Pequena reflexão sobre a involução da “educação de berço”

Aquele papo chato de tia, mas também urgente e necessário

Eu não sou Elizabeth II – talvez o ser humano vivo que mais viu fatos históricos incríveis e importantes de várias eras – mas tenho idade suficiente pra ter testemunhado a maior guinada que a humanidade já deu, em termos de mudança de pensamento e comportamento no campo da família.

Aliás, pra começar, a família já nem é mais vista com aquele respeito solene, quase com sacralidade, como costumava ser num passado recente!

Onde tudo começa

Os avós da minha geração, de uma maneira geral, eram pessoas batalhadoras, de princípios rígidos mas, no que diz respeito à criação dos filhos, seu conhecimento era limitado e eles entendiam que sua obrigação ficava só mesmo naquela coisa do provedor:
dar casa, comida, roupa, escola e ter muita severidade na cobrança dos bons modos.

Os pais da minha geração, de uma maneira geral, além das características mencionadas acima, já procuraram introduzir afeto e diálogo na relação com os filhos, acrescentando um pouco mais de tolerância nos escorregões, aqui e acolá, dos bons costumes.

Eis que chegou a vez da minha geração começar a parir e a coisa foi se afrouxando mais e mais, com a chegada de uma nova visão sobre a psicologia da educação dos filhos, onde não mais caía bem essa postura “retrógrada” da disciplina e era bem visto que os pais dessem vez e voz aos filhos.
Ok.

Aí chegamos aos pais atuais, que resolveram inventar a roda de novo, propondo uma educação livre, sem cobranças, sem limites, sem correção, onde quase tudo é permitido e tendo um fator novo adicionado de forma quase generalizada:
o endeusamento dos filhos que, em muitos casos, ainda recebem dos pais (frouxos), parte das rédeas do comando da família.
Inacreditável, mas é assim que tem sido em muitas casas!

E é aqui que eu chego à tal guinada que mencionei no início, o ponto sensível e melindroso dessa conversa, já que falar sobre isso virou tabu, é polêmico, impopular e tão perigoso quanto mexer num vespeiro!
Mas por que?!

Há alguns anos vi uma frase ótima, que é o retrato dessa geração:
“Muitos querem ter filhos, mas nem todos querem ser pais.”

É preciso ser dito que esse tipo de amor sem disciplina é incompleto, porque a disciplina é uma faceta do amor.

O relativismo da atualidade foi e é proveitoso em muitos aspectos, mas questionar pilares da civilização que nos trouxeram até aqui, já é demais, né não?

Efeitos

O que se vê hoje, em termos da educação de muitas crianças, adolescentes e jovens adultos é algo impensado até poucos anos atrás:
-total desrespeito à hierarquia (pais, professores, pessoas mais velhas);
-crianças insuportavelmente mimadas, que não podem ser contrariadas;
-adultos infantis que, sem preparo algum, se desmontam diante de uma frustração e sempre encontram soluções covardes pra não encararem seus problemas.

Gente?!

Será mesmo que o surgimento dos chamados “haters”, dessa tal “cultura do cancelamento” e o fato de vermos um aumento gigantesco no número de pessoas emocionalmente mal resolvidas é só uma coincidência ou fruto do acaso?
Sério???

Eu não sei dizer exatamente quando, mas vivi para ver a moral e a virtude praticamente serem tidas como algo negativo e o pior: uma visão meio que imposta por uma geração hedonista, que só quer saber de direitos e despreza os deveres.

Depois todos se perguntam, perplexos, por quê o mundo tá tão absurdo e caótico!
(Olhos revirando!)

Um caminho para a solução

Não quero parecer simplista, pque é óbvio que a vida é muito dinâmica, envolve infinitas variáveis e a realidade de cada indivíduo é única, mas acredito piamente no “seja a mudança que você quer ver.”

Isso é utópico? Parece, mas não é.
E fica fácil entender quando você observa que a tendência humana é sempre esperar que e o exemplo venha “de cima” e que qualquer medida seja adotada a partir de leis, com multas pesadas para quem as desobedecer.
Enquanto isso não acontece, eu não movo uma palha pra tomar uma atitude em favor de mudanças necessárias!

Só que ser civilizado é justamente quando você não precisa do rigor das sanções para exercer suas convicções e escolhe sempre ser ético diante de qualquer situação, o que, nos dias de hoje, é um ato revolucionário, infelizmente, porque é quase como remar contra a maré.

Mais do que em qualquer outro tempo, é preciso ter consciência do peso de responsabilidade que temos individualmente, pois a minha atitude para com o micro inevitavelmente vai se refletir no macro.

E eu termino lembrando do cantor e compositor mineiro Beto Guedes, que na música “Sol de Primavera”, há décadas nos alerta:

“A lição sabemos de cór, só nos resta aprender.”





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