Com o dobro de estrutura, o Festival Coala faz sua melhor edição com Maria Bethânia, Djavan e Gal Costa

O Festival Coala teve shows históricos de Maria Bethânia, Djavan e Gal Costa emocionaram. 

Qualquer coisa que se diga sobre a oitava edição do Festival Coala, que aconteceu no último final de semana, em São Paulo, passa pelos shows históricos de Maria Bethânia, Djavan e Gal Costa. 

De alguma forma ainda mágica, o festival abriu uma espécie de portal no tempo. O que se viu ali, transportou o público para as eras onde a música, os festivais e as manifestações políticas dos anos 70, aconteciam em um frenesi.

Essa atemporalidade foi vista até em artistas contemporâneos, como Black Allien, outro artista que fez show de impacto. 

Os destaques do Festival Coala

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Djavan no Coala. Reprodução.

No primeiro dia, o destaque absoluto foi Djavan. Vindo de uma apresentação tecnicamente perfeita no Rock in Rio, o músico estava menos tenso, mais solto, e aparentemente se divertiu muito diante de uma plateia de mais de 20 mil pessoas. Esse terceiro dia, que virou primeiro, é uma novidade da edição de 2022 e foi patrocinado pelo Itaú. Tomara que seja incluído no próximo ano também. 

Antes dele, Gilberto Gil, substituindo Alcione e Céu, a cabo-verdiana Mayra Andrade e Liniker, fizeram shows poderosos. A presença de um nome internacional abre uma possibilidade interessante para os próximos anos. Há belos artistas fora do Brasil que cantam em português. 

O segundo dia manteve a efervescência do início do festival.

Em abril, no Breve Festival, Gal Costa pisou no palco, talvez um pouco tímida por encarar 30 mil pessoas e fazer um show entre as apresentações de Ludmilla e Gloria Groove. Gal preparou um show lotado de hits, ousou cantar “Desafinado”, de João Gilberto, e mesmo depois do apoteótico encerramento com “Brasil”, de Cazuza, ela ainda mostrou “Festa do Interior”. 

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Festival Coala. Reprodução.

No Coala, Gal manteve quase todo o setlist, mas ajustou detalhes primordiais. Gal estava imponente, ciente de que um público de festival é diferente daquele que vai aos teatros. Muito mais fluído, Gal se mostrou conectada com o contexto: homenageia Djavan em “Açaí” e fez uma poderosa apresentação com Tim Bernardes e Rubel em “Vapor Barato”, “Baby” e “Sorte”. Foi um daqueles momentos onde os planetas se alinham e mandam um brilho cósmico especial para quem está na mesma direção. “Festa do Interior” saiu do repertório, deixando “Brasil” como um fim esfuziante. 

Se Gal Costa, a primeira artista a ser anunciada no lineup ainda em janeiro de 2021, era aguardada com entusiasmo, todos os shows do dia ganharam impulso nessa esteira. O Bala Desejo foi muito surpreendente. Como a banda faz um show explosivo, lotado de referências à música brasileira e ainda consegue manter seu RG musical destacado! Foi uma maravilha ver como o quarteto se entrosa, se arrisca e mostra uma aptidão para tornar os próximos trabalhos realmente marcas definitivas na cultura do país. 

Alceu Valença, um artista onipresente nos festivais, fez uma das melhores performances que já vi. Engraçado, carismático e enérgico, o nordestino passou pelos grandes sucessos da carreira, como “La Belle De Jour”, “Anunciação” e “Morena Tropicana” com a facilidade de quem passa manteiga na tapioca. Alceu não usa ponto eletrônico. O erro na hora de chamar uma música virou acerto. A plateia já estava no bolso de qualquer forma. 

BK, Brime e Ana Frango Elétrico completaram o dia. 

O Coala não é mais um festival, ele é uma marca de música. Lança artistas, produz clipes –  é, inclusive, vencedor do Grand Prix em Cannes com Baco Exu do Blues. Essa mistura entre artistas veteranos e iniciantes, acontece em todas as edições. 

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Festival Coala. Reprodução.

Mas, o terceiro dia foi completamente dominado por Maria Bethânia. Acostumada a fazer shows em teatro e lugares controlados, Bethânia encarou o segundo festival da carreira com a genialidade e experiência da Abelha Rainha que ela é. Foi, sem sombra de dúvida, a apresentação mais poderosa da edição. 

Bethânia enfileirou mais de 30 canções. De Roberto Carlos à Gonzaguinha, o público ouviu a voz da artista se espalhar como uma cachoeira, e se misturar às lágrimas de quem assistia. Foi algo impressionante! Músicas com ampla inspiração sertaneja, como “Tocando em frente”, do Renato Teixeira, ressoavam como um louvor na plateia jovem, e que provavelmente nega o gênero.

Bem-humorada, Bethânia não deixou passar os eventuais problemas que surgiram. No desencontro da banda em “Mulheres do Brasil”, ela soltou um sonoro “tá tudo errado, mas vamos”. 

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Festival Coala. Reprodução.

Já quando o palco inteiro se apagou no final de “Tá escrito”, ao voltar para o encerramento, ela foi igualmente leve: “achei que não voltava. Pifou tudo!”. 

Esse pecado da produção não tira o brilho da megaestrutura montada para esse ano. Com o dobro do tamanho, o Coala juntou marcas, ativações, ampliou o espaço dos shows, e se transformou em outro festival. O lindo palco tornou cada apresentação uma fotografia. 

Foi uma edição história e a melhor até aqui. O desafio para 2023 também aumentou de tamanho. Especialista em criar palcos diversificados e trazer nomes importantes, mas pouco acionados pelos grandes festivais, como Djavan, Milton Nascimento e Tom Zé, a próxima edição vai pedir outro passeio pelo tempo. Tomara que o festival ainda insista em Alcione. 

Ainda lembrando de como o público cantou “Cálice”, não fica difícil sonhar no próprio Chico Buarque como headliner. 

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