As novas maneiras de ler

Como o YouTube, o Instagram e os influenciadores estão re-inventando e incentivando o hábito da leitura.

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Não é novidade que, nos seus dezesseis anos de existência, o Youtube contribuiu para a democratização de práticas, para o acesso ao conhecimento e ao debate de ideias. No âmbito da literatura, canais precursores como o de Tatiana Feltrin, criado quando a plataforma ainda engatinhava (2007) e hoje acompanhado por 480 mil pessoas, trouxeram uma linguagem descomplicada para discutir as obras-primas do cânone. Com 155 mil inscritos e 11 anos de existência, o Literature-se, de Mell Ferraz, tem realizado, além de resenhas que regularmente são exibidas na plataforma, um projeto denominado “Live de Sprints”, no qual a Youtuber transmite a própria leitura silenciosa ao vivo, servindo de companhia virtual a outros leitores que, naquele momento, careçam de um incentivo para ler as páginas pretendidas do dia.

Em sua “Live de Sprints”, Mell Ferraz, do canal “Literature-se”, faz companhia aos seus seguidores que com ela leem e estudam, durante a transmissão ao vivo.

Se o Youtube representou um campo aberto para que as pessoas compartilhassem os seus interesses em comum, irrecusável foi, nesse sentido, a trajetória do Instagram que, também no meio literário, impulsionou as tiragens das livrarias e o investimento das editoras em tratamentos de edição impecáveis, trazendo os livros novamente para o centro da conversa. Desse movimento, também se beneficiaram Tatiana Feltrin e Mell Ferraz. Outro divulgador da literatura nas redes, Pedro Pacífico, do perfil Book.ster, é uma referência para a escolha dos próximos volumes a serem lidos e àqueles que necessitem de inspiração para assimilar que “ler é um hábito diário”. Como Tati e Mell, o bookgrammer transitou para outras plataformas, como o Youtube e o Spotify, no qual apresenta o podcast Daria um livro, entrevistando escritores e entusiastas da literatura sobre as suas preferências e sugestões literárias.

A potência influenciadora das redes trouxe até mesmo as universidades para o seu território. O Literatura Inglesa Brasil, por exemplo, nasceu como projeto de extensão da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e hoje promove uma abordagem fecunda sobre a literatura de expressão inglesa, ancorada num repertório acadêmico transformado em vocabulário mais palatável a todos os leitores. O conteúdo digital do perfil apresenta resenhas, breves lições sobre autores de tradição inglesa, irlandesa e estadunidense e divulga cursos, vinculados ao espaço acadêmico. Ademais, organiza um clube do livro com tertúlias literárias mensais.

https://www.instagram.com/p/CK9pC4rjFVQ/
Marcela Santos Brigida (Doutoranda em Literaturas de Língua Inglesa) é responsável pelo Literatura Inglesa Brasil, projeto de extensão ligado ao Departamento de Letras Anglo-germânicas da UERJ.

É incontestável que a leitura é uma atividade solitária. Entretanto, ela se torna mais instigante quando a sabedoria que proporciona encontra terreno para se disseminar. Nesse sentido, as redes edificaram uma ponte entre tantos leitores reclusos e estreitaram os laços entre os livros e as pessoas. Durante a pandemia, num momento em que permanecemos mais tempo em casa, é impossível negligenciar a importância desses perfis na propagação da prática da leitura como entretenimento, companhia e poderoso meio de expansão do pensamento. Embora o confinamento seja uma realidade difícil, entre tantas desventuras que este novo cenário nos impõe, bookgrammers e booktubers atinaram para uma nova possibilidade: juntarem-se ao seu público, virtualmente, para discussões de obras específicas. É claro que projetos de leitura coletiva e clubes do livro existiam anteriormente, mas essas práticas antigas têm encontrado horizonte para crescer vertiginosamente. Há clubes do livro de todos os gêneros e para todos os gostos. Entre eles, destacamos alguns abaixo:

  1. Aventuras pelos meandros dos clássicos, com o “Quero morar numa livraria”.

Paula Carvalho elabora um conteúdo independente sobre literatura. O seu perfil no Instagram é uma oportunidade para a leitura conjunta de clássicos ou mesmo para inaugurar o contato com o cânone. O percurso de leitura adotado por Paula é muito interessante, pois ela frequentemente recomenda materiais complementares, que enriquecem a experiência de leitura.

https://www.instagram.com/p/CIBNSeeB8rG/
Clube de leitura de clássicos, do “Quero morar numa livraria.

2. Um olhar para a literatura, pelas lentes da psicanálise.

Liderado por Fabiane Secches, pesquisadora, tradutora, crítica literária e professora de literatura, o clube originou-se num grupo de estudos sobre literatura e psicanálise. Fabiane tem regularmente escrito em veículos de imprensa renomados, sobre literatura e cinema. É especialista na obra da escritora italiana Elena Ferrante, assunto do primeiro livro da estudiosa: Elena Ferrante, uma longa experiência de ausência (Editora Claraboia, 2020).

https://www.instagram.com/p/CLKg56wn7nB/
Fabiane Secches fomenta o debate literário sob o prisma da psicanálise.

3. Na senda de Rory Gilmore.

Mediado por Bruna Martiolli, por Luciana de Souza e Juliana, do perfil @julinguistica, o clube foi inspirado na personalidade estudiosa de Rory Gilmore, personagem da série Gilmore Girls. Entre as leituras realizadas pelo grupo, estão escolhas mais amplas e não apenas aquelas mencionadas na série, como repertório de Rory. Vale destacar que a participação nesse clube é gratuita.

https://www.instagram.com/p/CH2KNmzjC-s/
No Clube Gilmore, a participação é gratuita e a seleção dos volumes tem critérios mais amplos.

4. Book.ster pelo mundo.

Pedro Pacífico, do Book.ster, propõe uma viagem a cada folhear de página. O seu grupo de leitura conjunta associa a literatura à metáfora da viagem, com o intuito de explorar, nos volumes eleitos, aspectos culturais e históricos de cada país selecionado. O país de estreia para a leitura coletiva é Cuba. Assim, o volume inaugural do clube é o romance Cachorro velho, da escritora cubana Teresa Cárdenas.

https://www.instagram.com/p/CLdF0_FLFvw/
Em Book.ster pelo mundo, o repertório escolhido serve de material para debater singularidades históricas e culturais de cada país.

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