Psicodélicos na medicina: uma viagem diferente

Painel “To trip or not to trip”, no SXSW 2023, trouxe uma importante reflexão sobre o preconceito e as oportunidades dos ativos para o bem estar de pacientes

O poder (assim como as possibilidades por trás) dos psicodélicos é definitivamente um tema quente no SXSW 2023. Em uma das tantas palestras sobre o tópico, um grupo robusto de cientistas e especialistas se uniu para discutir como a “viagem” que eles promovem nas nossas mentes podem ter benefícios muito além do recreativo – principalmente na nossa saúde, tanto física quanto psicológica.

É interessante, antes de tudo, entender como os psicodélicos funcionam. De forma bem básica, como explicou David E. Nichols, farmacologista, PhD e professor emérito da Purdue University, eles agem principalmente no córtex central do cérebro, conectados à serotonina. Em diferentes níveis, tais substâncias podem impactar diferentes sentidos, aumentando nossa sensibilidade e, com isso, potencializando ou suprimindo diversas reações, mudando os níveis de respostas de nossos receptores. Isso pode gerar desde uma super audição a um estado alterado de consciência – tudo temporariamente, mas em período que também varia de acordo com as substâncias e quantidades.

Apesar do nome convidativo, “To trip  or not to trip”, as “viagens” propostas pelo seminário estavam muito focadas no acesso e nos benefícios para pacientes de diferentes enfermidades. A principal questão passa pelo ruído da utilização das substâncias, o preconceito por trás do termo e, acima de tudo, o custo e a falta de oportunidade de acesso para quem não tem um bom plano de saúde ou dinheiro suficiente para pagar a conta do hospital – lembra que nos Estados Unidos não tem SUS, né?

Um dos grandes benefícios em relação aos psicodélicos está no impacto que eles podem causar no corpo. Tratamentos com substâncias desse tipo vêm se mostrando efetivos para uma série de doenças crônicas e comuns, com muito menos contraindicações que as melhores opções do mercado.

“Descobrimos que os psicodélicos têm uma grande força anti-inflamatória. Estamos falando de asma, artrite, doenças cardíacas e tantas outras do dia a dia, uma vez que as células de serotonina estão por todo o corpo. Se pensarmos quantas pessoas no mundo sofrem de doenças inflamatórias, imagine o potencial que trata-las assim. Além disso, os testes indicam que os psicodélicos não costumam gerar demais efeitos no sistema imunológico, como acontece com esteroides e outras medicações. É um mercado extremamente promissor”, enfatizou Charles Nichols, PhD e professor da LSU Health Sciences Center.

Os tratamentos também têm uma enorme força quando ajudam a controlar questões mentais. E, segundo os especialistas, não se trata apenas de doenças ligadas ao cérebro, mas depressão e descontroles psicológicos que impactam indiretamente nas ações fundamentais em relação ao processo.

“Muitos pacientes, ao tomar psicodélicos, transformam medo, receio e dor em excitação. Eles passam a encarar seus traumas de forma diferente, e isso ajuda a gerar um novo comportamento. A raiva às vezes está protegendo uma vulnerabilidade, mas atrapalha nas decisões ou na perspectiva de melhora. Tratar isso com tais substâncias facilita no processo psicológico de aceitação, levando a uma forma mais clara e menos defensiva de raciocínio sobre sua condição”, explicou Rachel Yehuda, professora do Psychiatry & Neuroscience Center para pesquisas de trauma e psicoterapia psicodélica.

“Não acredito que haverá uma pílula um dia que tomemos e perderemos o medo da morte, ou curar câncer instantaneamente. Mas a perspectiva que alguns psicodélicos podem gerar são muito poderosos e chegam a retomar o estado de consciência de pessoas que já haviam a perdido”, completou David E. Nichols.

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