Uma análise semiótica do poster do Pearl Jam Maracanã 2018

A banda Pearl Jam e o poster temático do show no Rio de Janeiro que gerou polêmica.

A semiótica provém da raiz grega ‘semeion’, que denota signo. Assim, desta mesma fonte, temos ‘semeiotiké’, ‘a arte dos sinais’.

A semiótica é o estudo dos signos, qualquer elemento que possa significar ou ter sentido. Isso envolve linguagem verbal e não-verbal. Busca entender como nós conseguimos compreender os significados que atribuímos a tudo que está ao nosso redor. pjposter

A semiótica, neste sentido, aparece como uma ciência do funcionamento do pensamento, destinada a explicar como é que o ser humano interpreta o entorno/ambiente envolvente, cria conhecimento e partilha o mesmo.”

Um signo pode significar muito para alguns, e nada para outros.

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Dia 21/03/2018, para seu show no Rio de Janeiro, a banda Pearl Jam, como de costume, lançou um poster temático, que gerou polêmica. Acredito que seja interessante tentar observá-lo através da semiótica, afinal, existe muita coisa acontecendo ali.

Quero deixar clara que essa análise é pessoal, e que gostaria muito de ter outros pontos de vista que ajudem a elucidar essa imagem emblemática.

Primeira coisa que me chamou a atenção é a ausência de cores quentes. As cores quentes ja foram um símbolo direto da cidade do Rio de Janeiro, principalmente quando visto por um estrangeiro. Carnaval, futebol, e caipirinha. Uma imagem que o Brasil se esforçou por anos para criar no imaginário turístico mundial.

Hoje o Brasil está na boca do mundo, não por suas belezas, música, arte.

Essas cores usadas, tons terrosos mistos de marrom, ocre e amarelo, criam um aspecto melancólico, um ar seco, quase desértico, como vemos em filmes pós apocalípticos como o Mad Max. Mas existe uma certa claridade nos tons mais amarelos, mostrando que ainda há esperança.

Na frente, temos os pássaros, em primeiro plano, um tucano, logo após um papagaio e um terceiro mais ao fundo, que não tenho certeza da espécie. Muito está acontecendo nessas 3 imagens.

Primeiro achei que eles estavam envoltos por uma granada. Mas acredito que não seja isso, parece mais um jarro, um pote de barro que tem a função principal de tolher sua melhor capacidade, que é voar.

Isso me vem a cabeça pelo conhecimento da letra da música Given to Fly, do albúm Yield.

Arms wide open with the sea as his floor
Oh power oh
He’s flying
Whole
High wide, oh

He floated back down ‘cause he wanted to share
His key to the locks on the chains he saw everywhere
But first he was stripped and then he was stabbed
By faceless men, well, fuckers
He still stands

 

Suas asas foram substituídas outra coisa, por armas.

Agora chego à parte que, pelo menos para mim, foi a mais enigmática e forte. O fato das aves atirarem pelo bico.

Essa corda em seus bicos, que simulam que pela boca se puxa o gatilho. Demonstra a força da palavra, a possibilidade da destruição que a palavra pode gerar. Ilustra totalmente essa fase que passamos onde discursos de ódio se alastram e atingem cada vez mais as pessoas. As pessoas, muitas sem maldade, mas que, por falta de conhecimento, acabam passando esses discursos para frente. Criando reais exércitos com metralhadoras de palavras de ódio, preconceito, racismo e difamação. Essas palavras/balas  são disparadas para todos os lados e acabam ferindo muita gente.

Claro, que, simbolicamente, as armas também são reais, retratam a violência. Esse signo é direito e forte, fuzis apontados para as favelas. A espada na bainha do tucano, é um signo claro para o exército, que possui esse elemento em sua marca.

O artista responsável por essa polêmica preciosidade é o Ravi Amar, que tem um trabalho muito conceitual e interessante, e que vale a pena dar uma boa olhada.

Fecho com a música nova do Pearl Jam, Can Deny Me, presta atenção na letra ;)

 

 

 

 

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