Burnout na passarela da Semana de Moda de Milão

A designer sueca Beate Karlsson, que desfilou esta semana pela terceira vez na Semana de Moda de Milão, apresentou uma coleção cheia de humor e crítica

Sem tempo de terminar coleção, AVAVAV reforça reputação de moda crítica e irônica 

Num mundo em que parece impossível desacelerar, a marca AVAVAV da designer sueca Beate Karlsson, que desfilou esta semana pela terceira vez na Semana de Moda de Milão, apresentou uma coleção cheia de humor e crítica ao contexto estressante e opressor em que vivemos, reforçando sua reputação de questionadora e irônica.

Com o tema “No Time to Design, No Time to Explain”, o show de primevera/verão 2024 de Karlsson, que em anos anteriores levou à passarela modelos tropeçando e roupas se desfazendo no meio da apresentação, teve modelo entrando correndo, sem terminar de se vestir, looks desleixados, peças parecendo inacabadas, presas com alfinetes, um casaco feito de post-its, uma modelo enrolada em silver tape e moletons com frases como “sem tempo para desenhar”. 

Segundo a designer, que recentemente assumiu a direção de negócios da marca, acumulando a função com a de criação e passou a sentir ainda mais a pressão de ter que agradar e satisfazer a uma infinidade de públicos e opiniões, a ideia foi falar “sobre a frustração, a raiva e a ansiedade que esse estresse cria e a ironia nele contida”. 

A crítica pode ter sido direcionada ao sistema de produção de moda, baseado em um ritmo cada vez mais acelerado, em que as marcas precisam apresentar coleções mais de duas ou três vezes ao ano, criar inúmeras coleções de primavera e inverno e atender à demanda do ultra fast fashion. Porém, atire a primeira pedra quem não se identifica com a correria, a cara de choro e as lágrimas marcando o rosto de maquiagem preta escorrida. Em uma pesquisa de fevereiro de 2023, entre 10.243 profissionais de várias partes do mundo, conduzida pelo centro de pesquisas e debates americano Future Form, 42% dos participantes relataram ter sofrido burnout.

Apesar da síndrome ter sido classificada como doença ocupacional pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2022, a busca por produtividade ainda leva as pessoas a encherem suas agendas com compromissos, deixando pouco tempo para o descanso e o ócio. A esperança de flexibilidade e liberdade levantada pelo trabalho remoto e pela evolução das ferramentas de comunicação online durante a pandemia acabou não se concretizando e, na verdade reforçou ainda mais a falta de limites e equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, a necessidade de conexão em tempo integral e uma pressão para estar sempre ocupado e disponível, em uma realidade que parece cada vez mais opressiva.

Será que na próxima temporada podemos esperar modelos plenas, saudáveis e felizes? Ou estaremos todos usando a camisa branca, que bombou nas passarelas da New York Fashion Week, em uma versão com mangas mais longas?

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