Nada como uma espingarda pra resolver uma reunião. E depois perder a conta

O cliente saiu da sala e voltou 5 minutos depois, com uma espingarda de 1,50m. Colocou em cima da mesa e falou: “agora eu quero ver. Esse negócio tem que funcionar.”

O Paulo Berti, do Atendimento da McCann, mais conhecido como FOGUEIRA por seus cabelos ruivos, me lembrou do Causo abaixo, que ele próprio relata. Foi em meados dos anos 90.


Por Paulo Berti

Um belo causo é aquela estória que aconteceu quando fizemos uma apresentação de campanha para a Diretoria toda do novo cliente, lá na cidade deles.

Tínhamos conquistado a conta recentemente, numa concorrência acirrada. Fizemos uma apresentação forte em estratégia de gestão de Marca, rica em Criação e imbatível em Mídia.

Fomos vencedores quando o presidente da empresa era um e a diretoria era composta pelo patriarca, fundador da empresa, e seus filhos.

Quase um mês depois, voltamos pra cidade pra apresentar os filmes da campanha aprovada, já produzidos.

Alexandre Filizola e eu, Fogueira, do Atendimento, mais o projecionista Cazuza, chegamos antes, pra instalar e checar os jurássicos equipamentos da época, um U-MATIC NTSC. Tivemos que montar os equipamentos em uma sala e conectá-los ao aparelho de TV que estava ligado em outra sala, a sala oficial de reunião.

O problema era que o cabo não passava a imagem de uma sala para a outra. Começamos a tentar e testar outros jeitos de passar o filme na sala oficial de reunião.

Remontamos tudo, com outra TV conectada ao nosso U-MATIC NTSC, mas nada funcionava.  O Perci, a Helena Quadrado e o Ângelo Franzão, a Diretoria enfim, estavam pra chegar e fazer a apresentação dos filmes.

Depois de um bom tempo com todos na sala e nenhum sinal do U-Matic funcionar, começou um zumzumzum pela espera. Nesse momento de conversas paralelas, um dos diretores, filho do patriarca da empresa, se levantou e saiu.

Depois de uns 5 minutos ele voltou com uma espingarda de quase 1,50m de altura, colocou em cima da mesa e falou para todos ouvirem em alto e bom som: “Agora eu quero ver… esse negócio tem que funcionar.”

A maneira “persuasiva” que ele achou para o U-MATIC NTSC funcionar fez todos da companhia rirem. Menos eu! Não gosto de armas.

Meu pai nunca teve armas. Nem exército eu fiz. Aquilo para mim foi uma porrada no estômago e todos devem ter percebido minha surpresa e indignação. Até o medo deixei escapar!

Um dos homens de confiança da Família, mais velho e equilibrado que os filhos, percebeu tudo aquilo por que eu estava passando e falou uma frase para quebrar o gelo.

Com aquele sotaque interiorano carregado e com sua voz fina: “Para derrubar esse cara (eu) e uma agência como a McCann, só uma dessas espingardas mesmo…”

Todos riram, nervosos, mas o clima começou a voltar a ficar mais leve e o ar, respirável.

Nossa Diretoria chegou, mas ainda faltava a porra do U-MATIC NTSC funcionar!

Lembro da reação do Perci ao ver nossa aflição e a espingarda em cima da mesa de reunião.

Na hora ele sacou tudo e fez um comentário matador: “Tem muitos patos aqui na região? Vamos caçar patos, enquanto eles tentam fazer a projeção funcionar? Mas estão faltando mais espingardas pra todo mundo…”

Por milagre e vontade de algum anjo de guarda protetor dos U-MATICs e das Agências de Propaganda, tudo começou a funcionar e o filme passou na TV, logo depois da fala irônica do Perci.

Ufa! Era nossa deixa para o showzinho. Demos um pause no vídeo, relembramos rapidamente a estratégia da campanha e mandamos ver nos filmes. Foi um sucesso!

Todos aplaudiram já na primeira passada dos filmes. Os sorrisos de todos eram evidentes, ninguém fez cara de pôquer. Tínhamos certeza de ter feito um golaço, imediato e de longo prazo. O tema era, como dizia o Perci, “campanhável”.

A primeira fase da campanha era algo como: “Como se pede o produto tal” e explorava os diversos nomes por que a famosa Marca era carinhosamente chamada nas diversas regiões do Brasil. Foram usados dois aviões para rodar o Brasil e agilizar as filmagens.

Depois disso, uma segunda fase de campanha, explorando os belisquetes e tira-gostos: “O que se come pra acompanhar o produto tal”.

Depois, a intenção era estender a campanha para “Com quem se toma o produto tal”, “Em que lugar se toma o produto tal”.

Estava tudo ali muito claro e de um posicionamento perfeito, a maior parte das cenas já estava pronta. Tínhamos muito material filmado pelo Hugo Prata. Bastava editar.

Mas as coisas mudaram dentro da companhia mais uma vez e a campanha morreu ainda em sua primeira fase. Porque ela havia sido aprovada por outro presidente, que já não estava mais na empresa.

Foi uma pena, pra todos, principalmente para a McCann, que perdeu a conta em seguida por puras razões político-familiares. Sem espingarda dessa vez.

Uma pena, inclusive, para o John Dooner, Presidente Mundial da McCann, que veio ao Brasil e chegou a contratar um helicóptero para visitar a Matriz da empresa no interior. Viajamos (ele, Jens Olesen, Perci e eu) sob uma terrível tempestade.

Nos arriscamos nesse voo, porque John sabia do poder e do potencial da Marca vir a se tornar uma das forças globais no seu setor. Não se tornou. Com ou sem espingarda.


Texto publicado originalmente no Blog do Perci

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