O que o excesso de auto-tune tem feito com a música

Uma faca é uma faca. Pode ser usada para passar manteiga no pão ou para matar. A ferramenta é inocente, cabe questionar quem a usa. E como.

Mais uma aula e ótima reflexão do produtor musical Rick Beato sobre os efeitos do excesso de uso do auto-tune no mainstream da música moderna.

A discussão entre efeito e defeito não é de hoje e nem tampouco se restringe apenas ao cenário musical. A animação feita com computadores aprendeu a lidar bem com o efeito do “uncanny valley” ou “Vale da Estranheza” (WKP) (quando um personagem chega muito próximo da realidade e acaba provocando uma repulsa entre observadores humanos. Sentimos aquele incômodo, fica meio sem alma, meio freak). Por isso as animações preferem se manter no universo mais cartoon, com olhos grandes, proporções fantasiosas, apesar de poderem ser super realistas se quisessem.

A música ainda nnao atravessou o Vale da Estranheza. Pelo contrário, parece ter montado um acampamento por alí, deixando vozes e beats milimetricamente perfeitos e… fatalmente idênticos e robóticos. Sem alma, sem que se possa perceber algum traço humano.

Nas artes, de modo geral, tendemos a gostar mais da imperfeição natural do que da perfeição artificial.

Em outras palavras, como o próprio Rick Beato deixa claro logo de cara, não é uma questão de nnao gostar da ferramenta, do auto-tune em sí, que é apenas mais um recurso na produção musical. O problema é a maneira excessiva como tem sido utilizado, seja por opção ou por falta de opção, por falta de talentos.

Duas coisas que destaco do video:

01. Tem gente que já está aprendendo a cantar “imitando” o efeito do auto-tune, porque é o que escutam o dia inteiro.

02. As vozes do top 100 da música estão ficando, cada vez mais, iguais e indistinguíveis

03. Não perca a parte em que o Rick Beato faz um teste (aos 10:15), cantando um backing vocal desafinado de propósito e corrigindo pelo auto-tune.

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