Um pouco do Rio Content Market

Por Fernando Muylaert

Na semana passada pus umas camisetas e um blazer na mala para passar uma semana no Rio de Janeiro. Praia, cerveja gelada e água de coco? Não dessa vez. Minha aventura consistia em explorar o Rio Content Market, já na quinta edição.

O evento junta os produtores de conteúdo com as emissoras de televisão, além de uma gringaiada boa e animada. As emissoras falam o que desejam e os produtores mostram o que tem, tentando vender o peixe. As palestras tratam de tudo, mas o mais rico são as trocas de experiência. Leis de direitos autorais, mudanças do mercado, novas mídias e até o BBB estão em pauta. Boninho e a trupe global falaram dos brothers e de como a Globo vem adaptando formatos internacionais para nosso mercado. Confesso que não consegui assistir a essa palestra, há muita coisa acontecendo e, nessa hora, eu estava… uhmm… nem sei mais.

O mais interessante, para mim, foi ver as mudanças na forma da televisão e as novas possibilidades de contar história. Jorge Furtado e Luiz Villaça não conseguiram esconder a idade ao lembrar da família reunida na sala no momento sagrado, brigando pelo programa que TODOS iriam assistir. Tudo isso ainda no velho botão redondo, que dava poucas opções. Depois veio o controle remoto, para desespero de alguns, pois ficou muito fácil o tio Alberto mudar de canal assim que a Família Trapo ia para o reclame. Essa foi a primeira das revoluções, mas outras ainda deixariam os executivos de cabelo em pé, ou melhor, sem cabelo. As multi-telas estavam chegando, as multi-plataformas também.

Uma infinidade de canais invadiu o dial na TV a cabo e as opções on demand também. Hoje, cada filho assiste ao programa predileto no seu gadget, seu celular, Ipad, computador ou até no novo IWatch, na hora e do jeito que quiser. O conteúdo não é mais feito para toda a família, mas é pessoal, mira um target específico.  Outro dia, alguém comentou comigo que foi flagrado pelo filho pequeno diante de um aparelho de televisão e o filho, espantado, perguntava: mas você é obrigado a ver o que eles querem?

Autenticidade foi outro tema marcante no evento, abordado tanto pelos profissionais das emissoras, como pela turminha do Youtube, que teve a palestra mais disputada. Todo mundo se estapeava para conseguir uma cadeira e saber como lidar com essa onda que veio como um tsunami gigante, que ainda apavora muitos executivos do mercado.

As infinitas possibilidades de veicular conteúdo, com alvo (target) cada vez mais preciso, também é uma chave. A segmentação dos canais é minuciosa e precisa como uma investigação de Sherlock. Temos programas produzidos para crianças de um ano, outro dedicado a crianças de dois a quatro anos. Até um canal de TV inteiramente dedicado ao seu fiel melhor amigo, o cachorro. Sim! Agora tem um canal só para o seu cachorro não ficar entediado.

Furtado deu uma boa dica para os criadores: você precisa absorver tudo, mas pegar só o que fala à alma, misturar tudo e criar algo autêntico. Isso tem um valor incrível. A sinopse do Family Guy e do South Park é muito parecida, mas as obras são absolutamente diferentes e únicas.

Escreva para uma pessoa e para todo mundo.

A audiência mudou. Autoria sempre vai ser: vou contar uma história que me interessa, pois  assim terei minha identidade. Se for verdadeira vai envolver alguém. E, quem sabe, uma multidão.

Esse debate permeia o tão falado livro “Homens Difíceis”, que estou lendo agora, sobre as novas séries americanas que misturam de gêneros. House fez isso misturando drama com investigação policial. A inspiração do seu autor foi Sherlock Homes, meu caro Watson.  Essas combinação deixa  a trama mais rica e profunda.  O cinema esgotou um pouco as formas de contar a história. E a televisão, que era considerada por muitos uma arte superficial e rasa, agora  se tornou o melhor lugar para fazer um trabalho mais denso e ousado. Quem diria que o professor de química que se transforma em traficante perigoso seria o novo grande herói na televisão? É tal o convívio que conhecemos mais o Tony Soprano do que a maioria dos nossos parentes. Que por sinal são bem mais chatos, eles que me perdoem.

Fernando Muylaert é roteirista, ator, repórter, comediante e produtor de conteúdo. Apresentou e produziu o programa Vida Loca Show por quatro anos no canal Multishow. Foi repórter de Otavio Mesquita, Luciano Huck e Eliana no SBT. Hoje tem seu canal: www.entranessaporra.com e apresenta o talk show Muy La Show no Update or Die que estreia em março.

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