portugal, resultado da falta de limpeza da zona de proteção.
Na época, como resposta à catástrofe, o governo de Portugal decretou três dias de luto nacional, de 18 a 20 de junho de 2017.