O “kind” de Humankind. Afinal, o ser humano é ou não é do bem?

Premissa ousada: a de que, no fundo, a humanidade é bondosa por natureza.

Acabei de ler “Humankind” (no Brasil é vendido como “Humanidade“, do Rutger Bregman. É um livro com uma premissa radical e ousada: a de que, no fundo, o ser humano é um ser bondoso por natureza.

A leitura apareceu na hora certa. A dúvida, que já passou pela cabeça de tantos filósofos como o Rousseau, só para ficar no mais conhecido, também me faz pensar no assunto com frequência. Tem dias que acordo desacreditado na raça humana. Outros, me encanto com gestos individuais e/ou coletivos dignos de heróis.

Se existe uma crença que une esquerda e direita, psicólogos e filósofos, pensadores antigos e modernos, é a suposição de que os seres humanos são maus – e ponto final.

É uma noção que pode ser vista diariamente nas manchetes dos jornais. De Maquiavel a Hobbes, de Freud a Pinker, essa crença moldou o pensamento ocidental. O ser humano é egoísta por natureza e age, na maioria das vezes, pensando no interesse próprio.

Mas… e se a humanidade não for de fato má por natureza?

O best-seller internacional de Rutger Bregman oferece uma nova perspectiva sobre a história da humanidade com o objetivo de provar que somos “programados” para a bondade, voltados para a cooperação em vez da competição e mais inclinados a confiar em vez de desconfiar uns dos outros. Na verdade, esse instinto tem uma base evolutiva que remonta ao início da história do Homo sapiens.

Éramos assim até inventarmos a agricultura, a propriedade e a competição. Esse é o conceito defendido pelo filósofo Jean Jacques Rousseau, um dos pais do iluminismo. Segundo o francês, o homem nasce livre – é a civilização que lhe coloca correntes.

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A partir de inúmeras e importantes pesquisas, de uma argumentação revolucionária e convincente e exemplos reais, Bregman mostra que acreditar na humanidade, na generosidade e na colaboração entre as pessoas não é uma questão de ter uma “atitude otimista”, mas sim uma postura realista. E tal comportamento tem enormes implicações para a sociedade. Quando pensamos no pior das pessoas, isso traz à tona o que há de pior na política e na economia. Mas, se acreditarmos na bondade e no altruísmo da humanidade, isso formará a base para alcançarmos uma verdadeira mudança na sociedade.

Visão geral

Por séculos, acreditamos que os humanos são egoístas, violentos e maus por natureza. Literatura, sociologia, psicologia, arqueologia e muitos outros campos tentaram nos convencer disso. Em Humankind (2020), Rutger Bregman quer provar o contrário.

Os humanos são, por natureza, seres gentis. Somos programados para ser. É por isso que conseguimos sobreviver aos Neandertais e outras espécies primas. No entanto, a pesquisa que apóia essa afirmação recebeu pouca ou nenhuma atenção, enquanto a pesquisa que apóia a antítese foi amplamente divulgada, apesar das imprecisões e da metodologia inadequada.

Nossa crença no humano mau inerente pode estar contribuindo para uma profecia autorrealizável. Quão diferente seria o mundo se acreditássemos que a maioria das pessoas é essencialmente gentil? Uma ideia que há muito se sabe que deixa governantes nervosos. Uma ideia negada por religiões e ideologias, ignorada pela mídia e apagada dos anais da história do mundo.

Ao mesmo tempo, é uma ideia legitimada por praticamente todos os campos da ciência. Uma ideia corroborada pela evolução e confirmada no dia a dia. Uma ideia tão intrínseca à natureza humana que passa despercebida.

Se ao menos tivéssemos coragem de levá-la mais a sério, seria uma ideia capaz de dar início a uma revolução. Virar a sociedade de cabeça para baixo. Pois, quando se entende seu significado real, não é nada menos que uma droga alucinante que nos levaria a nunca mais ver o mundo da mesma maneira.

Evite as notícias. As notícias ganham dinheiro com o nosso famoso viés de negatividade. Pode parecer que estamos sintonizados com a realidade, mas o que acontece de fato é que as notícias acabam distorcendo a nossa visão do mundo, e fazem-nos odiar uns aos outros. Pense cuidadosamente na informação que alimenta a sua mente.

Em tempo: toda vez que faço uma crítica ao jornalismo me sinto na obrigação de repetir que não há NENHUMA conotação político-partidária nisso porque o Bolsonaro critica a imprensa também, mas a minha crítica não tem nada a ver com a dele e existe desde sempre e muito antes. Minha posição é a de que estamos há décadas a mercê de políticos inescrupulosos de direita, de esquerda, de cima e de baixo. E de uma imprensa que capitaliza a negatividade que tem sempre um enorme apelo ao nosso cérebro reptiliano bugado. Disclaimer feito, segue o post.

