“Comunicação é basquete, não é futebol”, diz Sergio Valente

Sergio Valente continua frenético. O diretor de comunicação da Globo palestrou nesta quinta-feira (1), durante a CCXP UNLOCK, o evento da Comic Con Experience voltado para negócios. O papo foi mediado por Nathalia Arcuri. Com seus aforismos característicos, forte sotaque baiano e um tênis quadriculado encantador, o diretor não poupou nenhum tema. Falou sobre tudo: de novelas à isenção, passando por licenciamentos e outros assuntos.

Ex-presidente da DM9, Valente está na Globo desde 2013. Segundo o diretor, trabalhar na vênus platinada é “um tesão”. “Participar da construção deste valor de marca, pra mim é incrível”, disse o publicitário ressaltando seu principal objetivo na Globo: construir marca.

Aliás, Valente bateu nesse ponto várias vezes. O executivo afirma: ou você constrói marca, ou vai ser um “vendedorzinho de produto”. Como fazer isso? Com comunicação, a “coisa mais importante que você tem que fazer”.

“Marca tem que ser muito maior do que a empresa”, afirmou. A Globo, por exemplo, nunca foi o emprego dos sonhos de Valente, mas sempre foi sua “marca dos sonhos”. “Tenho fascínio pelo poder de marca Globo. As únicas duas coisas que me tirariam de agência começam com G”, explicou Valente se referindo ao Google e, obviamente, Globo.

Valente tem plena consciência dos erros da emissora e não tem vergonha de mencionar isso em público. Mas se você tem uma imagem que a emissora carioca é careta e ultrapassada, saiba que ele quer mudar isso. “A Globo fez coisa errada? Fez uma porrada, mas quem aqui nunca errou? Só não erra quem não faz nada. […] Eu tenho tesão pela Globo. Tem banheiro sujo? Tem, mas nada que um bom esfregão não resolva. […] A Globo é a Pixar brasileira”.

Mudar o cenário leva tempo. A comunicação, nas palavras de Valente, é um polvo. “Com tentáculo pra caralho”. Segundo o diretor, comunicação é basquete, não é futebol. “Você não ganha um jogo de basquete com um gol, você ganha com 100 pontos”, analisou.

O limite? Não existe. “É um inferno trabalhar comigo porque eu não celebro, eu não festejo. Eu acho que o tempo inteiro dá pra fazer mais. […] Um dia o Beto Sucupira disse: nós vamos comprar a Budweiser. Quem ia acreditar que aqueles carioquinhas iam comprar a Budweiser?”, exemplificou citando o sócio da Anheuser-Busch Inbev.

A pressão dos tempos de agência continua. O Vem Aí, por exemplo, foi criado em 15 dias (o evento, slogan, vídeos, etc.). E sempre pensando em relevância, não em audiência. “Ter audiência é fácil. Se você meter uma cagada na televisão, um monte de gente tomando tiro… Dá audiência, mas isso vai dar relevância? As marcas vão querer anunciar neste horário de sangue escorrendo?”, questionou.

A concorrência preocupa, mas é uma concorrência diferente do que você imagina. Valente enumera: o sol, o céu, o bar, a vida. “Essa é a concorrência de qualquer pessoa que se trabalha com entretenimento. Como ganhar? Fazendo coisa boa”.

Nem mesmo maior site de vídeos do mundo preocupa o diretor: “Não considero o Youtube concorrente. Ele é uma ferramenta. A gente [a Globo] tá no Youtube, utilizamos a ferramenta para promover nosso conteúdo, valores e ideais. Como posso olhar este veículo de penetração e dizer que é meu concorrente? Agora, se eu for burro, eu trato ele como meu concorrente. A primeira forma de ser burro é disponibilizar 100% de seu conteúdo no Youtube. Desculpa, se você é consultor você não disponibiliza 100% de suas ideias”, explicou Valente reiterando que sabe do modelo de receitas do Youtube, mas se você já possui um modelo, por que vai destruí-lo “para alavancar o outro?”.

E nada de separar conteúdo digital e conteúdo broadcast. Segundo Valente, conteúdo tem que ser bom. “Se for bom, vai quebrar tudo no digital e no broadcast”.

O publicitário também mencionou, por diversos momentos, a Globo Play, plataforma de streaming da gigante carioca. Mas ele alerta: “O device tem que ser entendido como um ‘possibilitador’. Se você estiver no trânsito, você não leva uma Samsung 4k dentro do carro”, disse.

Até mesmo a política foi abordada por Valente após uma pergunta da plateia sobre “coxinhas e petralhas”. “A resposta daria uma bíblia”, disse. Mas ele tentou resumir dizendo que toda terça há uma conversa de um comitê de diretores da Globo em que um dos assuntos abordados é a dicotomia política do Brasil. “Conversamos sobre isso”, revelou. O grande problema é que exibindo um lado, você desagrada o outro, um ciclo sem fim. Para o executivo, o grande equilíbrio é o respeito. “A Globo está do lado da isenção. Temos até um cara que controla a secundagem! Tudo para que um lado tenha absolutamente o mesmo tempo de outro”, explicou.

Para o futuro, a emissora pretende melhorar seus produtos licenciados. Segundo Valente, o público ainda desconhece a maioria porque eles eram todos “cagados”, mas isso já começou a melhorar, a começar pela produção da coleção #noveleiros, cujos produtos fazem referência a personagens clássicos da emissora.

Sergio Valente segue inquieto, frenético e a toda. Quem ganha é a comunicação, “a coisa mais importante”.

frasefinal

Receba nossos posts GRÁTIS!
Mostrar comentários (3)

This website uses cookies to improve your experience. We'll assume you're ok with this, but you can opt-out if you wish. Accept Read More