Independente, por opção

Um ponto interessante que vem cruzando as discussões nos temas mais diversos por aqui é: ser independente deixou de ser sinônimo de não dar certo, e passou a ser uma escolha bem valorizada. Ser indie finalmente vem sendo debatido no mundo dos negócios como uma escolha mais sustentável, mais consciente e mais centrada no ‘ser feliz’ (que é o que realmente importa, no fim das contas).

O que eu mais gosto nisso tudo é que por trás do fato está uma mudança profunda no conceito de ‘o que é sucesso’. Estamos descolando do modelo em que ‘dar certo’ significa ser o maior, ser o número 1. Isso não mais define sucesso ou fracasso das coisas. Ser independente significa ser dono da suas próprias escolhas. Significa não ter ninguém na sua cabeça te ditando o que fazer. Na prática, estamos falando de abrir mão de investimentos externos. Estamos falando de trocar um crescimento acelerado resultante de uma grande aplicação de capital por continuar seguindo seus propósitos na tomada de decisões. É optar por ficar sozinho ou em uma rede informal em detrimento a se ligar a um enorme grupo multinacional que te trará estrutura que você jamais pensou. É continuar sendo dono do próprio nariz, mesmo que assim você acabe ficando um pouco menor. Neste cenário, no entanto, muita coisa se resolve, mas começam a surgir uma série de desafios diferentes.

No Interactive, o brasileiro Evilásio Miranda apresentou um painel chamado ‘Indie (Yet Gobal) Fashion Businesses’ que tocou muito forte nisso. Ele atua no mundo da moda, como consultor de marcas independentes e é responsável por um projeto que admiro muito: o Brazilians to Be. Ele criou uma aceleradora para marcas independentes de moda do Brasil se prepararem para o mundo. Segundo ele, hoje a gente não se torna global. O global é que vem atrás da gente. Basta descobrir que várias pessoas de um determinado país estão acessando em peso o seu site que você já tem um mercado lá fora. Mas para abraçar essas oportunidades, temos que estar preparados em todos os sentidos do negócio. E é aí que o seu projeto atua. Ele contou inúmeros casos de marcas que começaram a receber contatos de outro países, se prepararam rápido e hoje, mesmo se mantendo totalmente indie, estão atuando em vários continentes. Ou seja, dá pra ser independente e global ao mesmo tempo. É só uma questão de ser autêntico, pensar sobre o sucesso que você deseja, ficar ligado nos dados gerados online, pivotar constantemente, e estar preparado para agir.

No painel ‘How to Build a Music City’, que fui ontem, o debate girou em torno de uma enorme mudança na gestão de associações independentes e projetos governamentais que fomentam cenas musicais em cidades do mundo todo. Antes, o que atraia as bandas era a presença de empresários e grandes gravadoras, na expectativa de que fossem achados e convidados para contratos milionários. Já hoje, o papel dessas instituições é bem diferente. Está mais voltada a capacitar músicos, artistas, produtores, donos de bares e casa de shows, e todo esse ecossistema, a gerir seus próprios negócios e sua própria carreira. Ou seja, a unir independência e boa gestão.

Também foi bem legal ouvir no keynote do Soundcloud o mesmo pensamento sobre o ser indie. O papo teve considerações bem interessantes sobre o maior desafio da plataforma: ajudar bandas independentes a tomar decisões de negócio em cima dos dados gerados em relação aos ouvintes. Essa é uma das grandes responsabilidades que a banda ou outro projeto qualquer adquirem ao optar pela independência. Além de músicos, precisam ser analista de dados, profissionais de marketing, e muito mais. Quando sabem usar essas informações, os artistas podem descobrir locais em que são mais populares para poder fazer shows, lançarem produtos exclusivos para o que chamaram de superfãs e até mesmo identificá-los para entendê-los e co-criar juntos. A dica que ficou foi: avalie as competências em que você terá prazer em atuar sozinho. Para o restante, tente parcerias com fâs. Exemplo: um superfã que manda bem em social media pode topar por um dinheiro pequeno mas pela grande remuneração de fazer turnê com a banda a gerenciar o seu perfil. No caso de um estilista, por exemplo, pode trocar um trabalho específico por peças de roupa que apaixonam um superfã. E por aí vai.

As moedas mudam na economia indie. Não é apenas sobre dinheiro – para quem faz e para quem colabora.

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