Existe uma pequena ilha lá no Havaí chamada Niihau.
Pequena mesmo, tem só 180 km2.
Na década de 40 ela pertencia ao americano Ayelmer Robinson, que a recebeu como herança de uma aquisição feita por sua família em 1864, do Rei havaiano Kamehameha V.
Quase ninguém morava lá, apenas uns poucos nativos, menos de 20 pessoas. Nem o Robinson ficava lá, preferiu construir sua casa na ilha ao lado mais estruturada.
Eis que numa bela manhã ensolarada de 7 de dezembro de 1941, um desses nativos chamado Hawila Kaleohano repousava tranquilamente em sua pacata cabana quando, de repente, ouviu um barulhão como nunca tinha ouvido antes, a poucos metros de sua casa. Abriu sua porta e deu de cara com isso:
Um avião tinha acabado de cair no seu quintal. Era japonês, assim como o piloto, que estava desacordado.
Kaleohano sabia que os japoneses estavam em guerra com os Estados Unidos e por garantia, resolveu pegar a arma e os documentos do piloto antes que ele acordasse. O nome dele era Shigenori Nishikaichi (kaichi mesmo, coitado).
O que o nativo Kaleohano não sabia é que meia hora antes, o tal do Nishikaishi e outros pilotos japoneses tinham bombardeado Pearl Harbour, matando mais de 2500 pessoas.
O plano dos japoneses (apesar de muita gente achar que era uma missão kamikaze sem volta), era bombardear e, caso o avião estivesse em condições ruins, seguir para essa pequena e esquecida ilha, Niihau, a apenas 30 minutos de Pearl Harbour, onde seriam resgatados por um submarino. A ideia não foi das melhores, a ilha era difícil de achar e só mesmo o Nishikaichi conseguiu chegar até lá.
Assim que acordou, foi interrogado pelos nativos, sem sucesso, já que eles só falavam havaiano e o piloto só falava japonês. Mas havia na ilha um casal descendente de japoneses (Yoshio e Irene Harada), que foram prontamente chamados. O piloto confessou o que tinha acabado de fazer, mas o casal preferiu não traduzir essa parte. Assim, ao invés de ser condenado, os nativos resolveram fazer uma festa para o piloto, para comemorar a mudança na rotina da ilha. Flores, peixes, bebidas.
Porém, assim como se reuniam para fazer festas, os nativos também se reuniam para ouvir rádio. E assim, na frente de todos, o piloto foi desmascarado e rendido. Decidiram que o entregariam ao dono da ilha, o Sr Robinson, que por coincidência visitaria a ilha no dia seguinte. Robinson não apareceu porque toda navegação próxima aPearl harbour foi proibida. O casal japonês, que fingiu não saber de nada, se ofereceu para hospedar o prisioneiro enquanto os nativos se revezavam fazendo guarda na porta.
Obviamente que na primeira cochilada, os guardas foram surpreendidos pelo trio japonês, que fugiu para o meio do mato com duas armas. No dia 12 de dezembro, começaram a tentar reaver os documentos do piloto e foram atrás de Kaleohano, aquele primeiro nativo que confiscou arma e documentos do piloto. Não conseguiram achá-lo porque ele tinha partido no dia anterior em sua canoa, para uma viagem de 10 horas até a casa do Sr. Robinson.
GUERRA PARTICULAR
Bom, a pacata ilha de Niihau virou então palco de uma versão miniatura e confinada da guerra entre japoneses e americanos.
O trio japonês colocou fogo nas casas e fizeram uma habitante de refém. Seu marido foi ordenado a ir atrás de Kaleohano, para avisar que iriam matar um por um se não fossem libertados. Outro erro, já que o marido sabia que sua esposa era a primeira da fila e portanto resolveu pular no pescoço do piloto, que disparou 3 tiros contra ele. A esposa, vendo seu marido ser baleado, pulou em cima do piloto e deu uma pedrada na cabeça dele. Mesmo baleado, seu marido pegou uma faca e cortou a garganta do piloto. Zsssqualch!
O casal japonês entrou em pânico. Ferrou. Seriam os próximos.
Yoshio pegou uma arma e se matou com um tiro na cabeça. Irene, mesnos dramática, levantou as mãos e foi cercada pelos nativos.
O “incidente Niihau” como é conhecido hoje em dia nos livros de historia, virou manchete de jornal no mundo todo. Ben Kanahele, que matou o piloto, virou um herói e apesar de ser um civil, recebeu o “purple Heart”, uma alta condecoração de guerra. Irene pegou 2 anos e meio de prisão e o incidente serviu de estopin para que a população americana questionasse a fidelidade dos nipo-americanos. Um local onde esse preconceito não aconteceu foi no próprio Havaí, graças ao governador do arquipélago que, simplesmente cortou ligações telefônicas nas ilhas.
A ilha Niihau continua pacata até hoje e ainda pertence a família Robinson, administrada por 2 irmãos que inclusive já recusaram uma oferta de 1 bilhão de dólares para vender a ilha para o governo americano.