E sim, consuma news proativamente e nunca passivamente.

Alguns highlights e insights do livro


# 1
Segundo os cientistas, há 50.000 anos, havia pelo menos cinco espécies humanas diferentes além de nós Homo sapiens: Homo erectus, Homo floresiensis, Homo luzonensis, Homo denisova e Homo neanderthalensis. Todos eles humanos, mas todos foram extintos.

# 2
Dada a história da humanidade de tendência à limpeza étnica e genocídio, é difícil negar a possibilidade de termos sido responsáveis ​​por sua morte. Mas a verdade provável é muito menos sombria e muito mais edificante.

# 3
As mais famosas espécies de nossos primos são os Neandertais. Eles eram mais espertos do que nós, e muitas das invenções que temos agora foram criadas por eles – mas sobrevivemos a eles. E não o fizemos porque éramos maus – mas porque éramos amigos.

#4 Estudos realizados em cães e raposas revelaram que os mais amigáveis ​​e sociáveis ​​deles eram os mais inteligentes. Os cães foram domesticados porque os humanos os consideravam amigáveis ​​e sua sociabilidade os tornava mais inteligentes.

# 5
Da mesma forma, embora os neandertais fossem mais espertos, eles não eram muito sociáveis. Embora tivessem grandes invenções, seus colegas neandertais não aprenderam com eles com rapidez suficiente, porque não tinham as grandes redes sociais que o Homo sapiens tinha.

# 6
Foi nossa capacidade de aprender rapidamente com os neandertais e espalhar esse conhecimento que nos ajudou a superá-los. Mantermo-nos juntos e aprender uns com os outros nos ajudou a enfrentar os desafios evolutivos que derrubaram os Neandertais.

# 7
Somos máquinas de aprendizagem ultrassociais, predispostas a aprender, criar laços e brincar. Isso é o que nos diferencia das outras espécies. É por isso que corar é a única expressão humana que é exclusivamente humana. É uma expressão social que mostra que você se importa com o que os outros pensam, além de promover a confiança e permitir a cooperação.

# 8
No entanto, há um elefante na sala: se somos tão amigáveis ​​e sociáveis, como explicamos a guerra, o terrorismo e o crime? Acontece que o mesmo hormônio que nos torna mais amigáveis, a oxitocina, também aumenta nossa aversão por pessoas que não pertencem aos nossos grupos.

# 9
Parece que quanto mais nos apegamos aos nossos, mais vemos o outro como inimigo. Mas isso significa necessariamente que estamos predispostos a matar violentamente nossos inimigos?

# 10
Durante a Segunda Guerra Mundial, o coronel e historiador Samuel Marshall acompanhou o contingente dos EUA na Batalha de Makin para estudar o comportamento das tropas quando os inimigos se aproximavam. Depois da batalha, que eles perderam, ele entrevistou os soldados que receberam a garantia de não serem punidos, independentemente do que dissessem.

# 11
Surpreendentemente, ele descobriu que 75 a 85% dos soldados nunca dispararam suas armas e deixaram os inimigos passarem. Outros dados de diferentes batalhas ao longo da história também mostram que a maioria dos soldados nunca disparou suas armas ou mirou muito acima da cabeça dos inimigos.

# 12
Isso não deve ser confundido com covardia, porque os soldados não fugiram – eles apenas tinham uma aversão à violência. A maior parte da violência nas batalhas foi feita por minorias muito pequenas. A maioria das guerras dura pouco, com batalhas raras entre elas. Os humanos não são sedentos de sangue.

# 13
Se for esse o caso, por que as guerras aconteceram? Como passamos de tribos amigáveis ​​para clãs beligerantes? O culpado parece ser o avanço da civilização. Quando nos estabelecemos e começamos a dividir terras, animais e recursos, e as pessoas assumiram posições de poder, as coisas começaram a dar errado.

# 14
Grandes pensadores como Platão e Aristóteles acreditavam que, sem escravidão, a civilização não poderia existir; e escravos foram adquiridos depois que pessoas no poder, líderes e reis, criaram exércitos e ordenaram que fizessem o mal enquanto eles sentavam e assistiam à distância.

# 15
O poder corrompeu as mentes dos poucos humanos que o possuíam, e eles foram capazes de forçar as centenas, milhares e milhões abaixo deles a irem contra seus instintos para o bem.

Humanidade pode ser comprado aqui por 40 reais. Vale.

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