Séries para descobrir: ‘Mythic Quest’, da Apple TV

Uma espécie de versão nerd de “The Office”, temperada com “30 Rock”.

Criador do game de RPG mais popular do mundo, o ‘Mythic Quest: Raven’s Banquet’, Ian Grinn (Rob McElhenney) é um cara egocêntrico, excêntrico e com tipo de falta de noção que poderia muito bem ser chamada de “charmosa”. Ele é o líder criativo do time que criou o game e agora trabalha para expandi-lo. 

Ao lado dele, está sua versão oposta, mas estranhamente complementar: a programadora, Poppy Lee (Charlotte Nicdao). 

Na superfície, a série ‘Mythic Quest: Raven’s Banquet’, da Apple TV, é uma versão nerd de “The Office”, temperada com “30 Rock”. As relações de trabalho obviamente estão no centro, já que quase todos os episódios se passam no escritório. Mas, mesmo ali, naquele ambiente hostil, acontecem alguns momentos de puro deleite. Nessas fretas da vida fora do escritório, no que as pessoas fazem e são que realmente podemos conhecê-las. 

Durante muito tempo a vida corporativa ignorava a vida fora da empresa. De uns tempos pra cá, essa fronteira ficou muito borrada, e você é obrigado a ser produtivo o tempo inteiro: transforma seus hobby em posts no LinkedIn, faz trabalho voluntário pra melhorar o perfil, dá palestras pra engordar o networking.  

Mas, ‘Mythic Quest: Raven’s Banquet’ não ignora a vida externa, a série mostra que para alguns pessoas, o trabalho é a única coisa real que elas podem ter. Ian é esse cara com visual ‘santacecilier’ e inseguro por não acreditar que pode ter uma ideia melhor do que a do próprio jogo.

Sua limitação é também fruto de uma extrema ansiedade social. As coisas precisam dar certo, independente de tudo. E rápido! 

O personagem fica melhor quando entra em conflito direto com outros tipos. A própria Poppy Lee, o fracassado escritor de ficção científica, CW; o adolescente streamer, Cagado (Elisha Henig); e uma estagiária psicopata chamada Jo (Jessie Ennis). 

Mythic Quest Ravens Banquet

Todos tem histórias próprias, não são escadas do Ian. Aliás, os roteiristas de ‘Mythic Quest: Raven’s Banquet’ brincam de viagem no tempo, criando episódios inteiros sobre o passado de um personagem sem ele nem aparecer. Quase como um spin off. 

Poderia tirar o espectador da série? Claro, mas o texto é esperto, sutil, e consegue manter uma unidade criativa que impede a história de se quebrar. 

Essa ‘expansão do universo’ do escritório é ainda mais impactante na trama de CW. A interpretação carregada do F. Murray Abraham é um achado. William Hurt também faz uma ponta, e Anthony Hopkins torna a narração de um dos episódios simplesmente épica.

O que é ainda melhor é o modo como a geração Z é retratada. Essa geração que passa 24h online, que vive no mundo apartado dos games e redes sociais, é muito ansiosa. Mas também já nasce numa era que coisas como o machismo ou a homofobia, são apontados em vez de escondidos. 

‘Mythic Quest: Raven’s Banquet’ não é uma série sobre game. O conceito é mais antigo. É sobre a vida sem joystick, que uma hora ou outra te obriga a perceber que nem no melhor dos mundos as coisas são perfeitas. 

E a graça é justamente essa. 

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