Tretas, lições e cabeçadas em mais de 10 anos de projetos criativos colaborativos

Longe de mim dar qualquer tipo de lição, mas sempre quis colocar essas ideias no papel. Acho que eu gostaria de ter lido isso antes de todas as cabeçadas que dei nos últimos anos. O conteúdo não é necessariamente original, mas tudo bem, é isso mesmo. Se você tiver uma sensação de DejaVu, é porque apenas catei pedaços que foram forjados ou ficaram pelo caminho. São fragmentos de textos, insights em torno de acontecimentos reais, feedbacks de colegas, amigos ou devaneios mesmo.

Fato é que desde 2012, quando fui trabalhar no Movimento Minas – que propunha a cocriação de políticas públicas através da participação dos cidadãos – me envolvi em diversos projetos, ideias e negócios criativos/colaborativos.

Enfim, sem mais blablabla, vamos ao que interessa. Talvez possa ajudar alguém, ou confundir, mas já diria o mestre Tom Zé “Eu to explicando pra te confundir. Eu to confundindo pra esclarecer.”

  • A qualidade de uma ideia faz menos diferença do que sua capacidade de testá-la. Toda ideia é boa até ser confrontada com o mundo real. Execute o que for possível primeiro, não se apegue ao estado da arte do que está na sua cabeça. Às vezes, tudo que uma ideia pode ser nunca será porque você não começou esperando a conjuntura perfeita.
  • Fazer junto é sempre melhor, mas dá muito mais trabalho. Nada é mais bonito do que perceber a inteligência coletiva em ação. Não vai acontecer com todo mundo, mas aos poucos você aprende a fazer escolhas. No entanto, cuidado pra não cair na armadilha do isomorfismo normativo de se conectar só entre os que se parecem com você. 
  • Ajudas surgem de onde você menos espera. Fale com todo mundo. Sem vender ou pedir. Não faça disso uma relação funcional. Aos poucos os plugs se acertam e você saberá com quem contar.
  • Não adianta esperar jacaré subir em árvore. Conecte as pessoas (e suas habilidades) de forma a desfrutar do melhor que elas podem oferecer. Não insista em enquadramentos ou tarefas que não têm nada a ver com os envolvidos. 
  • Aproveite a onda, mas não deixe ela se esgotar na margem. Volte e prepare-se para a próxima onda. Se você queria ou pensou em algo mas deixou a onda passar, desapegue e parta pra próxima. Insistir é desperdício de energia. 
  • Somente o distanciamento será capaz de te oferecer a perspectiva necessária para avaliar o que aconteceu. Não se precipite em tentar entender o que ainda não está pronto para ser entendido.
  • Recursos nem sempre são um diferencial competitivo. Na verdade, recursos demais podem até ser um grande problema, pois inibem a criatividade. Fazer sem recursos é mais legal, instigante e te ensina muito mais. Tente separar tudo que é commodity do que é central e faça o máximo pra provocar parcerias e soluções criativas em torno das commodities. 
  • Quem tem uma boa ideia, tem várias. Não precisa proteger sua ideia. Ela cresce como fogo, precisa de contato, oxigênio e apaga se isolada.
  • Existem papéis diferentes entre os envolvidos: pessoas que têm ideias, que desafiam o grupo, quem cuidam dos colegas, quem são bons para organizar e estabilizar as coisas, os articuladores, produtores, etc. Não espere uma entrega linear entre um grupo de trabalho e descubra rapidamente qual o seu papel. Não necessariamente é aquele que você deseja, mas onde pode contribuir mais. 
  • Por mais que as tecnologias de comunicação e compartilhamento tenham avançado, nada substitui o trabalho coletivo presencial. Mais do que isso, é importante estar juntos em momentos sem um objetivo específico. A convivência promove reflexões muito boas nas “horas inúteis”.  
