Utopia: um alerta necessário sobre os messias corporativos

Em um contexto de controles de narrativas e notícias falsas, vale repensar a fé que depositamos em utopias corporativas

A série Utopia, que estreou no fim de outubro, na Amazon Prime Video, seria só mais uma peça de ficção, não fosse o volume de assuntos que conversam diretamente com a realidade neste fatídico ano de 2020. Pandemia, fake news, teorias da conspiração e o poder exacerbado das grandes corporações (principalmente as de tecnologia) são só alguns dos elementos contidos nesta trama.

Então, se você não assistiu, paro por aqui nas descrições para não dar spoilers. Nessa série, de núcleos e histórias ocorrendo ao mesmo tempo, um personagem, em especial, e uma narrativa de fundo me chamou a atenção: a criação de líderes messiânicos. O problema posto aqui não é algo novo.O personagem não é novo e reúne vários clichês. Porém, nossa sociedade, desde que existem as empresas, possui um histórico de endeusar seus líderes: CEOs, empreendedores, gurus. Admiração não é um problema. Mas transformá-los em messias mostra que passamos dos limites.

Utopia Amazon Kevin Christie promo

Quando esse recorte vai para as grandes empresas, que surgiram do propósito de mudar o mundo por meio da tecnologia, esse tema é ainda mais latente. A série Silicon Valley, assim como muitas outras, também ironiza o dilema dos líderes messiânicos colocando em contexto, principalmente, a cultura do Vale do Silício. Voltando à Utopia, coloco luz aqui em um personagem: Dr. Kevin Christie. Ele é o líder da Christe Bio, uma corporação que desenvolve de carnes vegetais a outros produtos “revolucionários” e  que está sendo investigada por ter criado um vírus e um plano destrutivo para a humanidade.

No seu dia a dia, Christie é o líder inspirador, filantropo, humanitário e rodeado de filhos adotivos, mas que, no fim das contas, possui um plano de dominação mundial. As consequências de suas ações, por meio dos tentáculos de sua empresa, possuem impactos globais e determinam o destino de milhões de pessoas. Propositalmente não quis fazer uma relação direta entre o Christie e nenhum dos líderes corporativos da nossa atualidade, no entanto, em um contexto que vivemos na pele o controle de narrativa, as notícias falsas e uma série de ondas conduzidas por tecnologias e monopólios, vale cada vez mais repensar qualquer atitude antes de nos jogarmos nos braços de ideias e propósitos corporativos.

Indiretamente, essa série conversa com O Dilema das Redes, documentário da Netflix que suscitou diversas discussões, algumas novas, outras já batidas, sobre a manipulação das nossas vidas por meio dos dados. Na melhor das hipóteses, fiquemos com os nossos valores, antes de incorporar a Utopia vendida pelas grandes empresas.

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