“O Dilema das Redes” é documentário obrigatório

As redes sociais, como funcionam e o que nos causam, segundo executivos que ajudaram a construir o Twitter, Facebook, Google, Pinterest, etc. Um teaser: nenhum deles deixa os filhos usarem redes sociais.

Estreou ontem na Netflix um documentário chamado “O Dilema das Redes”. Sei que o tópico nos remete a coisas que mais ou menos já sabemos, mas neste caso é diferente e eu não poderia recomendar mais enfaticamente que você assista já. Com o dedo no pause para ir refletindo.

Outros documentários já exploraram a questão sobre o impacto das mídias sociais em nossa privacidade e nosso moral e até mesmo em nossa democracia. Mas este documentário tem uma diferença importante. Embora todos os documentários tenham sempre algum especialista para explicar como chegamos aqui e por que esse não é um lugar onde ninguém deveria estar, neste filme muitos dos especialistas são exatamente as mesmas pessoas que ajudaram a criar esse cenário: altos executivos do Twitter, Instagram, Pinterest, Facebook e outros sites que nos seduzem a gastar tempo e compartilhar informações para que possam vender os dois. No decorrer da narrativa, é visível o incômodo e o constrangimento, quase que uma confissão e um pedido de desculpas. Mais que isso: uma necessidade de alertar as pessoas.

Por exemplo, um desses executivos é Justin Rosenstein, o inventor do recurso mais onipresente do Facebook: o botão “curtir”. Ele timidamente diz que a intenção era “espalhar positividade”. Que mal poderia haver em um despretensioso joinha para que as “curtam” algo que você postou? Bem, o que ninguém previu, pelo menos não na proporção correta, é que na verdade haveriam MAIS pessoas ficando magoadas POR NÃO receberem curtidas. E todo um processo desencadeado por isso, com as pessoas alterando seus comportamentos, muitas vezes de forma inconsciente, para ganhar mais curtidas.

Eu sou testemunha desse processo há muitos anos. É relativamente fácil enxergar essa transformação que já acometeu alguns de nossos melhores autores que, com o tempo, perdem a qualidade do conteúdo e vão adotando o que eu chamado de “estilo tabloideiro”, para ganhar mais atenção e “amor” em forma de likes. Começam escolhendo tópicos que estão em destaque e com o tempo ajustam temas e estilo para impressionar e satisfazer a própria vaidade.

Mas isso é mesmo um problema ou são casos isolados de pessoas inseguras?

Considere o seguinte: uma grande parte dessas pessoas que estão caçando “curtidas” qualquer custo são adolescentes. Todos nós conhecemos as turbulências na personalidade durante o ensino médio, quando de repente nos desligamos um pouco do que nossos pais dizem e decidimos que o que realmente importa é ser considerado como uma pessoa legalzinha ou pelo menos não ser maldosamente julgado pelos amigos da escola. Agora coloque isso em uma proporção global. É por isso que há um aumento vertiginoso de ansiedade, depressão, automutilação e tentativas de suicídio por parte das meninas da Geração Z, atual média e alta escolares, tanto quanto o triplo em algumas categorias. O documentário mostra até um novo termo clínico chamado “Dismorfia de Snapchat”, que descreve as pessoas que procuram a cirurgia plástica para se parecerem mais com as imagens turbinadas por filtros que veem online.

Enfim, mais uma vez, fica aqui minha recomendação que você assista ao documentário e reflita de verdade, sem ligar o escudo do “ah, isso é exagero” para tentar se isentar desse universo. Todos nós estamos presos nele. E PRECISAMOS prestar atenção nesse assunto. Especialmente os que participam direta ou indiretamente da edução de alguma criança.

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