Processo, piada e preguiça: a origem de alguns dos sons mais marcantes da Apple

Jim Reekes, responsável por três dos “barulhos” mais conhecidos da marca, revela as histórias curiosas por trás de cada um deles.

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Nada, absolutamente nada é por acaso: quando uma empresa sabe e explora todo o potencial do marketing, qualquer detalhe estético ou sensorial de seus produtos são customizados. No caso da Apple, então, essa regra é inviolável — Steve Jobs era reconhecida e declaradamente obcecado com essas questões de design, e a rigidez do fundador se mantém ativa no cotidiano da empresa.

É de se esperar, portanto, que os sons tão característicos dos produtos  da marca tenham histórias curiosas, para dizer o mínimo.

Em perfeita harmonia com os comandos dos eletrônicos, os sinais de alerta e funcionalidade têm diferentes origens, mas três dos mais icônicos (aquele som de quando o computador era ligado, o barulho do disparar da câmera fotográfica e o “Sosumi”) foram criados pelo mesmo homem — o designer de som americano Jim Reekes, que trabalhou na gigante de tecnologia no final dos anos 80.

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No melhor esquema home office, Jim conta que boa parte de seu trabalho era feito no conforto de sua sala de estar, na pequena cidade californiana de São José, e que um dos primeiros barulhos que marcou a Apple foi o de uma “martelada”: a empresa perdeu uma disputa judicial para os Beatles.

Acontece que a banda Londrina tinha acabado de lançar um selo chamado Apple, e Jobs prometera aos músicos que sua empresa jamais enveredaria para o lado da indústria fonográfica.

Mas então os computadores da maçã passaram a contar com dispositivos de gravação e foram equipados com ferramentas que conectavam instrumentos ao aparelho — e os Beatles resolveu processá-los por isso.

Os advogados da companhia de informática incumbiu Reekes de renomear todos os efeitos sonoros da empresa, tirando deles qualquer alusão à música.

Um dos barulhos, o “xilofone”, obviamente precisava de um novo batismo, e o designer californiano queria chamá-lo de “ler it beep” (“deixe tocar”, em tradução literal — mas sabia que seria impedido. “So sue me” – “então me processe”, em português), pensou o artista, decidido a levar adiante sua piada interna. O barulho passou a ser chamado “Sosumi” (percebe a semelhança sonora de “so sue me”?) — e Reekes disse aos advogados que a palavra era japonesa e não tinha nenhuma ligação com a música. Passou pela “censura” e até hoje a Apple tem o Sosumi sound.

Outro áudio fruto da ousadia do designer foi aquele que, por muito tempo, anunciava o ligamento do computador.

Reekes disse que nunca fui convidado a customizar ou mudar esse barulhinho, mas ele detestava o som em três tons que originalmente cumpria essa função.

“A verdade é que, naquela época, os computadores falhavam muito, e toda vez que você ouvia esse barulho significava que a máquina deu problema e você tinha de reiniciar o programa”, explica Reekes.

Sem nenhuma autorização, o americano gravou o C-maior do teclado de sua casa, ironicamente inspirado pela música “A Day In The Life”, dos Beatles. Aproveitando-se da boa relação com alguns engenheiros de sistema da Apple, Reeke “infiltrou” o novo áudio nos computadores da empresa pouco antes de seu lançamento.

Muita gente desaprovou a atitude do designer e questionou sua escolha musical, mas Reekes alegava que seria arriscado fazer outra alteração dessa às vésperas do lançamento, e o barulho foi mantido.

Aliás, esse sonzinho do computador da Apple ligando foi tão icônico que a Apple aplicou direitos autorais a ele.

Apesar do respaldo jurídico, a gigante de tecnologia decidiu, décadas depois, abandonar qualquer emissão de som no ligar dos computadores — agora é tudo silencioso. “É como ir a um restaurante e não ser recepcionado por ninguém”, critica Reekes.

Outra “impressão digital” do designer de som ainda vivo nos produtos da Apple é aquele alerta de quando disparamos a câmera fotográfica ou capturamos a tela — o bom e velho screenshot.

Para compor esse barulhinho, Reekes gravou o disparar de sua Canon AE-1, de 1970,  com o shutter desacelerado.

Então, toda vez que alguém tira uma fotografia com um iPhone, por exemplo, está ouvindo a ação de uma Canon. “Isso é muito estranho, porque eu escuto esse som e imediatamente começo a olhar para os lados, pensando que alguém roubou minha máquina”, brinca o designer.

Hoje longe do mercado fonográfico, Reekes se diverte relembrando tantas histórias do começo da Apple, mas lamenta o “bad timing” de suas decisões: ele deixou a gigante pouco antes da crise do chamado “.com”, renegando diversas oportunidades na empresa, o que provavelmente o teria deixado milionário — ou pelo menos financeiramente confortável.

Como consultor, a voz de Reekes é, talvez, o som que melhor traduz o arrependimento, não acha?

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