A Publicidade Vai Ao Cinema | O longo caminho entre a ideia e a glória em “Joy: O Nome do Sucesso”

Dirigido por David O. Russell, o filme é um conto de fadas sobre as dificuldades de lançar um produto.

Joy Mangano (uma excelente Jennifer Lawrence) inventou uma coleira canina que se soltava quando o cachorro mostrava desconforto. Também servia de anti-pulgas. Ninguém deu moral e dois anos depois uma empresa patenteou a ideia. 

Com um esfregão que torce sem que seja necessário tocar no pano, o processo foi outro. “Joy: O Nome do Sucesso” é a história real de como essa dona de casa americana se transformou em uma grande inventora de produtos e utensílios domésticos, e ficou milionária. 

Poderia ser um dramalhão lotado de frases clichês, com cenas super ensaiadas e momentos pouco inspirados, onde o sofrimento do “sonhador” segura a plateia pelo pescoço. “À Procura da Felicidade” é um bom exemplo. 

Mas o diretor, David O. Russell, entende que Joy é uma personagem de conto de fadas e que olhá-la por um lado mais cínico e sarcástico, destacariam melhor suas qualidades. 

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A atriz Jennifer Lawrence com a verdadeira Joy Mangano

Insistir, não desistir, acreditar… tudo isso é vago demais e pouco aplicável na vida de um empreendedor. O que o filme faz é mostrar como os problemas pessoais dela emperravam seu sucesso profissional, e em como é mais difícil para uma mulher do que para um homem encontrar o ponto que torna essas duas vidas possíveis e complementares. 

Joy tinha uma família disfuncional, uma mãe que passava o dia inteiro vendo novela, uma meia-irmã que só atrapalhava, um pai sem juízo e o ex-marido morava no porão. 

A namorada rica do pai resolve investir no esfregão. E aí começa uma saga para que o negócio dê lucro. 

Não foi tão simples, nem tão óbvio, nem tão emotivo. Também roteirista, David O. Russell impede que os problemas de Joy atinjam um drama pacato. O seu texto é enérgico, bem humorado e desenvolve a personalidade dela sem que sua personagem emule um post do LinkedIn. 

Mesmo nos momentos onde a solução “pessoa que nunca desiste” grita, o filme faz o que pode pra que o teor motivacional seja empático, humano. A amizade com o diretor de um canal de vendas Neil Walker (Bradley Cooper) mostra isso bem.

Aliás, a interação da dupla rende bons momentos no filme e não deixa de ser divertido ver Joy introduzir o conceito de marketing direto. Se ela é inventora, dona de casa e entende do produto, ela saberia como falar com o público-alvo. 

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Para usar uma palavra da moda, “Joy: O Nome do Sucesso” hackeia os contos de fadas para vender sua mensagem e desenvolver uma história que não é sobre empreendedorismo, especificamente. 

É sobre como o sistema mata a criatividade; sobre como é difícil se manter ativo quando tudo dá errado; como é complicado ser mulher – empreendedora ou não; como uma ideia genial ainda precisa se provar o tempo inteiro e o quanto é difícil vendê-la; como cada etapa até o sucesso é dolorosa e cheia de burocracia; é um filme sobre como o marketing é poderoso no fluxo de vendas, mas ele não salva um produto ou uma negociação ruim. 

Tudo isso faz parte do universo empreendedor. Não quer dizer que todo mundo que enfrenta isso seja um. Outro filme que a gente já falou aqui, “Fome de Poder”, sobre a vida do fundador do Mcdonald’s, é um paralelo interessante para entender essa diferença.

No final, já sentada na sua pomposa sala, recebendo uma mãe com uma ideia, aparentando as mesmas dificuldades que ela já teve, Joy deixa claro que o nome do sucesso é outro. 

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