Como enlouquecer uma máquina. Parte II

A colaboração que criou a nossa cultura e os empregos que mantiveram milhões de pessoas engajadas em suas carreias, durante milênios, agora está sendo posta em perspectiva. O trabalho como o conhecemos até bem pouco tempo, não se veste e nem caminha mais da mesma forma. Todos, jovens e velhos, estão olhando para a realidade sem entender bem o que está acontecendo. Muitos empregos estão desaparecendo, e muitos outros surgem por consequência. Nem todos dão conta de atender à demanda de qualificações que as novas funções exigem. E mesmo quando o fazem, logo são pressionadas e se atualizar, cinco minutos depois.

Queremos exterminar o esforço físico. Não o apreciamos. Tudo o que fazemos é para evitá-lo ao máximo. Adoramos o conforto. Olhe para tudo o que criamos. Queremos viver mais e sentir o prazer no seu apogeu, sem limites. Claro que esse é o sentimento que nos coloca em movimento. Trabalhamos 5 dias para descansar 2, trabalhamos 11 meses para descansar 1. Fazemos qualquer coisa para comprar o paraíso. Infelizmente, o paraíso que estamos criando é digital e tem, de certa forma, vontade própria, e parece não ter lugar para todos em seus domínios. Criamos coisas para nos aliviar a dor de existir, mas nos esquecemos de nos preparar para seus efeitos colaterais.

“The machines are coming for the high-wage, high-skill jobs as well”

Martin Ford

Nosso medo de um inevitável fim nos uniu para criar um mundo cada vez melhor e mais confortável. Agora, esse tal mundo está cobrando a conta e não sabemos como quitar a dívida. Um nível épico de criatividade está sendo exigido, mas é algo completamente diferente do que fizemos até hoje. Agora, o desafio será conseguir reconfigurar as nossas mentes para que sejamos capazes de iluminar a nossa sensibilidade, para que a beleza nos toque muito mais que o prazer de não fazer nada, já que um algorítimo vai resolver tudo por nós, desde que possamos pagar por isso. Essa nova sociedade digital precisa de seres humanos menos pragmáticos, e mais conectados com seus sentidos. Isso é ser sensível. Temos tantas conveniências que acabamos esquecendo como nossos corpos funcionam.

Para Domenico De Masi, em seu livro Criatividade e Grupos Criativos, buscamos delegar todo e qualquer esforço às máquinas e liberar completamente o ser humano de todo e qualquer trabalho chato, repetitivo, tedioso e cansativo, “assim como concentrar todas as energias em fins elevados como a autorrealização, através da criatividade, da introspecção, das atividades lúdicas, da amizade, do amor, do convívio e da beleza”, afirma.

Vamos continuar limitados, pelo menos por enquanto, a ter uma vida média de 80/90 anos, para os mais sortudos. Vamos continuar educando nossas crianças, é claro, mas nesse admirável mundo novo serão necessários novos sentidos capazes de perceber camadas invisíveis, onde nenhum tipo de sensor eletrônico poderia penetrar. Esse ser criativo, sensível ao toque da vida, vai surfar de forma esplêndida e mostrar como as coisas podem ser, aprendendo muito mais com pessoas reais, dividindo experiências, apreciando o valor do erro, porque consegue ver e sentir a essência de ser humano. E isso, inevitavelmente, vai deixar muitos algorítimos com a pulga atrás da orelha.

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