A gambiarra que virou arte.
Até o final do século 19, todas as casas do pequeno e humilde vilarejo de Zalipie (68KM de Cracóvia, capital da Polônia) tinham um buraco no telhado, para deixar escapar a fumaça dos fogões à lenha.
Para disfarçar as manchas que essa fumaceira toda deixava nas paredes, as caprichosas mulheres da vila passavam uma mão de cal, para ficar branquinho de novo.
Anos depois, quando as casas de Zalipie ganharam chaminés, as manchas de fumaça acabaram. Mas as tiazinhas polacas já estavam viciadas. E logo começaram a competir umas com as outras, pintando não apenas as paredes, mas qualquer coisa que não conseguisse fugir delas: o galinheiro, o celeiro, os batentes, as portas, os pratos, as canecas, as casinhas dos cachorros, pontes, chão da praça, tudo. Cachorros e crianças escapavam, mas só os mais ligeiros.
Zalipie virou uma imensa e coletiva tela 3D.
Começaram, como fazem as crianças, inventando padronagens básicas como linhas, zigue-zagues, bolinhas, ondinhas, etc. Até que uma começou a usar argila, outra começou a colar pedaços de tecidos com leite, açucar e claras de ovos, outra começou a fazer pincéis com crina de cavalos e cabelos humanos, e os desenhos foram ficando mais elaborados e as flores foram escolhidas como tema preferido. Começaram a brotar por todas as superfícies planas – ou quase planas – de Zalipie. Mais rápido do que as flores de verdade.
Aí, em 1905 um padre de Cracóvia foi rezar uma missa em Zalipie e ficou maravilhado com as casas. Quando voltou para a capital, escreveu um artigo sobre o vilarejo florido e Zalipie ficou famosa. Criaram uma data oficial para premiar a casa mais bonita, em uma festa que acontece todo ano, na semana seguinte a Corpus Christi. As flores começaram a aparecer nos vilarejos vizinhos de Kuzie, Niwka and Kłyż. A pintora mais famosa era Felicja Curyłowa (1904–74) e suas 3 casas viraram um museu.
E tem gente que ainda não acredita no poder do ócio. E da simplicidade.
Vamos nos entediar! Mesmo porque, hoje é sexta-feira. Pinta aí sua parede.