  • Não resolva nada por WhatsApp, em hipótese alguma. Sobretudo se for algo complexo. Tente ao máximo fazer uma conversa presencial, ligue, faça um skype, sei lá, mas a troca de mensagens inflama mais do que resolve qualquer coisa.
  • As pessoas de fora até compram sua ideia, mas ficam esperando ela ser validada pra se engajar. Ninguém se importa com seu movimento. E tudo bem. Às vezes, o que tá na sua cabeça precisa de um pouco mais de materialidade para trazer outros a bordo. 
  • Você vai perder amigos. Você vai ganhar amigos. 
  • Existem outros indicadores de sucesso além de receita, escala e longevidade. Pessoalmente, nada é tão valioso quanto perceber o impacto ou transformação de alguém. Mesmo que seja uma única pessoa. 
  • Se um contrato for necessário, não é o contrato que vai te salvar. O uso de um contrato já revela que as relações azedaram. Não existe meia confiança. 
  • Governança é uma das coisas mais subestimadas e talvez seja a que mais destrói negócios. Pactuar e repactuar os combinados sobre governança, alçadas, papéis e responsabilidades precisa ser uma rotina constante. O mundo muda, as pessoas mudam e obviamente, os interesses também. 
  • É super difícil, mas evite ao máximo as conversas laterais. Fale diretamente com as pessoas e não sobre as pessoas. E fale na hora. Baseado em fatos, dados ou evidências de algo que te desagradou. Quando não falamos, isso cresce na gente, vira um sintoma e pode emergir quando menos esperamos. Além disso, as vezes o outro não faz a menor ideia do que te desagradou. Falar, dá ao outro a oportunidade de avaliar, reconhecer ou não e rever ou reafirmar posições. 
  • Seja responsável pelo impacto que provoca nos outros. 
  • Pense contra-intuitivamente. O lugar do pensamento intuitivo te leva ao senso comum. Se todo mundo sabe exatamente o que está fazendo e pra onde estamos indo, há algo de errado. 
  • Tenha críticos e abrace as críticas. Se você não se expor à crítica, pode perder feedbacks valiosos. Seus “haters” são seus melhores amigos na hora de apontar algo que pode melhorar. No entanto, existe um filtro de convicção aí que é bem sensível. Engrossar as canelas para algumas pancadas e saber firmar posição quando necessário. Se eu soubesse a receita, aiai. 
  • Competição é fundamental. Nenhum time é tão forte e grande sem um rival. Bill Gates e Steve Jobs se desafiaram o tempo todo e por isso ficaram tão bons. Exemplos positivos da concorrência são inúmeros. A questão é: competição é bom, mas não se oriente por ela. 
  • Tenha sempre uma mentoria externa, com distanciamento. Alguém que admire, que não tenha nada a ver com o que você está fazendo. Essa pessoa consegue ver coisas que você nunca vai enxergar. Cultive esse tipo de relação. 
  • Diversidade melhora o resultado. Não é da boca pra fora, nem pra ser politicamente correto. Quanto mais diverso, melhor o grupo. Simplesmente porque amplia o repertório e as visões de mundo. 
  • “Você não é todo mundo” Se todos caminham numa direção, experiente o caminho contrário, ou simplesmente se pergunte: “Por quê?”. E se a gente virar uma tendência de cabeça pra baixo? 
  • Não to aqui pra atender a expectativa de ninguém. Sim, acredito que há uma diferenciação de talento e potencial, o que não quer dizer que uma pessoa seja melhor em sua humanidade. Mas para um projeto, sim. A relação 80/20 do “paretão” neste caso chega até uns 90/10 ou mais. Não se engane, nem todo mundo é brilhante. Pelo menos não da forma que você precisa e espera. Pelo contrário, encontrar gente brilhante é uma tarefa hercúlea. E essas pessoas não são mais importantes que as outras.
  • Dinheiro e emoções são um fórmula explosiva. O que você não tem combinado antes da grana chegar, não vai melhorar quando você faturar. Na verdade, inflama e piora exponencialmente. O mesmo vale para as emoções do grupo. Se elas se misturam, pare e trate ou depois me conte quando o pau quebrar. 
