O leilão de uma nota de dólar comum (para ver como nossa cabeça funciona)

Em 1963, o economista e especialista em teoria de jogos, Martin Shukik, criou o Leilão de 1 Dólar. Funciona da mesma forma que os leilões que você conhece: quem der o maior lance, leva o dólar. Mas o segundo maior lance também paga, sem levar nada. Mesmo com esse adendo, o primeiro lance não demora a surgir:

“1 cent!”

Afinal, são 99 cents de lucro, nada mal.

O segundo lance vem na cola:

“2 cents!”

E assim começa a tradicional corrida em busca de um BOM negócio. Porém, ao chegar em 99 cents, um fenômeno interessante acontece.

Com um lance a mais, fica 1 dólar por 1 dólar, e você imagina que a brincadeira acabe por aí. Mas aí o leiloeiro lembra ao segundo colocado um detalhe muito importante:

“Você vai perder 99 cents. Mas se você continuar o jogo, e aumentar o lance para US$1,01 seu prejuízo será de apenas 1 cent”

Putz, é mesmo! O lance é prontamente executado e começa uma nova disputa entre as partes, mas agora é para evitar um MAU negócio.

Esse jogo foi criado para ilustrar o paradoxo que existe na “Teoria das decisões racionais” (quando um monte de bobagem é feita, baseada em dados reais e aparentemente racionais como maximizar ganhos e diminuir as perdas) e é tradicional até hoje no MIT. Segundo o professor Marvin Minsky, “leilões de 1 dólar chegam facilmente a US$4 ou US$5 na maioria das vezes”.

Esse fenômeno é facilitado, principalmente nos EUA, pela cultura do vencedor, aquele que não desiste nunca (um conselho que – você já está percebendo – não é dos melhores para dar ao seu filho)

Ironicamente, existe hoje a “estratégia da desistência” e nunca desistir virou coisa de perdedores.

Por isso não é difícil encontrar situações de apenas um vencedor onde as pessoas embarcam na brincadeira, baseados no raciocínio de que muito já foi investido para se desistir.

Exemplos clássicos?

01. Propaganda política, o famoso lobby. Candidato A e B vão incrementando verba de campanha apoiados na crença de que estão quase se elegendo. O perdedor vai torrar uma fortuna, que não terá servido para nada. A nossa propaganda, de bens e serviços, muitas vezes embarca nessa da mesma maneira.

02. Vaga na empresa. Você e mais um ou dois de olho na vaga de diretor. Todos investem seus melhores anos profissionais e nunca pedem demissão porque já investiram muito no “cliente interno” e na carreira naquela empresa. Um sobe, os outros se ferram e saem para o mercado rotulados como velhos (ouch).

03. Investimento em ações. Já perdi muito nessa desvalorização, preciso esperar uma reação para vender. Fortunas inteiras já evaporaram assim.

E assim por diante.

O careca Seth Godin também escreveu um livretinho sobre o assunto, chamado The Dip. Vale a pena a leitura.

A conclusão parece ser a seguinte: há um momento em que o “ganhar mais” vira “perder menos”. Isso, na vida como um todo. A sabedoria está em saber quais jogos jogar. Ou, pelo menos, saber quando parar.

Quer uma dica? Pare um pouquinho e pense no que você anda investindo agora (seu $, seu tempo, seu talento, etc). É bem capaz de você se pegar com a mão levantada em algum leilão de um dólar.

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