Como a blogosfera reinventou o jeito de produzir e consumir conteúdo e abriu caminho para as redes sociais

Leia aqui, com exclusividade para o Update or Die, trecho de “Por Conta
Própria – Do desemprego ao empreendedorismo: os bastidores da jornada que
me salvou de morrer profissionalmente aos 40.”

O Adriano é um amigo de longa data, amizade esta que nasceu justamente por conta deste momento de construção da Blogosfera brasileira, que trilhamos meio que em paralelo, ele no Gizmodo e eu, aqui, no Update or Die (e lá se vão 16 anos).

Tive o prazer de ser convidado para escrever a orelha de seu mais recente lançamento, o ótimo “Por Conta Própria”. Leitura leve e divertida que conta um pouco daquela época boa do “comecinho de tudo” da qual temos muito orgulho de ter participado ativamente.

Em Por Conta Própria, Adriano Silva, publisher do Projeto Draft, compartilha
os acertos e erros da sua trajetória como empreendedor digital.

Um Trecho do Livro

Leia aqui, com exclusividade para o Update or Die, trecho de Por Conta
Própria – Do desemprego ao empreendedorismo: os bastidores da jornada que me salvou de morrer profissionalmente aos 40.

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Adriano Silva

Lançamos o Gizmodo no Brasil em 2008. O Giz era a ponta de lança da
blogosfera. E a blogosfera se tornou rapidamente o ambiente mais dinâmico da Internet, onde os usuários mais influentes se encontravam.

Os blogs funcionavam como uma espécie de Internet dentro da Internet. O
medo que muitas empresas ainda tinham da Internet, por aqueles dias, era
equivalente ao medo que a própria Internet tradicional tinha da blogosfera.
Enquanto algumas marcas ainda relutavam em investir na construção de uma
presença online, e se agarravam ao mundo analógico, essa Internet que as
assustava já estava se tornando obsoleta diante do novo jeito de produzir,
publicar e consumir conteúdo online trazido pela blogosfera.

Os blogs se consolidavam como um ambiente digital vibrante, que produzia
conhecimento, antecipava novidades e com frequência pautava discussões. A blogosfera trouxe disrupções importantes.

Pela primeira vez o usuário ganhava uma voz tão importante quanto a própria
voz do site. Os blogs efetivamente conversavam com seus usuários, de modo próximo e horizontal. A conversa acontecia pessoa/pessoa – e não
pessoa/instituição, como nos veículos tradicionais. Assim os blogs se tornaram vibrantes ambientes de discussão – incorporando a tradição dos fóruns e dos chats que já eram populares na Internet.

A experiência de consumir informação num blog advinha apenas 50% da
matéria publicada – o post. A outra metade emergia dos debates e das
informações e opiniões registradas nos comentários. Os usuários ganhavam nos blogs um espaço e uma importância que a mídia tradicional jamais lhes
oferecera.

Os acréscimos trazidos ao leitor por essa interatividade com os demais usuários tornavam obsoleta a experiência de consumir conteúdo em sites convencionais (e ainda muito mais em veículos analógicos) em que só a voz de quem assinava a matéria, ou era citado nela, podia ser ouvida.

Uma revista de grande audiência recebia à época 2 ou 3 mil mensagens por mês – e publicava 20 ou 30 dessas mensagens na edição seguinte, que saía algumas semanas mais tarde.

No Gizmodo, nós recebíamos 2 ou 3 mil mensagens por dia – e publicávamos todas, comentando muitas delas em tempo real.
Num jornal, a experiência de leitura terminava no ponto final. No Gizmodo,
depois do ponto final havia ainda uma enorme oferta de análise e de inteligência ao leitor – trazida pelos comentários dos usuários. O modo como a comunidade abraçava, mastigava e deglutia o tema em questão engrandecia muito a compreensão do assunto e a formação da opinião do leitor.

No Gizmodo, depois do ponto final havia ainda uma enorme oferta de análise e de inteligência ao leitor – trazida pelos comentários dos usuários.

Adriano Silva

Os blogs, ao darem voz aos usuários, se beneficiaram da inteligência coletiva de seus leitores – a chamada Wisdom of the Crowd (ou “Sabedoria da Multidão”).
E, assim, se tornaram muito influentes. As pessoas afirmavam em pesquisas que nada influenciava tanto as suas decisões, a começar pelas de compra, quanto o testemunho de outras pessoas.

Mais do que a opinião dos especialistas estabelecidos na mídia tradicional, mais do que a opinião dos próprios editores dos blogs, os usuários confiavam nos depoimentos de outros usuários e na troca de experiências e impressões entre seus pares na comunidade.

A blogosfera estabeleceu o próprio conceito de comunidade. As pessoas não
apenas tiveram a chance de conversar com seus sites prediletos – mas passaram a poder conversar entre si, no ambiente de seus sites preferidos.
Isso pavimentou o caminho para o próximo grande fenômeno da revolução
digital – as redes sociais –, que acabou desbancando a própria blogosfera.
Os blogs educaram os usuários a produzir conteúdo – o nome científico disso é User Generated Content (UGC) – em ritmo diário. A blogosfera tirou o
microfone da mão de uns poucos e com isso solapou o poder discricionário de jornalistas, editores, publicitários e demais gatekeepers – ou intermediários – da informação, que por décadas decidiram o que seria visto por todos e o que jamais seria publicado.

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Os blogs apearam todos esses curadores clássicos de seus respectivos púlpitos, e deu a todos os indivíduos a chance de construir uma voz e uma audiência ao redor de si. O microfone estava democratizado. Alguns desses usuários se tornaram grandes influenciadores – termo que seria cunhado na década seguinte –, se transformando em blogueiros, vlogueiros e, mais tarde, youtubers, instagrammers e celebridades do TikTok.

Se hoje temos uma geração de creators – humoristas, apresentadores e
comentaristas de tudo quanto é assunto, colunistas com expertise em várias
especialidades, além de atores e diretores, cantores e produtores, repórteres e editores, redatores e escritores, comentaristas, apresentadores, videomakers – que nasceram e se desenvolveram no meio digital, como conteudistas, isso se deve grandemente à blogosfera e seus pioneiros.

O empoderamento dos usuários, que começou nas áreas de comentário dos
blogs, e depois ganhou escala nos perfis do Twitter, a partir de 2008, e nas
páginas pessoais do Facebook, a partir de 2009, para na década seguinte se
multiplicar em ambientes como YouTube, Instagram, SnapChat e TikTok, se
traduz numa das maiores disrupções da história dos meios de Comunicação.
A abundância da oferta de conteúdo, e o acesso irrestrito às ferramentas para produzi-lo e publicá-lo, por não-profissionais da Comunicação, por gente sem formação específica na área, é um fenômeno que virou a indústria da mídia de cabeça para baixo.

A democratização do acesso aos meios, e a escolha dos novos ídolos e dos
formadores de opinião sendo realizada de modo aberto, por decisão popular, em tempo real, e não mais pelos executivos de meia dúzia de empresas de
Comunicação, em gabinetes fechados, se tornou uma conquista irreversível.

Adriano Silva é Founder e Publisher do Projeto Draft e está lançando Por Conta
Própria – Do desemprego ao empreendedorismo: os bastidores da jornada que
me salvou de morrer profissionalmente aos 40.

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