A sua dose de acolhimento também foi pro beleléu?

A falta de autoamor alheio acaba causando uma reação de desgaste em cadeia

Do segundo semestre até o fim de semana passado, eu me senti como a última peça de um circuito de dominós, daqueles jogos que fazíamos na infância. Era uma fileira enorme de dominós espalhados pelo chão da sala. Um único toque no primeiro e começa uma espécie de balé de pecinhas emparelhadas, até cair o último da fila.

Eu não culpo quem foi forçado a parar, mas eu confesso, tive raiva. Eu posso sentir raiva por alguém que me deixou na mão, depois de aceitar fazer parte de um projeto que tinha entrega de urgência?

Posso sentir asco do paquera que, de um dia para o outro, deixou de falar comigo porque teve uma crise de burnout?

Tente me entender, antes de me atirar pedras ou me criticar.

Eu também estou cansada, também estou de saco cheio, falta pouco para perder o traquejo social – confesso que perdi na última semana – e se eu não paniquei (se é que a palavra existe) neste ano, arrisco a dizer que soube administrar minhas frustrações, expectativas e disse diversos “nãos” para tarefas ou compromissos que eu tinha a mais absoluta certeza de que eu não daria conta.

Eu sinto muito se você teve uma crise de ansiedade este ano ou passou por qualquer estresse ou esgotamento que te levou à exaustão extrema. O meu desabafo é de quem está no entorno dessa pessoa. No meu caso, foram duas vivências, a profissional e a pessoal. Ambas as pessoas, que eu adorava e admirava, de um dia para o outro, me deixaram sobrecarregada, de trabalho e emocionalmente, e coube a mim praticar o princípio da “não resistência” – o famoso aceita que dói menos –, pegar todas as minhas ferramentas e encontrar soluções para as dores que os outros me causaram. E olha que eu estava numa boa, cansada, mas negociando com os meus demônios dia sim e dia também para ter equilíbrio no meu dia a dia.

Tá, aí chega uma hora a vida volta para o seu eixo – que digam as redes socias, e cadê o pedido de desculpas genuíno? Cadê aquela ligação de telefone sincera para contar que a tempestade já passou, me perdoa, vamos retomar de onde paramos?

Eles ainda não vieram, pelo menos não pra mim. E eu tenho que perdoar, ser boazinha, jura?

Sinto em confessar que minha dose de acolhimento acabou nessa retinha final de fim de ano. Estou mais para analista de bagé do que para Michelle Obama, porque infelizmente percebi que algumas pessoas passaram a usar a crise de estresse como muleta para serem mal-educados e indiferentes aos outros.

É preciso saber dizer não, com convicção, sem culpa e sem medo. Espero que meu desabafo, de alguma maneira, possa trazer reflexão para quem viveu algo parecido.

Até 2023, turma!

Foto: @clebergonn

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