O que fazemos com o medo do fracasso?

Imagine um lugar onde ideias arriscadas sejam bem-vindas e as falhas se tornem oportunidades de aprendizado.

Não acreditei quando ele aceitou meu convite.

O presidente da Pixar e da Walt Disney Animation, Ed Catmull, disse sim para um chope e falar sobre inovação.

Eu quase tive um treco.

Cheguei mais cedo ao boteco, um lugar discreto, pois ele não queria chamar muita atenção.

Antes da primeira rodada, o papo já estava pegando fogo.

― Ed, como criar com inteligência quando a probabilidade de cometer erros aumenta em um mundo de mudanças tão rápidas?

― Na Pixar procuramos deliberadamente promover um ambiente colaborativo, não competitivo e não ameaçador, onde a geração de ideias arriscadas é plausível e permissível, e as falhas acabam se tornando uma oportunidade de aprendizado bem-sucedida. Nosso processo pode ser resumido em: confiar, arriscar, falhar e aprender.

Nessa hora, eu já havia secado meu copo, que tinha acabado de chegar. Não quis arriscar levar essa de boca seca. Respirei fundo e mandei outra.

― Por que as organizações inovadoras devem cometer erros para serem bem-sucedidas?

― Não há ciência para a criatividade ― disse, depois de secar a espuma no seu bigode. ― Como o Bob Iger, presidente e CEO da Disney, costuma dizer, trata-se de assumir riscos inteligentes, tolerar erros, respeitar limites e, o mais importante, ter as pessoas certas para fazer as escolhas certas.

Eu já tava com a mão levantada quando o garçom chegou com outra rodada. O braço erguido não era para pedir a palavra, mas o atendente foi mais esperto e me antecipou. Gênio!

Aproveitei que Ed estava ocupado, tragando outro grande gole de nosso chope brasileiro, o que ele comentou ser muito bom, e mandei mais uma.

― Sobre o gerenciamento desse “fracasso”, não existem riscos de tragédia?

― É claramente importante correr riscos criativos, especialmente quando o resultado pode ser “a grande recompensa” ― e, nessa hora, até piscou o olho esquerdo, o ganhador de vários Oscar’s. ― No entanto, alguns líderes esquecem que correr riscos também significa errar e, potencialmente, encarar “o grande fracasso”. Isso cria um paradoxo porque o fracasso é, na verdade, uma construção importante de organizações saudáveis.

― Sim! ― respondi com aquela cara de bobo, como quem sabe do que está falando.

― É hora de reconhecer “fracassos bem-sucedidos” como um ingrediente-chave do sucesso ― ele aproveitou que eu tinha ficado meio perdido e seguiu. ― Os líderes devem promover ambientes colaborativos, onde ideias arriscadas sejam bem-vindas e as falhas se tornem oportunidades de aprendizado.

― E o medo do fracasso, o que fazemos com ele?

― Considerando que o medo do fracasso pode causar paralisia criativa em algumas organizações, a implementação dessa cultura colaborativa pode criar equipes mais consistentes, que apresentam ideias mais criativas e geram soluções ainda mais inovadoras; sem medo de errarem, porque a falha é aceita como princípio de crescimento e ampliação de possibilidades.

Meus quinze minutos de entrevista haviam terminado e o agente do Ed já acenava para eu finalizar. Na verdade eu acordei abruptamente com o despertador, acabando com um dos sonhos mais interessantes que já tive.

Depois que acordei (com vontade de tomar um chope, é claro), fiquei pensando em como fantasiamos sobre a nossa vida pessoal e nossas empresas, disfarçando nossas imperfeições, maquiando falhas que poderiam ser excelentes oportunidades de aprendizado revolucionário, mas que preferimos esconder debaixo de densas camadas de desculpas.

Talvez as falhas sejam realmente possibilidades de crescimento, mas como o próprio Ed Catmaull diz sempre, não é bom repetir um acerto. Para ele, depois de acertar, devemos seguir em outra direção. A ideia é ter novos aprendizados feitos de novos erros. O erro deve nos motivar, muito mais que o acerto.

Para dar alguma credibilidade a esse texto, saiba que as falas fictícias do Ed foram baseadas em textos publicados no Disney Institute Blog. Tomei a liberdade de imaginar esse encontro, mas as ideias expressas no texto são todas dele. Afinal, seria um belo sonho poder pensar como um cara assim.

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