Os melhores shows que vi em 2023

Marina Lima, Paul McCartney, passando por Caetano, Gil e Roger Waters, o ano foi repleto de bons shows.

Entre festivais e shows solos, internacionais e nacionais, foram mais de 60 apresentações vistas em 2023. Se é impossível selecionar os melhores dentre todas os outras que aconteceram no país e eu não pude ver, o esforço deste recorte está em relembrar alguns bons momentos e, talvez, inspirar para o próximo ano. Para evitar o exagero na exaltação, a lista foi limitada em 10 shows e algumas menções honrosas.

Nacionais 

Caetano e Gil (Festival de Verão de Salvador)

Ouvir o Gil cantando “Back in Bahia” em Salvador, logo depois de um ano difícil, é um tipo de sensação que só os grandes poetas podem achar definição. Na companhia luminosa de Caetano Veloso, com ambos puxando “São Salvador”, do Dorival Caymmi, e depois “Divino, Maravilhoso” em homenagem à Gal Costa, falecida alguns meses antes, foi um dos grandes shows que já vi na vida. 

Marina Lima e Fernanda Abreu (Coala Festival)

A junção de duas das maiores cantoras do pop e rock nacional, pioneiras e ainda hoje artistas capazes de dizer muito com a música, foi um achado da curadoria da edição do Coala 2023. Intercalando lindos momentos até a completa união no palco, Marina Lima e Fernanda Abreu bifurcaram aquela noite pra sempre. Por pouco mais de uma hora, o Memorial da América Latina virou uma enorme jukebox. 

OlodumBaiana (Coala Festival e Festival de Verão de Salvador) 

Eu tive a sorte de ver essa banda “nova”, que capta a ancestralidade do Olodum sem perder o tino do som contemporâneo do BaianaSystem, nas duas ocasiões onde eles tocaram juntos. Toda a força, a resistência e originalidade dos dois grupos formaram esse terceiro elemento no palco, que impacta, provoca e, sobretudo, inspira a nossa cultura em primeiro lugar. Baita show! 

Lia de Itamaracá (Sesc Santana) 

Existem poucas artistas tão unidas à música quanto Lia de Itamaracá é unida à ciranda. A ilha de Itamaracá guarda a tradição da dança, que não tem uma origem acertada, mas que tem o nome inspirado na zaranda, um instrumento para peneirar farinha, nativo da Espanha. Seja lá como a ciranda aportou no Brasil, foi Lia quem deu ao ritmo uma cara, braços e coração.

Edu Lobo (Sesc Pinheiros) 

Aos 80 anos, Edu Lobo é um artista que arrasta um passado consigo, mas sem que lhe pese os ombros. Ao contrário, à medida em que se apresenta, parte desse passado é deixado como um tipo de totem musical ao público. A sensação ao vê-lo cantando Beatriz é transversal: passa pelas eras, pelas melodias e nos atinge em cheio. 

Caetano Veloso toca Transa (Espaço Unimed) 

Eu não estive no perrengue do Doce Maravilha, o festival no Rio de Janeiro onde a primeira comemoração deste emblemático álbum, Transa (1971), aconteceu. A ideia de fazer apenas uma festa, pra nossa sorte, foi descartada. E Caetano contou de novo com a banda original – Jards Macalé e Tuty Moreno – além da luxuosa participação de Angela RoRo, fazendo interpretações arrebatadoras de Escândalo e Amor, meu grande amor.

Bônus:

Alcione, Maria Bethânia, Daniela Mercury e Marisa Monte (Festival Rock the Mountain) 

Roubada no jogo, né? Mas o line up só de mulheres da última edição do RTM foi um dos gestos políticos e artísticos mais significativos dentre esse tipo de evento. Não só porque mostrou e reforçou a necessidade de pensar em artistas mulheres, mas em como o Brasil conta com headliners poderosos. Eu poderia citar artistas do festival inteiro, com raras exceções que não me emocionaram ou surpreenderam. Só que Alcione, Maria Bethânia, Daniela Mercury (pra mim, dona do melhor e mais surpreendente show do festival) e Marisa Monte tornaram essa edição algo dificílimo de acontecer de novo. 

Internacionais 

Lianne La Havas (Cine Joia) 

Em 2014, eu aguardava o Coldplay entrar em cena, quando a Lianne la Havas começou a tocar. Naquela ocasião, ela abriu para a mega banca britânica. Foi um uma maravilha conhecê-la ali, ao vivo, entregando tudo. De volta ao Brasil, Lianne fez um show arrasador. Cantou com Liniker, botou Pretinho da Serrinha para batucar, passou dias fazendo som com Milton Nascimento, e mostrou uma intersecção maravilhosa entre a música dela e a do Brasil.

Joss Stone (Breve Festival) 

Joss Stone foi a única atração internacional do Breve Festival. Se apresentando entre Liniker e Alcione, em um line up que ainda teria Ludmilla e Péricles, o swing da inglesa parecia como botar cheddar na feijoada. Bobagem. A mistura deu certo e Joss Stone entregou um dos melhores shows da noite. 

Erykah Badu (Memorial da América Latina)

Por alguma razão desconhecida, transformaram o que seria um show solo da Erykah Badu em um “festival”. O resultado? Ela entrou atrasada, tocou pouco mais de 50 minutos e deixou as quase 20 mil pessoas presentes com vontade de vê-la de novo. Mesmo assim eu destaco como um dos grandes shows internacionais que vi no ano. 

Roger Waters (Allianz Parque)

Nada se parece com um show do Roger Waters. É uma junção de música, cinema, teatro e tecnologia tão bem domados, que é impossível sair indiferente. Da abertura soturna com Comfortably Numb, até o final, já atrás do palco, nós vemos sua trajetória fiel, imperfeita, mas sempre arrebatadora; a vida de um gênio da música na forma de um espetáculo. 

Paul McCartney (Allianz Parque)

Nada se parece com um show do Paul McCartney. Não tem teatro, não tem tecnologia, o setlist é o mesmo há anos, com poucas surpresas, e ainda assim é emocionante, forte. Essa passagem pelo Brasil foi intensa! Paul fez surpresa no Clube do Choro, uma homenagem improvisada para John Lennon, tocou Day Tripper, canção não tocada ao vivo desde 2017… O beatle consegue criar um show magnético, que puxa gerações distintas. Em uma de suas apresentações, pertinho de mim, estava a Letrux, cantora super progressista, e o Kim Kataguiri, o deputado federal. Ambos curtindo de boa, como se a melhor definição do que é alegria fosse “Ob-La-Di, Ob-La-Da”. Sabe o que isso significa de verdade? Que a música do Paul McCartney transcende tudo mesmo. 

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Menções honrosas:

Coldplay (Morumbi), Marcelo D2 (Audio Clube), Ferrugem (Festival de Verão de Salvador), Don L. (Casa Natura), Cesar Camargo Mariano (Sesc Belenzinho), Tom Zé (Sesc Belenzinho), Ludmilla (Breve Festival), Filipe Catto (Espaço Unimed) Chico Buarque (Tokio Marine), João Gomes (Breve Festival) e Jorge Ben Jor (Coala Festival). 

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