Resale: o bilionário mercado de segunda mão

Entenda porque a venda de artigos usados cresce vertiginosamente e o que a Geração Z tem a ver com isso.

Comprar uma roupa de segunda mão é um hábito que esteve bastante fora de moda nas últimas décadas. Com a popularização das redes de fast fashion, o preço das peças ficou tão baixo que simplesmente não valia a pena comprar algo que não fosse novinho em folha. Mas, hoje já podemos dizer que as gerações mais jovens olham para esta equação de custo e benefício de um jeito diferente. Além de avaliar o preço de uma nova peça, eles levam em conta também o custo ambiental e social embutido em cada item de seus guarda-roupas. E, neste cálculo, uma roupa de segunda mão volta a se tornar atrativa. 

A partir deste comportamento vem surgindo um gigantesco mercado de resale (ou revenda em bom português). Números para sustentar essa visão não faltam: 33 milhões de pessoas compraram um artigo de segunda mão pela primeira vez em 2020 e 76% deles afirmam que pretendem continuar comprando assim no futuro. Hoje, este mercado já movimenta € 33 bilhões ao ano e apresenta um crescimento cinco vezes mais rápido do que as vendas de roupas novas. 

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Assim como outros comportamentos que têm rompido paradigmas nos últimos anos, este também é um movimento liderado pelos jovens da Geração Z (aqueles nasceram entre meados dos anos 1990 até 2010). Eles são conhecidos por ser a primeira geração que não sabe como era mundo antes da internet. Pesquisadores afirmam que eles estão mais preocupados com questões como sustentabilidade, diversidade e inclusão do que as gerações anteriores.  E, quando o assunto é compras, eles estão enxergando algumas vantagens em comprar de segunda mão que os mais velhos até então ignoravam.

Vantagem 1: Roupas de luxo, preço popular.

Vira e mexe rolam denúncias de que alguma marca de luxo queimou seu estoque morto para não ter que oferecê-lo com preços promocionais. A verdade é que faz parte do hype manter os produtos de luxo em um nicho hiper-exclusivo. Mas, no mercado secundário, essas mesmas peças são vendidas a um preço menor, garantido o acesso a roupas de melhor qualidade a mais pessoas. 

Engana-se quem pensa que essas peças antigas valem pouco por serem vistas como antiquadas. O desejo pela moda vintage é gerado pelos próprios jovens, principalmente dentro do TikTok. Um exemplo é a icônica bolsa Jackie da Gucci, que foi lançada em 1961 com o nome da ex-primeira-dama Jacqueline Kennedy. No TikTok, #gucci gerou cerca de 3,1 bilhões de visualizações, enquanto o #guccijackie1961 obteve mais de 21 milhões de visualizações. De acordo com o aplicativo de revenda de luxo TheRealReal a demanda pela bolsa Gucci Jackie cresceu 50% ano a ano, elevando o preço médio de venda em 65%.  

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Estilos visuais do passado, como o chamado “old money“, voltam a ser símbolo de luxo. 

Vantagem 2: O planeta agradece

Apesar do acesso às peças de melhor qualidade ser um motivador, a sustentabilidade é a cereja do bolo. A geração Z entende que as roupas de segunda mão são muito mais sustentáveis do que uma roupa nova marcada como “sustentável”. Por isso, o TheRealReal afirma que 40% de seus clientes estão conscientemente buscando estender o ciclo de vida dos itens de luxo para reduzir o impacto ambiental. O benefício é real, uma vez que uma compra de segunda mão emite 82% menos carbono do que um item novo.

Vantagem 3: Construção de estilo próprio

Já foi provado que os movimentos culturais operam em ciclos de tendência e contra-tendência, em que a sociedade fica obcecada por uma promessa de futuro e, quando a realiza, logo sente falta daquilo que foi perdido. Com as referências de moda acontece a mesma coisa. O fast fashion se torna ícone de uma geração anterior e o slow fashion e o resale entram como símbolo deste novo momento. Mais de 40% dos Millennials e da geração Z afirmam ter comprado roupas, sapatos ou acessórios de segunda mão nos últimos 12 meses. 

Ainda, cerca de metade dos jovens que compram atualmente em formato de resale gostam da emoção de não saber o que irão encontrar ao entrar no brechó. O resale se torna não apenas um estilo de vestir, mas também um jeito de comprar.

Que impacto esse movimento terá no mercado?

É claro que este crescimento das revendas terá um grande impacto na indústria e nos canais de venda tradicionais, tomando boa parte do espaço que as lojas de departamento e fast fashion ocupam hoje em nossos guarda-roupas. De acordo com o estudo do ThredUp RESALE REPORT a participação das roupas de revenda nos guarda-roupas deve ir de 9% para 18% até 2030.

Gráfico do estudo ThredUp RESALE REPORT

Por isso, quem já atua no mercado de revenda está se preparando para crescer. Aqui no Brasil, o Enjoei, site de produtos usados, adquiriu a Gringa, plataforma que atua na intermediação da venda de artigos de luxo de segunda mão, da atriz Fiorella Mattheis, por R$ 15 milhões.

Hoje este é um movimento que aparece com maior força na moda, especificamente na moda de luxo. Mas, em breve deve atingir outros setores: desde automóveis e eletrônicos até a decoração e utensílios domésticos. As vendas que acontecem diretamente entre usuários – sejam elas intermediadas por aplicativos, lojas ou até influenciadores – se consolidam como uma tendência em crescimento. Além disso, o modelo de assinaturas e aluguel de produtos também deve ganhar força, motivado pelas mesmas vantagens do modelo de revenda.

E aí, como se adaptar?

Diante de tudo isso, vale fazer algumas suposições básicas de como as empresas podem se adequar. 

  • Primeiro, a qualidade e durabilidade voltam a ser valores importantes em uma era em que tudo tem valor de revenda, marcas que têm estas características voltam a ser preferidas. Hoje 43% dos jovens já consideram o valor de revenda dos novos itens que compram.  
  • Além disso, a sustentabilidade e a economia circular se tornam prerrogativas para venda de itens novos. Os dados são da pesquisa 2031 Future World Report da Dazed Media diz que o critério número um para escolha de compra de uma determinada marca para os  jovens é “ser sustentável e ter uma forte ética”.
  • Serviços de recolhimento e renovação de itens antigos, além do aluguel e assinatura de produtos podem se tornar uma opção de negócio das indústrias em busca de renovação.

Mas, nada disto está escrito na pedra. Estas são apenas algumas probabilidades que vejo a partir de análises sobre o futuro do varejo, da moda e comportamento geracional. O que podemos ter certeza é que a Geração Z, que começa a ter poder de compra para fazer as próprias escolhas, promete trazer ainda mais mudanças para nós, gestores de marcas e negócios, que já estamos mergulhados em transformações. E, seguindo a máxima Darwiniana tão aplicada nos dias de hoje: não sobrevive o maior ou mais forte, mas sim aquele que consegue se adaptar.

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Este artigo faz parte de uma série de conteúdos aprofundados com as tendências que a consultoria de marcas Cordão está projetando para 2022. Para acompanhar de perto, basta assinar a newsletter.

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