Dave Grohl: porque shows ao vivo precisam voltar

Dave escreveu sobre o quanto a pandemia do Covid-19, cancelando todos eventos ao vivo (não só os de música), deixa um vazio

Por que voltarão? Oras, porque a música assim exige.

A música, não: são as pessoas que exigem. Música é apenas uma desculpa. Ou talvez um canal, um meio, um imã que nos une, uns aos outros.

Dave Grohl escreveu dia 11 um artigo na excelente revista The Atlantic sobre esse sentimento de comunhão, e o quanto a pandemia do Covid-19, cancelando todos eventos ao vivo (não só os de música), deixa um vazio e uma urgência de que possamos nos reencontrar novamente. Mas o reencontro que ele escreve não é com a familia no almoço de domingo; Grohl está sedento é pela catarse dos shows ao vivo, da multidão se apertando, pulando e berrando.

Um trecho de seu artigo está abaixo, mas eu realmente te aconselho a ler o texto todo, no link do final. 


“Infelizmente, a pandemia de coronavírus reduziu a música ao vivo de hoje a janelas pouco lisonjeiras que se parecem com imagens de câmeras de segurança, e soam como as transmissões distorcidas de Neil Armstrong da lua, de tão gaguejadas e compactadas. É o suficiente para fazer Max Headroom parecer realista. Não me interpretem mal, posso lidar com a monotonia e a culinária limitada da quarentena (minha lasanha está no ponto!), e sei que aqueles de nós que não precisam trabalhar em hospitais ou entregar pacotes são os sortudos, mas ainda assim, estou com fome de um grande e velho prato de rock and roll, suado e triturado, o mais rápido possível. Do tipo que faz seu coração disparar, seu corpo se mexer e sua alma se agitar com paixão.

Não há nada como a energia e a atmosfera da música ao vivo. É a experiência mais afirmativa da vida: ver seu artista favorito no palco, em carne e osso, e não uma imagem unidimensional brilhando em seu colo enquanto você percorre o YouTube à meia-noite. Até nossos super-heróis mais amados se tornam humanos quando os encontramos pessoalmente. Imagine estar no Estádio de Wembley em 1985, quando Freddie Mercury subiu ao palco para o show do Live Aid. Pra sempre considerada como uma das performances ao vivo mais triunfantes de todos os tempos (apesar de seus meros 22 minutos), Freddie e o Queen conseguiram nos lembrar que, por trás de todo deus do rock, há alguém que coloca seu bracelete cravejado, sua regata branca absurdamente apertada, seus jeans stonewashed – uma perna da calça de cada vez – como todos nós. Mas não foi necessariamente a mágica musical do Queen que fez história naquele dia. Foi a conexão de Freddie com a plateia que transformou aquele estádio de futebol em ruínas em uma catedral sônica. Em plena luz do dia, ele majestosamente fez de 72.000 pessoas seu instrumento, juntando-se a elas em uníssono harmonioso.

Como frequentador de concertos ao longo da vida, conheço bem esse sentimento. Eu mesmo fui pressionado contra o frio alambrado frontal de um show de rock na arena. Eu “toquei bateria” no ar junto com minhas músicas favoritas e fui esmagado na multidão, dançando sob perigosos níveis de decibéis enquanto me perdia no ritmo. Fui elevado e levado ao palco por um bando de estranhos para depois mergulhar gloriosamente de volta ao seu abraço suado. De braços dados, cantei com meus pulmões a toda, com pessoas que talvez nunca mais eu veja. Tudo para comemorar e compartilhar o poder tangível e comunitário da música. Quando você tira a pirotecnia e os confetes de um show de rock de arena, o que resta? Apenas … pessoas?

(…) No mundo atual de medo, inquietação e distanciamento social, é difícil imaginar compartilhar experiências como essas novamente. Não sei quando será seguro voltar a cantar de braços dados a plenos pulmões, corações acelerados, corpos em movimento, almas repletas de vida. Mas sei que faremos novamente, porque precisamos. Não é uma escolha. Nós somos humanos. Precisamos de momentos que nos garantam que não estamos sozinhos. Que nós somos entendidos. Que somos imperfeitos. E, o mais importante, que precisamos um do outro. Compartilhei minha música, minhas palavras, minha vida com as pessoas que vêm aos nossos shows. E eles compartilharam suas vozes comigo. Sem aquela platéia – aquela platéia estridente e suada – minhas músicas seriam apenas um som. Mas juntos, somos instrumentos em uma catedral sônica, que construímos juntos noite após noite. Uma catedral que certamente construiremos novamente.”

O artigo inteiro está no link abaixo:

https://www.theatlantic.com/culture/archive/2020/05/dave-grohl-irreplaceable-thrill-rock-show/611113/

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