Tapa, hipocrisia, realidade e metaverso

O tapa que Will Smith deu no Chris Rock no último Oscar é dificílimo de ser analisado, ainda mais quando o juiz é o nosso cérebro moralista e binário.

Aqui entre nós: é muito fácil defender qualquer um dos lados, seja pela violência descabida (e desproporcional) ou pela defesa da condição fragilizada de Jada Pinkett Smith.

Complicada e preocupante mesmo é a onda de cancelamento, físico e virtual, que sucede atos demasiadamente humanos (não confundir com crimes como racismo, apologia ao nazismo, homofobia).

Chris, então coadjuvante, errou. Will, protagonista, errou, arruinou sua própria noite, pediu desculpas com o Oscar nas mãos e também no dia seguinte. Perdeu contratos importantes (incluindo Netflix e Disney, onde salvou o último Aladdin com seu – ironia – gênio). Em estado depressivo, encontra-se internado em uma clínica de reabilitação.

O que me leva a pensar: Will Smith é um cara que empilha boas ações, gera (dezenas de) milhares de empregos, defende até as últimas consequências bandeiras como a preservação do meio ambiente e o fim da desigualdade racial. Como um tapa, ainda que televisionado, pode ser capaz de se sobrepor a tudo isso?

Enquanto reflito a respeito, me lembro do linchamento virtual de Karol Conká por seu comportamento no BBB – repetido à exaustão, e de forma muito mais preocupante, por outros participantes brancos nas 22 edições do programa.

Será que existe um prazer mórbido em vermos pessoas famosas caírem e se machucarem de verdade, mostrando que são meros e vulneráveis mortais como todos nós? Esse sentimento se multiplica, (in)conscientemente, quando essas pessoas têm um tom de pele mais retinto?

Ou ainda: quando a realidade se sobrepõe ao metaverso e o tapa pega mesmo e faz barulho, estamos preparados para lidar e debater a respeito – baixando os vidros do carro e deixando a hipocrisia de lado, como pede Flaira Ferro?

Pra me encher do que importa
Preciso me esvaziar
Minhas feras encarar
Me reconhecer hipócrita

Sou má, sou mentirosa
Vaidosa e invejosa
Sou mesquinha, grão de areia
Boba e preconceituosa

Sou carente, amostrada
Dou sorriso e sou corrupta
Malandra, fofoqueira
Moralista, interesseira

E dói, dói, dói me expor assim
Dói, dói, dói despir-se assim

Força, Will. 💟

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