“Air”, a trama que levou Michael Jordan à Nike, estreia no SXSW 2023

Misturando drama e comédia, filme traz recorte de um dos maiores influenciadores da cultura dos sneakers no mundo

Se a cultura dos sneakers é do tamanho que é hoje, movimentando anualmente US$ 95,2 bilhões* (cerca de R$ 500 bilhões) e tendo até um índice próprio de valorização dentro da comunidade mais engajada, essa evolução certamente passou pelo lançamento do primeiro Air Jordan, em 1984. A parceria entre Nike e Michael Jordan, um ainda jovem e promissor atleta recém-chegado à NBA, ainda sem títulos ou fama internacional, foi um dos principais fatores para levar essa categoria de calçados das quadras de basquete para o dia a dia, se tornando um popular lifestyle.

Quem até então não conhecia muito sobre essa história, poderá agora entender como o curioso acerto aconteceu em “Air”, filme que teve sua première global neste sábado (18), na última noite do SXSW 2023 – principal evento de inovação do mundo, com fortes pilares de música e cinema. O evento contou ainda com a presença dos principais astros do longa-metragem, como Matt Damon, Viola Davis e Ben Affleck – que assina a direção da obra.

Apesar de estar longe de uma réplica fiel da realidade, “Air” é razoavelmente fiel aos fatos de como Sonny Vaccaro (Damon) se apaixonou por Jordan e movimentou as principais estruturas da Nike – especialmente o CEO Phil Knight (Affleck) – para traçar o maior contrato da história da companhia em relação a um único atleta, mesmo sendo ainda apenas uma promessa. Sem qualquer pudor, o filme cita abertamente as marcas e seus executivos, revelando a predileção do astro da NBA pela Adidas e o domínio da Converse em relação ao esporte, bem como as peculiaridades de cada um deles.

Na trama, Vaccaro briga para convencer todo o time envolvido, do marketing ao board da Nike, para investir toda a verba disponível e trazer abordo um Jordan que declarava abertamente seu desgosto sobre a marca. O principal conflito, porém, está na tentativa de convencimento em acessar o atleta e seus pais, Deloris (Viola Davis) e James (Julius Tennon), que eram os principais responsáveis pela gestão da carreira do filho.

Romantizando a criação do Air Jordan, que seria apresentado à família como grande diferencial para convencê-los a assinar com a Nike, “Air” não decepciona como roteiro, apesar de se fixar em um recorte muito específico e curto da história. O filme, porém, aplica uma veia cômica muitas vezes destoante da linha geral, pesando a mão na caricatura de alguns personagens – especialmente em Knight, o CEO vivido por Affleck, que é pintado como um executivo excêntrico que em alguns momentos parece ser tirado da trilogia de “Austin Powers”.

Em seus momentos mais aspiracionais, porém, o longa é uma boa aula de marketing e empreendedorismo, principalmente pelas mensagens e estratégias sugeridas por Rob Strasser (Jason Bateman) durante o trabalho de criação do sneaker, com destaque para a frase “Um tênis é só um tênis até que alguém o use”. Também um interessante olhar sobre o desenvolvimento de design, assinado por Peter Moore (Matthew Maher), responsável não só pela criação do primeiro modelo do Air Jordan, mas também pelo icônico logo “Jumpman”, inspirado na foto de uma enterrada de Michael, e pelo emblema “Wings”, presente em toda a série de calçados.

O ponto alto, sem dúvida, fica na participação de Viola Davis como a mãe de Jordan. Assim como indicam os fatos, no filme é ela a personagem central que aceitou a insistência de Vaccaro no primeiro contato, convenceu o filho a ouvir a proposta da Nike e bateu o pé pelo melhor e mais justo acordo comercial junto à empresa – e que ajudou a transformar toda a base legal de acordos em direitos esportivos, levando mais benefícios aos atletas e suas famílias. Mais um papel digno de Viola, que como coadjuvante se confunde com os principais.

Faltou um “detalhe”, né? Affleck contou, no papo antes do filme para os presentes no Paramount Theatre em Austin, que uma das grandes dificuldades foi definir quem estrelaria Michael Jordan. Cogitaram até usar o próprio, rejuvenescido pela tecnologia, mas a ideia foi descartada “porque eu não teria verba para trazê-lo”, brincou o ator/diretor no seu speech.

A solução final definitivamente não vai agradar a todos, mas não deixa de ser interessante. Essa, porém, eu não vou dar spoilers, deixando para cada um de vocês tirarem as conclusões ao irem aos cinemas, a partir de 5 de abril. Afinal, um filme é só um filme até que você o assista.

Update Air Poster 2023


*segundo pesquisa da consultoria ReAnIn, lançada em 2022

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