Ói eu, ói eu, ói eu

Tô aqui faxinando conteúdo e achei esse post, de 2012. Não só continua atual como ficou ainda mais interessante, porque pouca coisa mudou. Dá uma lida ;)

Será que a nossa comunicação pessoal não podia aprender um truque ou dois com a comunicação profissional?

Faz mais ou menos uns 50 anos que as marcas procuram usar a melhor comunicação possível para fazer sucesso com gente.

No começo, mais ou menos na época lá do Mad Men, o mais importante era conseguir subir no banquinho mais alto possível, pegar o megafone mais poderoso possível – e gritar o maior número de atributos no menor tempo possível. Nos Estados Unidos esse periodo ficou conhecido como “a era do …ER”. Era um tal de brighter, smoother, cheaper, stronger, thinner, smarter, sem fim.

As marcas se empenhavam na interrupção e usavam a estratégia do “ói eu”, amplamente utilizada por vendedores de rua desde os primórdios da linguagem falada. Imaginavam que  pelo simples fato de se auto-promoverem, ficavam de fato, interessantes.

A comunicação acontecia, invariavelmente na primeira pessoa e sobre a primeira pessoa. Já percebeu para onde tá indo esse texto né?

Bom, diante dessa metralhadora de marcas tão extraordinárias, surgiu outra fase, carinhosamente chamada de “me too”. No desespero de ficar para trás, qualquer novo anunciante se contentava com um “me too”. Pertencer já era uma vitória.

Até que depois de uns 20 anos ninguém aguentava mais. E a conclusão, na trave, é que tinha muita gente falando ao mesmo tempo e portanto o importante era achar algo único, ou em bom propagandês, o bem intencionado U.S.P., “unique selling proposition”, o pai-nosso do marketing da época em que eu trabalhei em agências.

Mas foi só depois de muitos anos que aprendemos o conceito de… relevância.

Interromper a pessoa certa, do jeito certo, com o discurso certo e pelo motivo certo. Lindo.

As pessoas não queriam saber das proezas das marcas, mas sim, o que essas proezas poderia fazer por elas.

E assim, surgiram os comercias sem produto, que ao invés de mostrar o carro, mostravam famílias reunidas, roteiros de viagem, sensações de liberdade, etc.

A era, não dos atributos em primeira pessoa, mas sim dos benefícios ATRAVÉS da primeira pessoa.

Usando isso no contexto das Redes

Com a internet aconteceu algo parecido, em um espaço de tempo mais curto. Na primeira fase os sites eram feitos por outros, depois passaram a ser feitos por você e depois ATRAVÉS de você.

E hoje estamos na era “social”.

O planeta se transformou rapidamente no maior salão de cabeleireiro da história. Uma feira-livre de bilhões. Gerações que já nascem com chupeta, o tal banquinho e megafones próprios.

E tudo isso para falar que li um artigo neste final de semana que me colocou para pensar. O artigo fala que, apesar de chamarmos esses brinquedinhos todos de “redes sociais” (twitter, FB, pinterest, etc), na verdade eles têm muito pouco de social.

Estão mais para uma sucessão de monólogos, acompanhados por muitos. Mas não carregam o sentido essêncial do social, que é o fazer algo juntos.
O conteúdo das redes sociais é feito por sujeitos… como sujeitos. Como na época do Mad Men. O restaurante que EU estou, a cerveja que EU estou tomando, a praia onde EU estou, etc.

Sei que nesse momento do texto corro um risco danado de parecer um rabugento, por causa desse frio que provoquei na sua barriga ao fazer você imaginar se não é esse o seu caso. Não foi minha intenção, isso não é uma crítica, mas sim um convite pra gente pensar juntos. Porque obviamente esse é o seu caso. É o meu caso também, é o de todo mundo.

Não é uma crítica, é uma constatação, que acho que vale a pena refletir, principalmente porque muitos aqui trabalham com comunicação.

Mas então, se não é pra usar essas redes para dividir experiências pessoais, vai servir pra quê? (ah, o “pra quê”… sou apaixonado por essa pergunta, troque todos os seus “por ques” por “pra ques” e entenda o que estou falando. Mas tô desviando, vamos voltar).

Quando penso nisso, acabo imaginando se não vamos, um dia, seguir pelo mesmo caminho da propaganda que aprendeu a falar ATRAVÉS das marcas.

Talvez a gente ainda vá aprender a falar ATRAVÉS das nossas experiências. Uma coisa é falar que está trânsito na estrada. Outra coisa é falar isso e sugerir uma rota alternativa. Ou, nem precisa ter essa função de utilidade, mas sei lá, fazer uma piada que sirva para outros motoristas desestressarem um pouco.

É que nem festinha de criança: se veio te prestigiar, tem que sair com uma lembrancinha.

Acho que por força do hábito da profissão, não consigo imaginar interromper alguém sem dar algo em troca. Mesmo que seja algo muito subjetivo como um sorriso, uma lágrima, um pensamento.

Não se trata de fazer tuitadas cabeçudas, ou fazer um post-Lusíadas pelo Facebook. Basta se colocar no lugar de quem vai ler. É a mesma mensagem, mas com um brasilino de presente.  É preciso ser relevante para que uma conversa exista.

E você o que acha?

Acha que a nossa comunicação pessoal vai passar pelas mesmas etapas da comunicação profissional?
Será que campanha das suas ideias, aquelas que merecem ser compartilhadas, está mesmo sendo feita do melhor jeito?

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