O que é arte digital?

por Estevan Sanches

Classificar e definir o que é arte é uma responsabilidade extremamente abrangente –algumas célebres definições podem até ser consideradas clichês (nem por isso menos verdadeiras), como “A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível – por Leonardo Da Vinci; “”A arte é a autoexpressão lutando para ser absoluta” – por Fernando Pessoa, ou ainda “A arte é o espelho e a crônica da sua época” – por William Shakespeare.
Essa última inclusive faz um link direto com o tema que vem no título desse texto, a Arte Digital.
Se existe um período em que essa definição faz sentido, com certeza é o atual.
Arte Digital é simplesmente a definição para a criação expoente da arte, em audiovisual, design, música, games e outros.
Segundo especialistas, a arte digital tem seus primórdios na década de 50, mas sem ser ainda levada a sério nessa época, nem de longe passaria pelas portas de algum museu. Entretanto, mostras com esse tema vem sendo destaque há algum tempo, e já passaram por alguns dos mais famosos museus do mundo, como o Tate e o Barbican.
Dentro desse cenário, algumas interações digitais que são tão comuns em nosso dia a dia recebem um viés diferente do qual estamos acostumados, gerando novos significados a algumas definições até então bem estabelecidas, como é o caso dos GIF’s.
O site colaborativo 15 Folds funciona como uma galeria online de GIF’s artísticos, e divulga mensalmente 15 novos GIF’s relacionados a um tema pré-definido.

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O curioso é que, diferente da música, gerada por instrumentos ou até mesmo da pintura, por meio de lápis ou pincéis, a criação de GIF’s (e outras obras digitais) é gerada por meio de algoritmos, gerando novas perspectivas da matéria prima necessária para a criação de obras digitais. Um que especifica a utilização dessa matéria prima é o site goodbyewarden.com, que contém as palavras finais (devidamente autorizadas) de pessoas que foram condenados à pena de morte nos EUA, mais especificamente no estado do Texas. A intenção é entender o que se passa na mente dos 528 seres humanos que enfrentaram a morte de modo certo e irrevogável, conhecendo sua data e hora. Entre todos as associações que podem vir a mente, a principal é, paradoxalmente, o sentimento de vida.

Um outro expoente foi um dos destaques da exposição “Digital Revolution”, realizada em 2014 no Barbican,  a instalação “Treachery of the Sanctuary”, de Chris Milk.

Eram 3 grandes telas que funcionavam de modo colaborativo, permitindo que os visitantes interagissem com a obra por meio de suas próprias sombras, a medida em que eles se movimentavam.

Outro exemplo ocorreu em 2012, quando pavilhão russo na Bienal de arquitetura de Veneza foi coberto por QR codes, os quais os visitantes podiam visualizar através de seus celulares e tablets. O conteúdo dos mesmos era focado nas ideias do novo centro de ciência e tecnologia Skolkovo, próximo da cidade de Moscou.

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Um caso polêmico que ganhou certa repercussão envolvendo uma obra digital ocorreu no ano passado, em uma exposição realizada em Nova York pelo artista Richard Prince e intitulada “New Portraits”, que vendeu quadros com os prints de contas no Instagram de outras pessoas, sem as devidas autorizações, por valores que chegaram até quase R$ 100.000,00 dólares.
A única adição realizada por Richard nas fotos antes de serem expostas e vendidas foram seus comentários abaixo das mesmas.
A polêmica exposição traz à tona discussões a respeito dos direitos autorais no mundo digital, e como atualmente nossa sociedade lida com isso.

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Com cada vez mais adeptos pelo mundo das artes digitais, alguns sites centrados no tema foram criados para que as pessoas divulgassem e compartilhassem suas criações.
Algumas das plataformas desenvolvidas exclusivamente para essa finalidade o chamado The Creators Project, fruto da colaboração entre Intel e Vice. Por meio do site é possível encontrar diversas obras nas áreas de audiovisual e música.
Outra plataforma interessante é a chamada The Space, que possui a mesma finalidade: um espaço para artistas exibiram seus trabalhos gratuitamente.

A arte digital nos ajuda a observar diferentes interpretações relacionadas a aspectos do mundo digital, como a internet e o relacionamento entre seres humanos perante todas essas mudanças que acompanhamos ao longos dos anos, que podem parecer tão simples ao serem observadas rapidamente em nosso cotidiano, mas que contém indagações profundas que podem ser transformadas em diferentes relatos de como nos enxergamos nesse contexto, como interpretamos a nossa realidade perante esse cenário que cada vez mais parece ser tão comum, de formas criativas, inusitadas e pertinentes.

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