  • Não espere que os outros trabalhem como vc. Se você está apaixonado, não cobre a sua paixão nos outros. O problema é seu. Quando você se compara aos outros em relação a algo importante pra você, vai ser frustrante e doloroso. E os outros não estão errados. 
  • Os seres humanos possuem uma espécie de radar para legitimidade. Quando algo é legítimo e autêntico, os outros se ligam de forma mais profunda. Quando é fake ou tem outros interesses por trás, pode até engrenar, mas não se sustenta no longo prazo. 
  • Tenha um projeto para aprender e não pra ter sucesso. O resultado não é o resultado. É a curva de aprendizado e as relações construídas, não a repercussão ou a grana. 
  • Espere menos dos seus laços fortes e mais dos laços fracos. As pessoas mais distantes te julgam menos e justamente por isso estão mais abertas a te ajudar. Laços fortes se acomodam no conforto de relações já estabelecidas.
  • É curioso como as pessoas mais incríveis também foram as menos trabalhosas para construir junto. São mais generosas, operam com a mentalidade de abundância e não de escassez. Quem fica fazendo conta de migalha, merece as migalhas que tem. 
  • Conflitos vão acontecer, não evite. Conflitos deflagram verdades. Se não tem conflito, você não está fazendo algo importante o suficiente. 
  • Bata bola com quem quer bater bola com vc. Não invista energia tentando converter quem não tá afim. Já corri muito atrás de gente que nunca consegui conectar apesar do desejo, interesse e convergência de projetos. Não adianta. Tem gente pra caramba pra se plugar a você. Honre essas relações. 
  • Todo mundo quer fazer parte, mas poucos querem fazer a própria parte. 
  • Cocriação não é consenso. O consenso te leva para a média e a média é medíocre.
  • Cuidado com a síndrome de Guns N Roses, aquela banda que acabou mas insiste em se manter viva. Mate a ideia antes que ela te mate. Desapego é o que te proporciona coisas novas. 
  • Prepare-se muito! “A sorte favorece a mente preparada”. Nada substitui preparo, conteúdo, aprendizado, experiência e consistência. Quando o bicho pega, é isso que te dá uma base mais firme. Iniciativa queima rápido demais. Conteúdo é o que faz a diferença em longo prazo. 
  • Esforço bem intencionado não salva uma aposta ruim. Largue a aposta. Vai doer, mas largue. 
  • Gere mais valor para suas parcerias do que elas geram pra você. Nunca entre numa relação pensando no que pode extrair. A lógica da abundância é o que te valoriza. Ofereça mais antes de pensar em receber qualquer coisa. Essa conta se equaliza naturalmente. 
  • Trabalhe com quem você respeita e admira, não com quem vc gosta. Se você não admira e respeita o trabalho, fazer junto vai azedar a amizade. 
  • Um projeto, movimento ou ideia não é um negócio. Às vezes, quando precisa se tornar um negócio já tá na hora de acabar. 
  • Ninguém se engaja em nada quando a necessidade bate na porta. Se alguém está em dificuldades de qualquer natureza, isso vai falar mais alto. Respeite.
  • Quem faz, faz, quem não faz, fala. 
  • Aprendemos a começar, mas não aprendemos a terminar coisas. Nossa cultura é muito despreparada para fins, mortes, encerramentos. Aprender a finalizar coisas talvez seja o gap mais absurdo que senti na prática. 
  • Coisas muito boas também dão errado. 
  • Seu projeto, iniciativa, negócio é sempre um meio. Nunca um fim em si mesmo. 
  • Timing é tudo, ou quase tudo. Não adianta querer resgatar momento passado ou projetar momento futuro. Entenda o momento presente.
