O cinema além do comércio dos seus clichês

(por Marcel Niatoro, direto do nosso Danger)

Que o cinema cria e recria as histórias ao longo dos tempos não é nenhuma novidade. Que os apelos visuais vivem sua crise de clichês também não. Há um tempo se espalha pela internet coletâneas feitas com imagens de posters semelhantes na sua ideia, desde a teoria do contraste entre laranja e azul passando por cabeças voadoras no horizonte (se você se interessar dá um google aí, tem vários clichês :) E tem também esse vídeo no post que o pessoal do IdeaFixa compartilhou.

Mas a pergunta que surge é: onde foram parar as ideias?

Em conversa com a Vanessa Queiroz, um das sócias do Colletivo e do IdeaFixa, me fez ter certeza que falta coragem e vontade das produções para quebrar padrões. Produtores ainda carregam o clichê que arte não vende. E a designer diz que é frustrante ouvir essas taxações comerciais em projetos que tem em sua essência a criação. O cinema cria histórias, o design deveria as transformar em realidade visual.

As produções de filmes subestimam a inteligência de quem acompanha as histórias. O comodismo dos padrões hollywoodianos aprendeu a focar no apelo visual fotográfico e de divulgação que os atores e as atrizes trazem e, em consequência, colocam o enredo do filme em plano secundário. Afinal atores e atrizes têm suas imagens desmembradas, enquanto histórias são o que são por si só. E aí que o filme do galã e da queridinha de Hollywood dá mais bilheteria que aquela história contada fora de ordem cronológica com um elenco desconhecido. E se levarmos isso em conta partiremos para o outro princípio: o bom é que dá dinheiro? Mas essa não é a discussão do post.

Em suma, as identidades dos filmes trocaram a sétima arte pela aparência comercial. Blockbusters não apostam em letterings, posters e divulgações foras dos padrões artísticos impostos.

Em contrapartida o cinema já teve seu auge artístico. Robert McGinnis e Boris Vallejo são aqueles que fizeram artes inesquecíveis para o cinema, os personagens de James Bond, Holly Golightly e Barbarella foram imortalizados nos traços dos ilustradores.

007-robert-mcginnis

1973 / 007 Live and Let Die por Robert McGinnis

breakfast_at_tiffanys-robert-mcginnis

1961 / Breakfast at Tiffany’s por Robert McGinnis

barbarella-boris-vallejo-11968 / Barbarella por Boris Vallejo

Assim como o lettering e poster de Metropolis (1927), King Kong (1933) e Jaws (1975) fazem parte da história do cinema.

metropolis1927 / Metropolis

king-kong1933 / King Kong

jaws

1975 / Jaws

Ao que parece diretores e produtores precisam entender a direção de arte além do que é projetado nas telas. Aquela história se desmembra em identidade, pacotes videográficos, posters e tantas outras maneiras de divulgação. Que ideias para cativar, envolver e emocionar espectadores precisam, cada vez mais, de interação. Trailers editados de maneira sedutora podem render bilheterias, mas não criam experiências.

E seria injusto dizer que não há projetos recentes que se diferenciam e se sobressaem aos clichês. Shame (2011), La Piel Que Habito (2011), Spring Breakers (2012), The Conjuring (2013) e Trance (2013) são alguns que tiveram divulgações oficiais pouco usuais.

shame2011 / Shame

la-piel-que-habito

2011 / La Piel Que Habito

spring-breakers

2012 / Spring Breakers

the-conjuring

2013 / The Conjuring

trance2013 / Trance

As artes de divulgação de ParaNorman (2012), dos brasileiros Gonzaga (2012) e Serra Pelada (2013) também não ficam para trás ao resgatar a essência da ilustração para o cinema.

paranorman-12012 / ParaNorman

paranorman-22012 / ParaNorman

gonzaga-colletivo-1

2012 / Gonzaga por Colletivo

gonzaga-colletivo-2

2012 / Gonzaga por Colletivo

gonzaga-colletivo-3

2012 / Gonzaga por Colletivo

serra-pelada-colletivo-1

2013 / Serra Pelada por Colletivo

serra-pelada-colletivo-2

2013 / Serra Pelada por Colletivo

serra-pelada-colletivo-3

2013 / Serra Pelada por Colletivo

serra-pelada-colletivo-4

2013 / Serra Pelada por Colletivo

E diversas fanarts assumiram a responsabilidade artística abandonada pelos estúdios.

black-swan-laboca

2010 / Black Swan por LaBoca

goonies-daniel-norris

1985 / The Goonies por Daniel Norris

gravity-paul-jeffrey

2013 / Gravity por Paul Jeffrey

inception-adam-rabalais

2010 / Inception por Adam Rabalais

the-shining-fernando-reza

1980 / The Shining por Fernando Reza

Não digo que o cinema não deva vender e partir para o ideal romântico da arte. Pelo contrário, as histórias devem apostar no que tem de único para se destacar no meio de tantos enlatados visuais e vender aquilo que tem de melhor. Isso quer dizer que filmes que apostarem na conexão entre arte e comercial farão história? Não sei, com a arte só o tempo diz o que fica. Sei que essa conexão cria experiências marcantes para os seus espectadores e isso vai além do ingresso.

O cinema, assim como outros meios de comunicação, precisa parar de subestimar a inteligência dos seus espectadores. Não compramos mais somente vendo vitrines. O cinema não quer mais ser audacioso e te fazer lembrar daquela história por um bom tempo, ele quer que você sente na sua poltrona e pague o ingresso, o resto é balela. O cinema precisa lembrar que somos inteligentemente suficientes para sermos desafiados e instigados por histórias. Somos suficientemente humanos para nos envolvermos e emocionarmos com uma história.

 

 

ps: Vanessa muito obrigado pela colaboração (:

Receba nossos posts GRÁTIS!
Deixe um comentário

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More