Perdoado mas não esquecido

Cada ideia muda o ponteiro da bússola, seja no microcosmo pessoal ou no espectro geral da humanidade.

O ChatGPT intensificou a discussão sobre como as novas tecnologias podem ser usadas para garantir novas habilidades para as pessoas, em vez de simplesmente substituí-las.

A tecnologia tem sido a nossa resposta para sobreviver nesse admirável, mas, muitas vezes, inóspito pálido ponto azul chamado Terra.

Até agora, as empresas têm usado a IA para realizar diversas tarefas de maneira mais rápida e melhor, o que pode aumentar a eficiência e a produtividade de forma gradual, mas, no final das contas, os benefícios líquidos serão pequenos já que tudo o que estamos fazendo é exatamente a mesma coisa que fazíamos antes.

No entanto, a tecnologia não se limita a fazer o que sempre fizemos um pouco melhor ou mais barato. Ela pode nos dar a chance de mudar completamente as perspectivas de inovação, de forma orgânica.

Em todas as salas de espera, escritórios, filas de banco e mesas de botequim o assunto mais repetido é a ascensão das IA’s.

O nascimento desse poder, conhecido apenas na ficção, nos trouxe uma densa camada extra de pavor e suspeitas sobre o futuro, que, agora, não acontece mais no “futuro”, porém na intensa fricção entre o momento em que lemos uma notícia e a sua quase que imediata morte, com o texto, literalmente, virando pó entre nossos dedos.

Todo dia tem novidade e não damos conta de nos manter “ever updated”, ou seja, plenamente atualizados.

No entanto, acredito que não estamos olhando na direção certa.

Todas as inovações, desde a pedra lascada, talvez antes, trazem benefícios e tragédias. Algo para entender e perdoar suas consequências, bem como outras coisas que justificam a sua própria história.

Não devemos esquecer o quanto somos dependentes da jornada da inovação humana.

De tempos em tempos o Planeta, de muitas e infinitas formas, “tenta nos matar”.

É uma relação de amor e ódio.

Ele não depende de nós para sobreviver, mas o contrário é a mais pura verdade. E nessa “treta existencial”, na qual talvez sejamos a sua melhor invenção, como uma obra-prima da natureza, uma imensa enxurrada de aventuras nos ensinaram a nos adaptar e chegar até aqui, nesse presente momento.

Cada ideia muda o ponteiro da bússola, seja no microcosmo pessoal ou no espectro geral da humanidade.

A soma de nossas experiências combinadas nos empurram numa direção que está cada vez mais difícil de ser prevista ou antecipada.

Não vamos parar de inventar e criar.

Essa é a nossa essência mais marcante. Somos assombrados por uma curiosidade que nunca dorme. Sonhamos até quando estamos acordados. O espírito humano é mais poderoso do que a própria carcaça que usamos para transportá-lo.

A inteligência digital pode nos catapultar na direção de um céu jamais imaginado, muito além dos planetas visíveis a olho nu ou de impensáveis padrões de excelência.

Precisamos de novas perspectivas.

Como dizia Schopenhauer, acertar o alvo que ninguém está vendo tornou-se o grande desafio da nossa geração. E as inteligências artificiais podem ser o milagre que vai nos salvar de mediocridade.

No entanto, da mesma forma que essa novidade tem potencial para nos tirar de infernos e catástrofes, ela pode, em muitos aspectos, colocar a nossa sobrevivência em risco.

A sua complexidade e poderes quase infinitos nos dão um assustador leque de opções.

Estamos preparados para isso?

Digo até mesmo sobre as pessoas com bagagem intelectual, gente com repertório suficiente para usar a ferramenta de forma adequada. Será que um poder como esse exige só conhecimento técnico?

A saúde mental das pessoas, dentro e fora das empresas e escolas, vai dar conta dessa transição?

Temos sensibilidade, ou seja, nossos sentidos estão sensibilizados em um nível que nos permitirá navegar seguros com essa Lâmpada Mágica?

Já existem estudos que mostram o quanto fomos impactados com a tecnologia até aqui, com a nossa atenção aos frangalhos e o processo de desenvolvimento de pensamento crítico comprometido, por causa da louca dança das equações de todos os algoritmos inventados até agora.

Nossos cérebros, a casinha de nossas emoções, está uma completa bagunça, com bilhões de pensamentos a seres elaborados, enquanto novos descem pela bica da inquieta realidade.

O desafio para todos os empreendimentos, sem exceção, será o desenvolvimento de culturas orgânicas em seus climas organizacionais, que privilegiem o Ser Humano em suas possibilidades mais profundas, de onde vêm as melhores ideias e soluções inovadoras.

Não haverá sucesso e nem mesmo o famigerado “lucro” sem que as pessoas encontrem propósito, seja apertando parafusos ou criando prompts brilhantes.

Quer abracemos a indústria verde ou optemos por arranha-céus apinhados de dispositivos eletrônicos, ainda assim teremos de enfrentar a guerra que está sendo travada na mente das pessoas, em como processam seus pensamentos e criam ideias.

A história da inovação depende do quanto estamos dispostos a perdoar seus impactos, mas também de não esquecer de estar sempre vigilantes, lembrando de seus riscos e perigos.

A criação mais extraordinária do universo ainda é o cérebro humano.

Mas essa poderosa massa gelatinosa e cinzenta de meio quilo é extremamente frágil, do ponto de vista de como a programamos.

A discussão sobre como as novas tecnologias podem ampliar nossas habilidades em vez de substituí-las é imperativa, e deve ter prioridade máxima.

Antes de nos especializar em mentes digitais, devemos nos reconectar com a nossa essência e reaprender o código mais básico da natureza humana. Sem isso, o futuro será apenas e tão somente uma incógnita, como sempre foi, mas, dessa vez, com frias equações tentando decifrá-lo.

Quando nos esquecemos do passado, o futuro não nos perdoa.

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