Criatividade é coisa de gente apaixonada

Nesse tempo, dominado por onipresentes algoritmos, nos resta a tentativa de encontrar algo dentro de nós.

Todos queremos ser mais criativos, até porque o mercado está fungando em nossos cangotes.

Desculpe o regionalismo, mas não resisti.

Vemos livros e cursos sobre o tema explodindo para todos os lados. Estamos sedentos e famintos por uma solução, mas parece que ainda não encontramos uma resposta consistente.

Gastamos fortunas em busca de cura para doenças, na incansável tentativa de tornar a vida o mais “longa” possível.

E agora, quando a criatividade tornou-se praticamente a única forma de enfrentar os desafios desse tempo, dominado por onipresentes algoritmos, nos resta a tentativa de encontrar algo dentro de nós que seja mais eficiente do que o código de uma máquina digital.

Precisamos assumir o risco do júbilo, precisamos ter a obstinação de aceitar a nossa felicidade em meio às cruéis provações deste mundo. Não, essas não são minhas palavras. Foi Jack Gilbert quem teve a audácia de as escrever, mas posso pegar emprestado o resultado de sua experiência. Falta a todos nós um pouco de ousadia e clareza sobre o que é “ser feliz”.

Se o controle da sua vida estiver literalmente em suas mãos, talvez você seja uma pessoa infeliz. Sim, saber exatamente o que fazer talvez seja um jeito triste de viver. A saga da experiência desconhecida pode ser transformadora. Tomar o anel, não o de noivado, e partir em uma jornada para salvar a Terra Média pode ser um jeito interessante se salvar a si mesmo.

Correr riscos é a única saída para uma criatividade genuína, e para isso não há fórmulas. Partimos para essa jornada sem ticket to ride, nem certeza de algum destino. A única certeza é a de que nunca haverá certezas, e isso talvez seja o motivo de tanta beleza para o ato criativo.

Bebemos doses cavalares de ficção, mas não temos coragem de assumir o controle de nossas vidas, talvez porque o risco é demasiado humano. O conforto é demasiado cativante e, como muitos sabem, nos tornamos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos.

Temos horror à ideia de abrir mão do que já está certo.

Mas, como enfrentar máquinas se temos dificuldades de reescrever o código que nos governa como seres humanos?

Desde o berço somos configurados para aceitar e proceder de acordo com o código cultural que nossos pais inserem em nossas mentes. A religião certa, a postura correta, o partido adequado, a roupa ideal, as palavras que funcionam, etc. Somos “máquinas biológicas”, programadas para lidar com uma realidade inventada para nós.

É impossível ser criativo sem romper com as regras.

Não acredito em cursos de criatividade. Acredito que seja impossível ensinar pessoas como ser criativas. A única forma de ser criativo é se libertando da forma como fomos programados. O único jeito de desenvolver alguma criatividade é encontrar um “por quê”, um motivo para ser criativo. Sem isso, a gente fica no mesmo lugar, sendo a mesma pessoa que acreditamos ser suficiente para viver a vida que vivemos.

Você e eu precisamos de motivos. Um incômodo que nos tira do lugar, que incendeia a curiosidade e nos deixa em suspenso, com aquele frio na barriga. Sem motivos é impossível sair do lugar. Sem razões é impossível reinventar a vida. Sem um “por quê” a gente simplesmente vaga pela vida como um zumbi de The Walking Dead, caminhando mortos pelo mundo, grunhindo famintos, encontrando o fim, ironicamente, quando alguma coisa atravessa nossas cabeças.

Pode parecer meio mórbido, mas é uma matemática social. Queremos apenas “estar” na vida ou existir no mais explícito sentido que o “ser” pode significar?

Nascemos, crescemos, estudamos, trabalhamos e morremos. Nem todos tornam-se césares, reis e celebridades. Nem todos deixam seus nomes registrados nos anais da história. E por que deveríamos deixar? Será que não seria melhor ficar quietinho no canto e permitir a vida apenas passar por nós, sem exceder os esforços e ser apenas o que a mansidão nos permitir?

Sim!

Não!

Talvez…

Tudo depende do seu encantamento pela vida. Cursos ensinam “como”, mas precisamos muito mais dos “por quês”. Não existe lógica para a criatividade, mas um sentimento único que causa estranheza no início, mas júbilo no final, a despeito dos duros esforços e muitos sofrimentos no meio dessa história.

Todos sentimos vontades estranhas, mas a maioria prefere não permitir que esses sentimentos ganhem vida. Sempre falta a coragem de ser original. Ainda preferimos a conformidade, o se parecer com todos, pois é mais seguro.

Se você não encontrar um por quê, uma razão, um motivo, jamais terá energia suficiente para fissurar o átomo que chama a atenção do mundo. Se a gente não explode, se a gente não desabrocha, nunca vai romper com as regras que nos definem.

Não há nada de errado em cursos de criatividade, e nem nos livros sobre o assunto. Todos são tentativas de reprogramar as ideias que temos sobre nós mesmos. O que precisamos entender é que fórmulas não são capazes de nos tornar criativos. Somos todos talentosos, do nosso próprio jeito.

Tentar ser criativo igual ao personagem X ou Y é perda de tempo.

Máquinas precisam de códigos para funcionar, seres humanos precisam apenas de motivos para se apaixonar. Sem medo de errar e sem medo de apreder com isso.

Isso não é apaixonante?!

A própria vida é um “curso”, um fluxo inesgotável de experiências que afetam nossos sentidos. Devemos usá-los melhor, a fim de que cada percepção seja um divertido pulo no infinito. Sempre tem algo novo na direção que nossos olhos miram. No cheiro, na textura, no som, no sabor e, com certeza, na combinação de tudo isso.

Devemos estimular um mergulho profundo em nossa humanidade. Para que voltemos de lá dispostos a questionar nossa própria ideia de orgulho, e assim reinventar a vida, sem seguir fórmulas. É no encontro com a nossa essência que nascem as ideias mais poderosas, únicas e inesquecíveis. Daí, nada mais será impossível.

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