  • Todo mundo tem um plano. Todo mundo tem um projeto. Ou vários. Mas não se engane. Conheci todo tipo de projeto que parece mas não é. Isso sim é uma epidemia contemporânea. Só o tempo consegue separar as verdades das falácias: o tempo oferece as melhores validações e respostas. 
  • Seu talento não vale nada se você não o coloca em jogo. Realizar é um esporte de contato. Tem que ir pra campo, sujar o uniforme, se misturar, olhar nos olhos. 
  • Visibilidade e vaidade são uma tentação invisível: quem acreditar no canto da sereia, morrerá afogado. 
  • O sucesso talvez seja o maior risco da sua iniciativa. Se você passar a gastar mais energia para manter o sucesso do que pra se arriscar e aprender coisas novas, caminha a passos largos para a obsolescência. 
  • Uma iniciativa não é sobre você. É sobre os outros. Não é sobre você. Repita: Não é sobre você. Depois repita de novo. Não é sobre você, o que você quer ou acha importante. Não é uma expressão individual: é o momento em que algo que te move encontra uma linguagem que se conecta aos outros. O segredo tá nessa conexão, não em você.
  • Esperar das pessoas mais do que elas podem oferecer é perverso. Esperar menos do que elas podem contribuir é tolice. 
  • Aproveite os momentos celebrando intensamente as vitórias. Muito mesmo! Você nunca sabe quando será a próxima. Eu celebrei pouco, queria ter aproveitado mais. 
  • Compartilhe seus medos e ansiedades pessoais. Toda a carga pode ser pesada demais e precisa sair de alguma forma. Faça terapia. Muita terapia e esporte. 
  • Não existe caminho fácil para realizar algo que você ama em conexão com o mundo: acredite, você vai trabalhar muito, muito, muito mais. Não é bonito e instagramável. São horas eternas, todos os dias. O caminho passa por um nível de entrega infinitamente mais intenso do que qualquer emprego. 
  • O segredo não é a alma do negócio. Comunique suas ideias. Não tenha medo. Comunique muito. Seja um embaixador. Quanto mais melhor. Se alguém roubar sua ideia, essa pessoa tem seus méritos. Não se preocupe. Quanto mais você expandir seus planos, mais consegue mover outras pessoas. 
  • Não existe dívida de algo compartilhado. Se você sente que alguém ficou te devendo, é preciso fazer um esforço para abrir mão desse pensamento ou só vai te gerar sofrimento. 
  • O que é mais importante? Ser legal ou fazer o necessário? Em alguns momentos, essa decisão vai pesar e acredite, não dá pra ser legal o tempo todo. Viva bem com isso ou nem se aventure. 
  • Demorei pra largar a segurança de um emprego pra me arriscar empreendendo. Na verdade, acho que fiz isso na hora certa, pois foi um caminho muito mais natural do que desejado. Quando eu vi, já estava fazendo. Mas é claro que não posso deixar de reconhecer um lugar de privilégio por tudo. Desde educação até a segurança de poder contar financeiramente com minha família, caso fosse necessário. Milhões não têm a mesma possibilidade. Nada caiu do céu, mas meu ponto de partida é e sempre será facilitado por ser branco, homem, de classe média, com acesso a educação particular, etc. 
  • Tenha sempre uma facilitação neutra nas reuniões. Não subestime o papel de um mediador. Isso traz assertividade ao processo e regula as emoções. 
  • Seja humilde e peça desculpas pelas suas derrapadas, sempre! Mesmo que te custe muito caro ou você ainda sinta que tem razão. Peça desculpas. 
  • Não se engane, o que foi importante pra você, fica só na sua memória. O que aprendemos vale a pena, mas quando uma iniciativa acaba, o mundo só se importa com uma coisa: a próxima. 

Ufa, chegou até aqui? Que legal! Pretendo manter essa lista viva, assim posso adicionar ou editar aprendizados ao longo do caminho. Caso queira compartilhar impressões e sentimentos comigo, manda ver. 

Abraço! 

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